AS MARMITAS
DE
MAMÃE
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A nossa
mente é inacreditável. Tentava eu, deitado em minha cama, conciliar as memórias
do dia ao sono necessário. Enquanto ponderava em diversos pensamentos,
lembrei-me supreendentemente de marmitas. Sim,
marmitas!
Eu
trabalhava na Universidade de São Paulo, no Instituto de Eletrotécnica e
Energia. Tínhamos um restaurante de "bandejão", disponível aos funcionários por
um preço bem pequeno. Porém minha mãe, ELZIRA BONFANTE, sempre amorosa,
preparava-me uma marmita. Ela a condicionava num invólucro de isopor, térmico,
que conservava o calor durante grande parte do dia. Eu saia às 7 e 30 da manhã
para o trabalho. Minha marmita já estava pronta. Mamãe levantava-se às 5 e 30,
fazia o café e preparava o meu almoço.
Todos os
dias eu desfrutava de uma comida caseira e saborosa. Quase sempre havia arroz
com feijão, a base alimentar do brasileiro. Mas sempre duas misturas (mistura é
o termo que se usa em SP ou Minas para designar-se o que acompanha os dois
cereais). Num dos dias era ovo com bife. Noutro, linguiça com queijo. Havia
também panqueca. Às vezes torresmo e mortadela frita. Tinha também macarrão,
bife à milanesa e salaminho com omelete. Lembro-me de mamãe às 6 e 30, com o
fogão aceso, cheiro de comida no ar, enquanto eu levantava, fazia a toalete e
preparava-me para trabalhar. Depois do trabalho da manhã, retirava-me ao meio
dia para o almoço. Como ia de fusca, saía do estacionamento do IEE e procurava o
estacionamento vazio de alguma faculdade, debaixo de uma árvore frondosa. Ali no
banco de trás do meu fusca comia gostosamente a minha marmita, chupava a minha
laranja ou comia bananas e maçãs, bebendo o suco que ela sempre adicionava no
cantil. Mamãe cuidava de mim!
Lembrei-me de quando era auxiliar de saída de dados no
BCN SERVEL, no Edifício Andraus, no centro de São Paulo, vários anos antes. Eu
ia de ônibus. Mas na minha sacola a minha marmita estava sempre presente. Mamãe
a preparava. E quando fui arquivista no Banco Geral do Comércio, quando
trabalhava por meio período? Às seis da manhã mamãe já havia preparado o meu
bauru (lanche de receita da família, com pão de forma e/ou francês, queijo,
tomate, salaminho e presunto). Ela colocava um cantil de leite, dois lanches e
eu tinha o meu lanchinho de 15 minutos lá no
trabalho.
Mães
cuidam dos filhos. Mães que não cuidam são uma anomalia, pois está no sangue, na
mente, no coração delas. Deus afirma em Sua Palavra: Porventura pode uma mulher
esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do
seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei
de ti. (Is 49:15). Eu contemplo a minha esposa Elaine: ao nascer a minha filha
nasceu também uma mãe virtuosa e maravilhosa, que cuida de Rute com tanto
cuidado como se fosse a minha própria mãe a cuidar de mim! Mães são dádivas,
preciosidades. Benditos aqueles que tiveram o privilégio de ter uma mãe, seja
biológica ou do coração!
A minha
foi amorosa e cuidadosa. Cuidou de mim. Cuidou de minha roupa. Cuidou de minha
comida. Cuidou dos meus remédios. Cuidou o quanto pôde. Lembro-me quando ela
envelheceu, já não podia mais levantar-se para preparar o café, pois as pernas
não a ajudavam mais. Então Milú, essa dádiva que Deus nos deu, passou a fazer o
café em seu lugar; logo assumiu também o fogão para as refeições. Mas mamãe foi
cuidadora o quanto pôde e só não fez mais porque o corpo não ajudou. Bendito
seja Deus por esta mãe maravilhosa.
Tais
pensamentos me trouxeram, além da gratidão, uma grande
tristeza.
Conquanto
eu tenha procurado fazer o possível e o impossível por ela, NUNCA a agradeci
pelas marmitas que me fez! Oh, meu Deus, como me arrependo! Como eu gostaria de
dizer a ela o quanto fui grato pela comida boa e amorosa que ela sempre me
ofereceu! Como eu gostaria de beijar aquelas mãos calejadas, mãos com cicatrizes
de queimaduras do fogão, braços marcados por tantas e tantas dificuldades, que
nunca mediram esforços para cuidar de mim! Como eu gostaria de ter dito o quanto
fui grato! Sim, eu disse genericamente, eu cuidei dela até o fim, estive do seu
lado e dizia o tempo todo o quanto a amava, mas nunca mencionei as marmitas! Que
Deus perdoe o meu pecado e que eu valorize a cada dia cada marmita que ela me
preparou!
Meu
prezado leitor, já agradeceu a Deus pelas marmitas que sua mãe lhe preparou? Já
agradeceu pelas roupas que ela lavou, passou, pelos cuidados que teve com você
por tantos anos? Não? Então agradeça!
Mas vá
além, se caso ainda tiver a sua mamãe viva (que privilégio!) Procure-a e
beije-a, dizendo o quanto é grato pelas marmitas que ela lhe preparou, o quanto
é grato pelas roupas que ela passou, pelos remédios que lhe deu, pelas fraldas
que lhe trocou, pelos banhos que lhe aplicou, pelas vacinas que lhe administrou,
pelas noites de sono que perdeu ao seu lado. Eu tenho certeza que, além delas, o
próprio leitor se sentirá feliz, pois a gratidão é um remédio para a alma e um
estímulo para o coração. Agradeça à sua mãe ou a quem cuidou de você durante
tantos anos e em tantas fases!
"Senhor,
eu não posso agradecer à minha mãe pelas marmitas; ela já se foi e, com ela, um
pedaço enorme do meu coração... Mas, Senhor, quero agradecer-Te por cada marmita
que mamãe preparou para mim. Muito obrigado! Perdoe-me por nunca tê-la
agradecido nominalmente por esta dádiva, ainda que a tenha agradecido por tantas
outras; mas ajuda-me a ser grato e a expressar tal gratidão por cada bênção
recebida sempre! Obrigado pela mãe que eu tive, que tenho aí no Céu, e que está
salva pelo sangue de Cristo. Obrigado por cada marmita. Em nome de Jesus,
amém"
Pr. Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas
Novas do Rodoanel em Carapícuíba, São Paulo, Brasil
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09/02/2016
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