quarta-feira, 6 de março de 2019

memórias literárias - 776 - OS SALMOS IMPRECATÓRIOS

OS SALMOS IMPRECATÓRIOS

A palavra “imprecação” significa praga, maldição, desejo de que algo ruim aconteça a alguém ou a alguma coisa. Assim, “salmos imprecatórios” são aqueles salmos que desejam o mal para os inimigos do Senhor, para os maus, para os ímpios e para os gentios. Especificamente encontram-se em expressões dos salmos de número 6, 7, 35, 40, 55, 58, 59, 69, 79, 109, 137 e 139.
Algumas expressões contundentes nestes salmos: Ó Deus, quebre-lhes os dentes na boca; felizes os que derem com os seus filhos nas pedras; arranque-lhes as presas de leão, ó Senhor.  Destrua-os em ira, destrua-os para que não existam mais.  Que seus olhos fiquem escurecidos, para que não possam ver, e faça com que seus lombos tremam continuamente.  Que sejam apagados do livro dos vivos e que não possam ser registrados com os justos.  Que brasas vivas caiam sobre eles; que sejam atirados no fogo, em covas profundas das quais não possam sair."
Aqui surgem as questões:
1.    Será que realmente estes textos são inspirados pelo Senhor?
2.    Se são inspirados, como harmonizá-los com a revelação do amor de Deus pela humanidade?
3.    Diante dos ensinos de Jesus Cristo quanto ao amor pelos inimigos, como aceitar que estes textos tenham sido inspirados pelo mesmo Deus?
4.    Podemos usá-los para orar e para desejar o mal aos nossos inimigos?
Essas indagações surgem na mente de todos os crentes, diante do aparente contraste com o restante dos ensinos bíblicos. Teriam esses textos alguma explicação para serem, de fato, expressão da revelação divina? Sim, teriam. Vejamos:
1. A maioria deles foi escrita por Davi, cuja autoridade representava a autoridade de Deus. Logo, os inimigos do rei eram inimigos de Deus também.
2. O objeto dessas imprecações eram os malfeitores, os idólatras, os ímpios, aqueles que eram conduzidos pelos ídolos, que viviam na imoralidade e contra a vontade divina. Tratava-se da indignação contra a impiedade. Eles foram alvo dessas expressões.
3. As imprecações estavam no nível da oração a Deus e não da vingança pessoal. Era a Deus que oravam, que pediam, que suplicavam pela justiça sobre aqueles que deliberadamente transgrediam a vontade do Senhor e que eram maus para homens. O vingador seria o próprio Deus que poderia usar inclusive a homens nesse juízo (Nabucodonozor é chamado de servo de Deus ao executar juízo sobre o próprio Israel).
4. Tratava-se da crua manifestação de indignação contra as atrocidades dos ímpios, similar a que sentimos quando vemos as injustiças e crueldades serem perpetradas sem trégua em quaisquer lugares do mundo.
5. O mal precisava de juízo; a idolatria precisava receber a justa recompensa. A perseguição contra os justos deveria ter a sua paga e isso motivava essas expressões duras, similares às nossas, quando comtemplamos a impiedade contra Cristo.
6. O propósito dessas expressões era a glória de Deus, a defesa da justiça e a condenação da impiedade. Não era o ódio ao inimigo ou ao próximo, mas a indignação contra o mal e o desejo latente e indomável de justiça.  "Não aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem?  E não abomino os que contra ti se levantam?  Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de fato" (139:21-22).
7. A revelação divina nas páginas das Escrituras Sagradas (REVELAÇÃO ESPECIAL) foi PROGRESSIVA. Assim os salmistas ainda não tinham o conceito definitivo sobre um juízo retributivo universal, um “juízo final”, como nós temos atualmente, de posse de toda a revelação especial e escrita de Deus. Eles ansiavam por isso!
8. O Novo Testamento também tem imprecações. Ouçamos Tiago: Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. (Tg 5:1) Logo, não é uma prática pecaminosa.
9. O Deus de Amor, revelado por Jesus, não anulou retribuição do mal. Paulo, em seu discurso sobre o amor, afirma: “o amor não folga com a injustiça, mas folga com a verdade” (I Co 13.6).
10. Jesus foi claro em declarar a condenação da impiedade. “Nunca vos conheci”, “Apartai-vos de mim, vós, que praticais a iniquidade”. Na parábola do rei que não foi obedecido, Cristo afirma: E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim. (Lc 19:27).
11. Jamais o amor de Deus anulou o exercício da justiça contra os Seus inimigos: E ele vos responderá: Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniqüidade. (Lc 13:27)
12. No além, debaixo do altar, as almas dos mártires clamam por justiça: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Ap 6:10)
13.  Assim, quando os salmos falam da recompensa dos ímpios como justiça contra os seus pecados, estão exaltando a santidade do Senhor e provando que haverá um juízo sobre os pecadores. Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. (Ap 19:2)
14.  Quando olhamos os que mentem contra o evangelho, os que propagam o homossexualismo, os que destroem os valores familiares, os governantes que deixam o seu povo à míngua e o oprimem, os assaltantes que matam inocentes, as empresas que soterram cidades com a devastação de suas barragens, os políticos que roubam a nação, os bandidos que seduzem a juventude, os traficantes que escravizam as suas vítimas, os pedófilos que humilham os pequeninos, temos o sentimento inerente à justiça divina: Até quando maquinareis o mal contra um homem? Sereis mortos todos vós, sereis como uma parede encurvada e uma sebe prestes a cair. (Sl 62:3)
15. Podemos orar com os salmos imprecatórios. Podemos pedir como pedem os seus duros dizeres, mas apenas orar e confiar na justiça divina. Quanto aos inimigos, devemos estender para eles as mãos e amá-los, ainda que isto nos custe a própria vida, uma vez que não seremos os executores da vingança. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. (Rm 12:20). Também nos disse o Senhor: Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. (Hb 10:30). Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. (Ef 4:26)
16. É importante que tenhamos discernimento ao lê-la, não cometendo a injustiça de criticar aquilo que nos soa como contradição. Não há contradições; o que há é falta de compreensão.
17.  Agora compreendemos que os salmos imprecatórios são orações ao Senhor pedindo justiça e que os ímpios sejam punidos pela sua afronta contra Deus. Que usemos bem a Palavra do Senhor e que por ela sejamos edificados!
Pr. Wagner Antonio de Araújo

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