FIM DO
CULTO
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A igreja
prestara um abençoado culto ao Senhor. Louvara-O com belos hinos. Clamara-Lhe
com redobrada fé. Edificara-se com poderosa mensagem bíblica. Emocionara-se com
o apelo à mudança de atitude. Por fim, alegrara-se numa atmosfera celeste em
plena Terra.
Despedem-se
do pastor à porta da igreja. Abraços, sorrisos, apertos de mão, doces para as
crianças. O povo segue para o salão social. Imagina-se o clima maravilhosamente
espiritual da congregação após tamanho banquete.
Escutemo-los
nas conversas informais, entre o sadio convívio e a mesa farta de pães e
café:
- Rapaz,
como trabalhei nesta semana! A crise não dá trégua, se eu não dobrar o ritmo
perco o emprego!
- É, meu
amigo, precisamos de oportunidades melhores!
- Você
viu a final do campeonato à tarde? Que gol fantástico! E o juiz queria marcar
impedimento!
- Ah, foi
esperto de não marcar, senão iria tomar uma surra
daquelas!
- Maria,
consegui finalmente fazer o pudim de pão! Juntei os que sobraram da semana,
derreti no leite, incluí açúcar, farinha, manteiga e ovo, e pus ao forno. Gente,
que delícia que ficou!
- Ah,
Anabela, por que não me trouxe um pedaço? Agora estou com água na
boca!
- Que
bandidos esses políticos! Não satisfeitos com o que já nos roubaram, ainda
diminuiram a idade da aposentadoria! Estragaram os meus
planos!
- Mas
deixa estar, Pedro, esse governo cairá logo; o povo não deixará
barato!
- E aí,
Tiago, conseguiu se abrir para a Cíntia? Ou vai continuar com esse amor
platônico?
- Que
nada, Lúcio! Falta-me coragem! Estou estudando uma forma melhor de
fazê-lo!
- Veja se
eu estou certa: o Juvenal não quer comprar aquele jogo de sofá para a nossa
sala; então eu ando emburrada o tempo todo; será que ele vai perceber,
amiga?
-
Clarinha, Clarinha, eu, se fosse você, o mandaria dormir no sofá velho, só para
que percebesse que não dá mais para aguentar aquela
porcaria!
-
Escondeu direito aquele pendrive, Márcio? Se o pai descobrir, estaremos
fritos!
- Claro,
Paulo! Mas pensa bem: será que o pai nunca foi jovem também? Ele iria entender!
Afinal, as morenas são demais!
E assim
seguiram-se os quarenta minutos de sociabilidade, de convívio. Entre os comes e
bebes, entre sorrisos e abraços, muita prosa, muita conversa. Mas nem sinal das
coisas vividas e testemunhadas ao longo do culto. Parece que todos despiram-se
da capa religiosa utilizada há pouco, mostrando, enfim, que a Palavra e a
Presença não eram permanentes em si próprios, mas apenas uma arte, uma peça
teatral, um fingimento gostoso, necessário, enfadonho por vezes, e socialmente
aceitável. Só isso. Nada mais.
Este é o retrato do chamado
"povo de Deus" espalhado por nossas igrejas. Este é o retrato do fim dos cultos
em nossas congregações, com raríssimas exceções. O que Deus diria sobre
isso?
Este povo se aproxima de mim com a
sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. (Mt
15:8)
Homens de dura cerviz, e
incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim
vós sois como vossos pais. (At 7:51)
Porque, como está escrito, o nome
de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós. (Rm
2:24)
E viu o SENHOR que a maldade do
homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de
seu coração era só má continuamente. (Gn 6:5)
O sonho de todo pastor
verdadeiramente crente é que a sua congregação não preste culto apenas durante
as celebrações, mas, e principalmente, na continuidade do tempo, nos encontros,
nas casas, no trabalho, na escola, nas sociabilidades após o culto. Como é bom
flagrarmos alguém a falar das coisas do Senhor! Infelizmente, quão raro é isto!
O desejo dos ministros do evangelho é que a Palavra de Deus, ricamente semeada,
produza fruto que mude o coração, o pensamento, a boca e o comportamento. E não
será temerário dizer que é o que o Espírito de Deus também espera de todos nós,
que professamos a fé em Cristo Jesus.
Raça de víboras, como podeis vós
dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso
fala a boca. (Mt 12:34)
Porque o que semeia na sua carne,
da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará
a vida eterna. (Gl 6:8)
Oh, Deus, reaviva as tuas igrejas
e o teu povo, a começar de nós! Que o culto venha da alma, que seja permanente,
que produza fruto duradouro! Que, ao final dos cultos, os crentes falem do
Senhor, que lhes enche o coração! E que seja normal celebrar a fé na
informalidade das conversas! Amém!
Wagner Antonio de
Araújo
25/05/2016
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