sexta-feira, 22 de junho de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 02 - UM PAI E TANTO ...


02 - UM PAI E TANTO...

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Era um homem trabalhador. Era natural de Belém, cidadela próxima de Jerusalém. Mas mudara-se para Nazaré, na Galiléia, bem distante, uns cento e trinta quilômetros. Homem honrado, praticava o ofício da carpintaria, através do qual provia o seu sustento. Como todo jovem, queria constituir o seu lar. Seguindo os costumes da época e região, casou-se formalmente com Maria, sendo que aguardaria um tempo até terminar a construção de sua casa e desposá-la. Não era homem que esperava as coisas acontecerem; era um trabalhador honesto e produtivo.


Ele não imaginava o que estava por vir. O Anjo Gabriel anunciara a Maria que seria a mãe do próprio Deus, o Deus-Filho, que se faria carne em seu ventre. E tomou conhecimento da gravidez de sua prima Isabel. Deixou a aldeia e visitou a parenta. Só posteriormente retornou. Qual não foi a surpresa de José, ao contemplá-la grávida! As páginas do Novo Testamento não contam os detalhes, mas podemos imaginá-los: os amigos a olharem com ira para ele, acusando-o de ter adiantado as núpcias; ele, a olhar para a amada, agora grávida de outro homem, pensava. Os pais dela, desesperados, pois com uma acusação de adultério a moça seria apedrejada. Qualquer que fosse o desfecho esse jovem seria o prejudicado. 


Ele tinha bom coração. Por mais que imaginasse um adultério por parte da esposa ainda não desposada, não a queria morta ou infamada. Assumiria o ônus, fazendo de conta que o filho era seu, mas a abandonaria. Com isto ele seria mal falado e ela preservada. Somente um homem honrado e de bom coração não buscaria a vingança por ver a amada grávida sem sua participação. Deus, que conhecia desde a eternidade o caráter deste homem, interpõe-se junto dele e revela-lhe por sonhos que não havia qualquer adultério, que o filho no ventre de sua amada era a encarnação do próprio Messias esperado e que ele fora escolhido para ser o pai. Isso mudaria tudo! Mesmo que fosse mal falado pela aldeia (adiantara-se no convívio), agora poderia enfrentar o ostracismo com a certeza de ser partícipe de algo grandioso.


Mostrou coragem, determinação e profundo cuidado. Diante de um severo decreto governamental, teria que viajar para Belém e ali responder ao alistamento. Estradas difíceis, com montanhas, vales, riachos, frio, falta de suprimento, e talvez um animal apenas para levar a amada. Caminhar, cuidar, zelar, alimentar, e com tão pouco! Só Deus sabe o que aconteceu nessa trajetória. 


Um homem que socorria. Em Belém a esposa sente as contrações. Está prestes a dar à luz. Corre em busca de pousada. Nada encontra. Imagino-o a correr de porta em porta, implorando um aposento. Quando alguém oferece a estrebaria ele nem questiona, não reclama, não discute. Corre com a mulher para lá e ajuda-a no parto. Parto de um filho que não é seu, mas tem certeza de que o filho é do próprio Deus! 


O seu nome era José. Ele não imaginava ser protagonista da maior história de todos os tempos. Ele não fazia idéia de seu papel preponderante na sagrada família. Ele não tinha consciência do privilégio e da responsabilidade que assumia diante da esposa Maria, diante do Filho Jesus e diante de toda a história. Ele foi um pai. Um pai e tanto! Foi dele que Jesus recebeu as primeiras aulas: ensinou-o a falar, a ter higiene, instruiu-o nos primeiros valores bíblicos, ensinou-o a trabalhar com madeira. Fez de Jesus um homem. Foi um pai de família da mais alta envergadura.


E tão pouco falamos dele! Quem já ouviu um sermão sobre José, o pai de Jesus? Talvez uma ou outra vez. Mas ali estava um homem, um judeu, um honrado marido, um pai e tanto! José é um modelo para mim. Homem de nenhuma palavra registrada na Bíblia, homem quase ausente nos registros do Novo Testamento, mas fundamental na formação do caráter honrado, serviçal e educado de Jesus Cristo. Assim como não vemos os alicerces de uma casa, mas são fundamentais para a sua existência, assim foi Jose para com a historia da encarnação de Jesus. 


Que Deus me ajude a ter um caráter como o de José na criação de meus próprios filhos. Que Deus me ajude a ser para eles o que José foi para os seus filhos: um pai e tanto! 


Oh, Deus, muito obrigado por teres feito de José este homem tão valoroso, tão nobre e justo! Obrigado pelo exemplo que deixou! 


Wagner Antonio de Araújo

22/06/2018

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