quarta-feira, 25 de maio de 2016

memórias literárias - 337 - FIM DO CULTO


 
FIM DO CULTO
337
A igreja prestara um abençoado culto ao Senhor. Louvara-O com belos hinos. Clamara-Lhe com redobrada fé. Edificara-se com poderosa mensagem bíblica. Emocionara-se com o apelo à mudança de atitude. Por fim, alegrara-se numa atmosfera celeste em plena Terra.
 
Despedem-se do pastor à porta da igreja. Abraços, sorrisos, apertos de mão, doces para as crianças. O povo segue para o salão social. Imagina-se o clima maravilhosamente espiritual da congregação após tamanho banquete.
 
Escutemo-los nas conversas informais, entre o sadio convívio e a mesa farta de pães e café:
 
- Rapaz, como trabalhei nesta semana! A crise não dá trégua, se eu não dobrar o ritmo perco o emprego!
- É, meu amigo, precisamos de oportunidades melhores!
 
- Você viu a final do campeonato à tarde? Que gol fantástico! E o juiz queria marcar impedimento!
- Ah, foi esperto de não marcar, senão iria tomar uma surra daquelas!
 
- Maria, consegui finalmente fazer o pudim de pão! Juntei os que sobraram da semana, derreti no leite, incluí açúcar, farinha, manteiga e ovo, e pus ao forno. Gente, que delícia que ficou!
- Ah, Anabela, por que não me  trouxe um pedaço? Agora estou com água na boca!
 
- Que bandidos esses políticos! Não satisfeitos com o que já nos roubaram, ainda diminuiram a idade da aposentadoria! Estragaram os meus planos!
- Mas deixa estar, Pedro, esse governo cairá logo; o povo não deixará barato!
 
- E aí, Tiago, conseguiu se abrir para a Cíntia? Ou vai continuar com esse amor platônico?
- Que nada, Lúcio! Falta-me coragem! Estou estudando uma forma melhor de fazê-lo!
 
- Veja se eu estou certa: o Juvenal não quer comprar aquele jogo de sofá para a nossa sala; então eu ando emburrada o tempo todo; será que ele vai perceber, amiga?
- Clarinha, Clarinha, eu, se fosse você, o mandaria dormir no sofá velho, só para que percebesse que não dá mais para aguentar aquela porcaria!
 
- Escondeu direito aquele pendrive, Márcio? Se o pai descobrir, estaremos fritos!
- Claro, Paulo! Mas pensa bem: será que o pai nunca foi jovem também? Ele iria entender! Afinal, as morenas são demais!
 

E assim seguiram-se os quarenta minutos de sociabilidade, de convívio. Entre os comes e bebes, entre sorrisos e abraços, muita prosa, muita conversa. Mas nem sinal das coisas vividas e testemunhadas ao longo do culto. Parece que todos despiram-se da capa religiosa utilizada há pouco, mostrando, enfim, que a Palavra e a Presença não eram permanentes em si próprios, mas apenas uma arte, uma peça teatral, um fingimento gostoso, necessário, enfadonho por vezes, e socialmente aceitável. Só isso. Nada mais.
 
Este é o retrato do chamado "povo de Deus" espalhado por nossas igrejas. Este é o retrato do fim dos cultos em nossas congregações, com raríssimas exceções. O que Deus diria sobre isso?
 
Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. (Mt 15:8)
 
Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais. (At 7:51)
 
Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós. (Rm 2:24)
 
E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. (Gn 6:5)
 
 
O sonho de todo pastor verdadeiramente crente é que a sua congregação não preste culto apenas durante as celebrações, mas, e principalmente, na continuidade do tempo, nos encontros, nas casas, no trabalho, na escola, nas sociabilidades após o culto. Como é bom flagrarmos alguém a falar das coisas do Senhor! Infelizmente, quão raro é isto! O desejo dos ministros do evangelho é que a Palavra de Deus, ricamente semeada, produza fruto que mude o coração, o pensamento, a boca e o comportamento. E não será temerário dizer que é o que o Espírito de Deus também espera de todos nós, que professamos a fé em Cristo Jesus.
 
Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. (Mt 12:34)
 
Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. (Gl 6:8)
 
Oh, Deus, reaviva as tuas igrejas e o teu povo, a começar de nós! Que o culto venha da alma, que seja permanente, que produza fruto duradouro! Que, ao final dos cultos, os crentes falem do Senhor, que lhes enche o coração! E que seja normal celebrar a fé na informalidade das conversas! Amém!
 
Wagner Antonio de Araújo
25/05/2016

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