terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

memórias literárias - 314 - AS MARMITAS DE MAMÃE




 

 

 
AS MARMITAS
DE MAMÃE
314
 
A nossa mente é inacreditável. Tentava eu, deitado em minha cama, conciliar as memórias do dia ao sono necessário. Enquanto ponderava em diversos pensamentos, lembrei-me supreendentemente de marmitas. Sim, marmitas!
 
Eu trabalhava na Universidade de São Paulo, no Instituto de Eletrotécnica e Energia. Tínhamos um restaurante de "bandejão", disponível aos funcionários por um preço bem pequeno. Porém minha mãe, ELZIRA BONFANTE, sempre amorosa, preparava-me uma marmita. Ela a condicionava num invólucro de isopor, térmico, que conservava o calor durante grande parte do dia. Eu saia às 7 e 30 da manhã para o trabalho. Minha marmita já estava pronta. Mamãe levantava-se às 5 e 30, fazia o café e preparava o meu almoço.
 
Todos os dias eu desfrutava de uma comida caseira e saborosa. Quase sempre havia arroz com feijão, a base alimentar do brasileiro. Mas sempre duas misturas (mistura é o termo que se usa em SP ou Minas para designar-se o que acompanha os dois cereais). Num dos dias era ovo com bife. Noutro, linguiça com queijo. Havia também panqueca. Às vezes torresmo e mortadela frita. Tinha também macarrão, bife à milanesa e salaminho com omelete. Lembro-me de mamãe às 6 e 30, com o fogão aceso, cheiro de comida no ar, enquanto eu levantava, fazia a toalete e preparava-me para trabalhar. Depois do trabalho da manhã, retirava-me ao meio dia para o almoço. Como ia de fusca, saía do estacionamento do IEE e procurava o estacionamento vazio de alguma faculdade, debaixo de uma árvore frondosa. Ali no banco de trás do meu fusca comia gostosamente a minha marmita, chupava a minha laranja ou comia bananas e maçãs, bebendo o suco que ela sempre adicionava no cantil. Mamãe cuidava de mim!
 
Lembrei-me de quando era auxiliar de saída de dados no BCN SERVEL, no Edifício Andraus, no centro de São Paulo, vários anos antes. Eu ia de ônibus. Mas na minha sacola a minha marmita estava sempre presente. Mamãe a preparava. E quando fui arquivista no Banco Geral do Comércio, quando trabalhava por meio período? Às seis da manhã mamãe já havia preparado o meu bauru (lanche de receita da família, com pão de forma e/ou francês, queijo, tomate, salaminho e presunto). Ela colocava um cantil de leite, dois lanches e eu tinha o meu lanchinho de 15 minutos lá no trabalho.
 
Mães cuidam dos filhos. Mães que não cuidam são uma anomalia, pois está no sangue, na mente, no coração delas. Deus afirma em Sua Palavra: Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. (Is 49:15). Eu contemplo a minha esposa Elaine: ao nascer a minha filha nasceu também uma mãe virtuosa e maravilhosa, que cuida de Rute com tanto cuidado como se fosse a minha própria mãe a cuidar de mim! Mães são dádivas, preciosidades. Benditos aqueles que tiveram o privilégio de ter uma mãe, seja biológica ou do coração!
 
A minha foi amorosa e cuidadosa. Cuidou de mim. Cuidou de minha roupa. Cuidou de minha comida. Cuidou dos meus remédios. Cuidou o quanto pôde. Lembro-me quando ela envelheceu, já não podia mais levantar-se para preparar o café, pois as pernas não a ajudavam mais. Então Milú, essa dádiva que Deus nos deu, passou a fazer o café em seu lugar; logo assumiu também o fogão para as refeições. Mas mamãe foi cuidadora o quanto pôde e só não fez mais porque o corpo não ajudou. Bendito seja Deus por esta mãe maravilhosa.
 
Tais pensamentos me trouxeram, além da gratidão, uma grande tristeza.
 
Conquanto eu tenha procurado fazer o possível e o impossível por ela, NUNCA a agradeci pelas marmitas que me fez! Oh, meu Deus, como me arrependo! Como eu gostaria de dizer a ela o quanto fui grato pela comida boa e amorosa que ela sempre me ofereceu! Como eu gostaria de beijar aquelas mãos calejadas, mãos com cicatrizes de queimaduras do fogão, braços marcados por tantas e tantas dificuldades, que nunca mediram esforços para cuidar de mim! Como eu gostaria de ter dito o quanto fui grato! Sim, eu disse genericamente, eu cuidei dela até o fim, estive do seu lado e dizia o tempo todo o quanto a amava, mas nunca mencionei as marmitas! Que Deus perdoe o meu pecado e que eu valorize a cada dia cada marmita que ela me preparou!
 
Meu prezado leitor, já agradeceu a Deus pelas marmitas que sua mãe lhe preparou? Já agradeceu pelas roupas que ela lavou, passou, pelos cuidados que teve com você por tantos anos? Não? Então agradeça!
 
Mas vá além, se caso ainda tiver a sua mamãe viva (que privilégio!) Procure-a e beije-a, dizendo o quanto é grato pelas marmitas que ela lhe preparou, o quanto é grato pelas roupas que ela passou, pelos remédios que lhe deu, pelas fraldas que lhe trocou, pelos banhos que lhe aplicou, pelas vacinas que lhe administrou, pelas noites de sono que perdeu ao seu lado. Eu tenho certeza que, além delas, o próprio leitor se sentirá feliz, pois a gratidão é um remédio para a alma e um estímulo para o coração. Agradeça à sua mãe ou a quem cuidou de você durante tantos anos e em tantas fases!
 
"Senhor, eu não posso agradecer à minha mãe pelas marmitas; ela já se foi e, com ela, um pedaço enorme do meu coração... Mas, Senhor, quero agradecer-Te por cada marmita que mamãe preparou para mim. Muito obrigado! Perdoe-me por nunca tê-la agradecido nominalmente por esta dádiva, ainda que a tenha agradecido por tantas outras; mas ajuda-me a ser grato e a expressar tal gratidão por cada bênção recebida sempre! Obrigado pela mãe que eu tive, que tenho aí no Céu, e que está salva pelo sangue de Cristo. Obrigado por cada marmita. Em nome de Jesus, amém"
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapícuíba, São Paulo, Brasil
whatsapp +5511-996998633
09/02/2016


Nenhum comentário:

Postar um comentário

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...