LANDINHO
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"Estive orando..."
Essa foi a frase que me veio à
cabeça ao abrir o velho álbum de fotografias da igreja de minha
juventude.
- "Quem é ele, papai?"
- "Bem, meu filho, ele já não está
mais entre nós, ele foi morar com Jesus, no Céu. Ele era o irmão Landinho, um
irmão muito especial."
- "Especial, papai? Por
que?"
- "Bem, meu filho, o
irmão Landinho gostava de falar com Deus, e Deus gostava de atender às suas
orações..."
Enquanto conversava
com meu filho, a imaginação soltou-se e eu fui flutuando pelo tempo, até os meus
dias da juventude. Lá estava o irmão Landinho, sério e meigo, junto com a
família. Não perdia um culto, não falhava na Escola Bíblica Dominical, nunca
passara uma semana sem levar um macinho de folhetos evangelísticos para dar às
pessoas que encontrasse na rua, no ônibus ou no mercado. Ele era muito estimado
por todos nós. Gostávamos de ouvir os seus conselhos e almoçar em sua casa nos
dias de domingo. Nunca o vimos bravo ou rancoroso com quem quer que fosse. Era
um conselheiro, um pai, um amigo.
O irmão Landinho tinha
algo muito especial, que fazia dele um ser único: ele orava. Sim, muita gente ora; eu oro, nós oramos, mas a
oração daquele homem era especial. Não era como a nossa, esporádica e formal.
Era uma oração diferente, prioritária e profunda. O irmão Landinho era chamado
quando tudo o mais havia falhado. Até o pastor recorria a ele nas horas de
aflição! Ele era uma espécie de "pronto-socorro da última hora". E
funcionava!
Todos nós conhecíamos
o livramento que Deus dera à sua pequena Sheila, de apenas 16 anos. Tempo de
revolução sexual, década de 60, a menina envolveu-se com uns rapazes
motociclistas, que desafiaram Landinho à porta de casa: "Aí, coroa, dentro da
sua casa manda você, mas lá fora mandamos nós, morou?" A menina engraçara-se com
eles, e, por mais que os pais falassem que era perigoso andar com más
companhias, ela estava encantada, ludibriada, quase caindo em
pecado.
Foi quando Landinho
disse: "Filha, eu orarei por você". Só isso. Mais nada. Entrou em seu quarto,
trancou a porta, disse para a esposa não incomodá-lo, e ajoelhou-se. Falou ao
Pai: "Senhor, tu disseste em Tua Palavra: 'clama a mim e eu te responderei'. Eu
estou clamando pela filha que me deste! Livra-a das mãos malignas, ó Deus!..."
E chorou. Naquela noite os rapazes não vieram buscá-la para os passeios noturnos
na cidade. Sheila ficou preocupada. Às 23 horas as amigas da escola ligaram para
ela, dizendo: "Sheila, mataram os nossos amigos! Eles se envolveram numa briga e
foram esfaqueados! " Sheila bateu à porta do quarto de Landinho, aos prantos,
arrependida, pedindo perdão. Landinho, em lágrimas, orou pela filha. Essa
história propagou-se, e a oração de Landinho passou a ser desejada e temida:
desejada por quem precisava, e temida por quem devia algo.
E funcionava! Uma vez
a prefeitura resolvera passar uma avenida bem em cima do templo da igreja, e por
mais que o advogado tentasse resolver a questão, nada derrubava a decisão
judicial. Foi quando o pastor resolveu chamar o Landinho. "Meu irmão, não sei o
que fazer!" Landinho, com ar meigo e humilde, disse: "Oremos, pastor!" E oraram,
de joelhos, no gabinete pastoral. Após a prece, Landinho abraçou o pastor e
disse: "Vamos esperar pelo melhor, pastor. Deus já nos ouviu!". Dois dias depois
o projeto da avenida foi abandonado pela prefeitura, pois surgiram denúncias de
irregularidades no processo, e o problema resolveu-se.
E no Dia da Bíblia? A
praça central foi requisitada, instalaram-se tablados, contratara-se som, tudo
foi planejado para um grande culto. A praça estava cheia de gente, muitos
aguardavam com curiosidade o início dos trabalhos. De repente uma tempestade
avançou pela cidade, com ventos, granizo, aguaceiro, e estava chegando para a
praça. Os irmãos viram a multidão dispersar-se temeram: "Oh, Deus, tenha
misericórdia! Gastamos uma fortuna nisso, e o povo está indo embora!" Um jovem
gritou lá no meio dos equipamentos: "Peçam pro Landinho orar!" Isso mesmo! Mas,
onde estava ele? Encontraram-no atrás do palco, de joelhos, pedindo ao Senhor
que desviasse a tempestade, porque muitos estavam perdidos e precisavam de
Cristo naquela tarde. De repente, sem que as pessoas compreendessem, a
tempestade formou uma clareira sem chuva, bem na praça, onde só sentíamos os
respingos da água que caía a uns 300 metros, mas nenhuma gota de chuva caía na
praça. Foi quando o pastor, aproveitando a chance, afirmou, cheio do Espírito
Santo: "Estão vendo, senhoras e senhores? Esse é o Deus da Bíblia, a quem
pregamos e servimos! Entreguem-se hoje a ele!" Uma pequena multidão, em
lágrimas, aceitou a Cristo. Vários membros da igreja são fruto daquela tarde da
Bíblia.
- "O senhor gostava
dele, né, papai? Por que o senhor fala dele com tanto carinho?"
- "Sabe, meu filho,
através do irmão Landinho eu ganhei dois presentes de Deus. Uma moça muito
bonita era membro da igreja, mas estava namorando um rapaz rico e não crente. Eu
a amava, mas ela não queria saber de mim. Então eu fui almoçar na casa do irmão
Landinho. Ele olhou para mim, sorriu e me perguntou se eu sentia algo por ela.
Eu fiquei encabulado, e ele disse que não precisava responder. Depois,
completou: 'estive orando...'. Meu filho, eu senti as minhas pernas
estremecerem, porque alguma coisa iria acontecer".
- "E aconteceu, pai?"
- "Ah, garoto, com certeza! Eu me
casei com ela! É a sua mamãe!"
- "Nooossa! Que legal! Mas, e a
outra coisa, papai?"
- "A outra bênção é
você, meu filho: mamãe não podia ter filhos. Nós sonhávamos com você, mas era
impossível. Nenhum tratamento na época nos daria um filho. Foi quando Landinho
ligou pra nossa casa, sem saber de nosso desespero, e disse: 'Estive orando
nesta tarde por um filho para vocês'. Nós sentimos uma alegria tão grande! E
dois meses depois descobrimos que Deus iria nos dar você. Sabe, garoto, Landinho
pegou você no colo primeiro do que eu - eu fiz questão disso".
Nós dois choramos
juntos, eu e o meu filho. Minha esposa, fazendo bolinhos de chuva lá na cozinha,
deixou por um pouco a panela e veio nos dizer: "Eu amo vocês!"
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Ah, meu Deus, que falta nos fazem os
Landinhos! Senhor, dá-nos outros que orem assim também!
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas, Osasco, SP
bnovas@uol.com.br
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