sábado, 13 de maio de 2017

memórias literárias - 451 - A ESTÓRIA DE SOLANO


A ESTÓRIA
DE
SOLANO

 
451
 
Solano entrou na igreja como quem não queria nada. Chegou, sentou-se e ouviu os hinos. Gostou. Depois ouviu a pregação. No momento do apelo, entregou-se a Cristo.
 
Sua conversão foi genuína e rápida. Ele foi transformado pelo poder de Deus e em três meses foi batizado. Tornou-se membro da igreja. Trouxe a sua família para assistir. Eles gostaram, ficaram, converteram-se e também foram batizados. Uma família de seis, papai, mamãe e quatro filhos.
 
Mas Solano estava desempregado. Não tivera grande chance para estudar; suas qualificações profissionais eram muito limitadas. Os amigos diziam que ele não iria conseguir nada. Mas ele confiou no Senhor.
 
Fez fichas em todos os lugares disponíveis. Às vezes um ou outro irmão,  ao cumprimentá-lo, deixava dez ou cinquenta reais em sua mão. Ele, constrangido, não queria aceitar. Mas a insistência era grande e ele pegava. Sua esposa fazia artesanato para vender entre as vizinhas. As irmãs da igreja souberam e pediram para que trouxesse ali também, para que, após o culto, pudessem comprar. E assim garantia o leite e o pão das crianças.
 
Enfim, Solano encontrou uma vaga para trabalhar numa empresa de ônibus urbanos. Não era grande coisa. Seria faxineiro da garagem, lavando os ônibus que estacionavam após o expediente. Os colegas eram sizudos e reclamavam das condições e do salário. Solano, no entanto, ao chegar, trouxe uma luz para aquela empresa. Seu período da madrugada tornou-se muito agradável. Os colegas gostavam de ouvi-lo cantarolar os hinos que cantava. Ele o fazia baixinho, mas eles pediam que cantasse mais alto. E assim ia esparramando a mensagem de Cristo. Os ônibus passaram a ser lavados com mais cuidado, pois a paz que ele trouxera fez bem até para a produção. Em quatro meses chamaram-no no escritório. Ofereceram-lhe o serviço de cobrador (trocador).
 
Ele alegrou-se. Aceitou. E tornou-se um cobrador muito querido. Como a sua linha era fixa, conhecia as pessoas que utilizavam-se daquele ônibus. Os idosos, os trabalhadores, as mocinhas chegavam sorrindo, pois ele as recebia com carinho. E sabia o nome de muitas delas! No dia de Natal muitos passageiros trouxeram cartões e presentes para ele e para o motorista. Também pudera: ele pedia ao condutor para esperar a Dona Maria subir, dava um jeitinho para que alguém não ficasse sem a condução por faltar todo o recurso e, assim, conquistou o carinho da comunidade. Foram onze meses. Chamaram-no de novo. Promoveram-no a motorista! Sim, ele fez curso, habilitou-se e tornou-se motorista do próprio ônibus onde cobrava!
 
Dias inesquecíveis. Quando o fechavam no trânsito, ele não xingava. Pelo contrário, acenava e dizia: "Deus lhe abençoe, vá com Deus". Acabava por trazer paz nas ruas e avenidas onde estava. À noite, quando passava na porta da escola, via que muitos adolescentes corriam para pegar o ônibus. Então ele ia bem devagarinho, até que o grupo todo chegasse. A moçada amava o Solano! Ele não era só um motorista, era um amigo.
 
E na empresa ele não gerava ciúmes; pelo contrário, os colegas gostavam dele, porque "quebrava o galho" de muitos, cobrindo folgas, ajudando com horas extras, sendo camarada de todos.
 
Foram três anos. Promoveram-no a fiscal. Agora ele era o encarregado de uma grande turma. Foi o melhor período daquelas linhas. Os motoristas e os cobradores trabalhavam felizes, porque o Solano era humano, era gentil, respeitava a todo mundo. E, enquanto trabalhava, semeava a mensagem que o transformara: Cristo, o Senhor, o Salvador, o Rei dos reis. Solano nem sempre podia estar no domingo na sua igreja, mas, se não estava no domingo, estava na quarta-feira. Ele sempre amara o Dia do Senhor. Como era obrigado a trabalhar em alguns domingos, fazia do dia de sua folga o dia dedicado a Deus. Evangelizava, distribuia folhetos, cantava na igreja e dava conselhos à mocidade.
 
Muitos dos colegas de Solano tornaram-se crentes no Senhor Jesus. Ele comprava bíblias e folhetos e presenteava aos colegas, fora do horário de trabalho. Visitava alguns nas enfermidades, ajudava-os nas necessidades. Mais de quinze colegas tornaram-se crentes.
 
Solano aposentou-se. Seus quatro filhos o homenagearam quando completou oitenta anos. Todos casaram-se e se tornaram pais de família, amorosos e honrados. A esposa ficou doente, mas contou com os cuidados amorosos do esposo Solano com ela.
 
Faz pouco tempo o Senhor o chamou. Ele partiu para o Céu. No seu sepultamento estava quase toda a companhia de ônibus. Também os passageiros que por anos utilizaram-se dos ônibus que ele conduzia. Igualmente muitos motoristas que aprenderam a ter educação no trânsito com ele. Além destes estava a igreja onde congregava, os amigos dos filhos, a família, enfim, centenas de pessoas. E no seu epitáfio cravou-se em concreto a seguinte frase: AQUI AGUARDA A RESSURREIÇÃO O IRMÃO SOLANO, HOMEM QUE VIVEU A FÉ COMO NINGUÉM.
 
Que outros Solanos possam surgir no coração deste Brasil! Que a fé cristã seja vivida e encarnada com tamanha beleza como o foi no peito deste homem!
Wagner Antonio de Araújo
 

(ficção cristã)

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