22 - E A VIDA CONTINUA
...
ONDE?
Ontem estive no Hospital
São Camilo, de Vila Pompéia, São Paulo, para tomar injeções e tratar-me de
severa infecção. Fiquei sabendo do falecimento do ator Luiz Bacelli, primoroso
ator televisivo-teatral, um dia antes. Esse ator transmitia, em suas atuações,
grande cultura, brilhante interpretação, um ar paternal e fez muitos papéis ao
longo da carreira, especializando-se, ao final, em papéis de cunho espírita
cardecista. O último deles foi um requiém de si próprio, E A VIDA CONTINUA,
filme hoje fartamente divulgado pelos cinemas e pelo TELE-CINE. Ele tratava de
um câncer e teve parada cardíaca. A mídia pouco divulgou, pois talvez, por não
ser um ator de projeção midiática maciça não renderia muitos cliques ou a venda
de muitas manchetes. Apenas noticiou pifiamente o
falecimento.
Esse filme, que assisti
ontem para fins apologéticos, com qualidade questionável em seus diálogos um
tanto artificiais, com mixagem pobre e de roteiro às vezes quebrado, conta uma
estória revelada pelo espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Trata-se de um homem e uma mulher que vão a uma clínica em Itapira para
prepararem-se psicologicamente para a cirurgia de câncer. Ambos esbarram-se na
estrada e sentem conhecer-se há muito tempo. Ela, católica, ele, espírita. No
hospital os vínculos aumentam e ele tenta explicar a ela a teoria cardecista do
espiritismo: o espírito é o carroceiro, o perispírito é o cavalo e o corpo é a
carroça. Quando a carroça quebra o carroceiro monta no cavalo e busca nova
carroça e assim o processo de reencarnação acontece. Ela protesta, mas a
conversa agrada.
Após a cirurgia ambos
acordam no hospital em condições boas, mas aos poucos descobrem-se não na Terra,
mas no Novo Lar, uma plataforma idêntica à Terra, materializada para eles, com
pessoas, construções, hospital, cidade e vida social. Recebem a permissão de
visitar seus familiares na Terra. Para isso vão de "vôo espiritual", um perfeito
avião do além. E no "aeroporto espiritual" terão horário para voltar. Então a
história desvenda-se: o homem descobre-se pai da mulher que traía essa amiga com
o antigo marido; também descobre que ele, o amigo, é o assassino do pai dessa
nova amiga. E ambos descobrem vínculos familiares profundos, onde cada um fez
algum mal profundo para o outro ou para os seus. E vêem que todos precisam se
reconciliar.
Lá na plataforma o
orientador diz algumas coisas importantes:
1) Deus deu ao homem um
livre-arbítrio total e exige que ele cumpra essa sua
capacidade;
2) Os homens escolhem o seu
destino e ao morrerem, se perdidos moralmente, vão para essa plataforma mas
ficam do lado de fora, numa materialização horrenda de escuridão, trevas,
solidão e dificuldades. Os que vão para o lugar melhor fazem incursões para
tentar ajudar os sofredores e às vezes conseguem resgatar alguma alma
penada.
3) Os homens reencarnam
para poder evoluir em sua vida moral e em seu crescimento interior. No caso do
filme, o homem que foi morto reencarna como filho do jovem que o matou; a mulher
que gostava do homem velho assassinado pelo amigo reencarna e será esposa dele
na próxima encarnação. E assim os espíritos ficam concentrados numa mesma
família.
4) As plataformas
espirituais concentram pessoas de uma mesma região. No filme todos eram
paulistas. Subentende-se que há plataformas para nordestinos, para ingleses,
africanos, e assim o planeta está repleto por milhares de mundos intermediários.
5) No final todos poderão
gozar de uma evolução moral e espiritual, mediante sucessivas reencarnações,
concentradas em castas de espíritos, que ora são mães, ora são filhas, ora
esposas, ora amantes, e vice-versa com os homens. Reencarnarão quantas vezes
forem necessárias e ao final subirão aos mundos superiores.
6) A religião ali guarda
também as suas castas, mas estão separadas em plataformas fanáticas até que
possam evoluir para um convívio universal.
Portanto, segundo o filme,
1) Não há Jesus no mundo do
além, exceto em uma ou outra frase afirmativa, convidando as almas penadas para
vir até Jesus. A soteriologia é inteiramente baseada no livre-arbítrio e no
mérito humano, nas sucessivas reencarnações voluntárias ou impostas e o homem
terá que evoluir sozinho, ainda que com a ajuda de espíritos já evoluídos que o
ajudam lá e cá.
2) Todo mal moral e toda
debilidade de caráter terá que ser reparada por si só e quantas vezes forem
necessárias. E todos são filhos de Deus, independente do que fazem, estando
apenas desajustados com os propósitos criativos, mas que no final alcançarão
essa evolução.
3) Pessoas mortas voltam
para sugerir na mente de familiares e amigos coisas que os ajudem a evoluir, e
está subentendido que outros mortos não sobem e ficam amarrados aos locais de
sofrimento ou de violência, e incitam o mal e o crime também. Cabe às pessoas
discernirem esses pensamentos; muitas nem percebem tais sugestões, apenas
lembram-se de seus mortos queridos ou de seus inimigos e associam alguns
pensamentos.
4) O mundo do além é um
mundo igual a este, porém ecologicamente correto, iniciado num baita hospital,
com departamentos, faculdades, publicação de livros, tecnologia de filmagem,
enfim, uma cópia tecnológica do hoje.
5) Os ciclos continuam
ininterruptamente até que cumpram seus propósitos. Depois viram espíritos
superiores e sobre esses nada se disse.
Custo a acreditar que a TV
GLOBO, o TELE-CINE e tantas outras empresas, não apenas invistam culturalmente
nessas produções (como fazem com os atuais artistas gospel) e mantenham uma fé
velada nesses conceitos trasmitidos por supostos espíritos desencarnados aos
grandes médiuns espíritas.
A minha conclusão sobre o
filme e sobre toda essa teologia cardecista tupiniquim (de origem claramente
brasileira):
1) Os homens criam tais
teorias e as transmitem com a finalidade de confortar o tremendo medo do além e
jorrar esperança num futuro incerto após a morte. São teorias fantasiosas ao
extremo, que buscam iludir ou auto-iludir os seus seguidores, transformando a
morte em um remédio necessário e bem-vindo.
2) Os homens desconhecem
qualquer ação redentora de Jesus Cristo. Não há espaço para o PERDÃO COMPLETO,
PLENO, IRREVERSÍVEL, conseguido na cruz pelo sacrifício de Jesus. O papel de
Cristo foi o de transmissor de ensinamentos, não o de pagador dos pecados da
humanidade. Não há como substituir o que cada um terá que pagar, não há como
impedir uma evolução natural e pessoal de alguém.
3) Não há inferno
definitivo. O que há é um estado temporário de acidez de caráter, de alma
turbada e violenta, mas que ao longo do tempo evoluirá para uma alma boa. Nessa
teologia o túmulo não é o fim e aos homens está ordenado morrerem várias e
várias vezes, vindo depois disso a avaliação do que fez e a graduação do
espírito. O inferno é uma projeção do mal pessoal, mas que será transformado.
4) Esta é uma construção
tão fantasiosa, tão imaginativa, uma fábula tão bem engendrada que necessita de
gente muito crente e muito crédula para segui-la. Mas conta com a força do
inimigo do homem, Satanás, para a divulgação maciça e tecnológica, e faz adeptos
nas mais variadas classes sociais, principalmente entre os mais cultos e mais
ricos. Já os pobres mantém-se com fé similar, mas nas baixas doutrinas
espíritas, as chamadas afro-brasileiras. Todas, contudo, excluem Cristo como
Redentor, excluem um Céu como dádiva aos perdoados e salvos e mantém o homem
escravo de um ciclo imenso de
morte/readaptação/renascimento/morte/readaptação/renascimento. Um sistema que
escraviza a alma a um "ecossistema espiritual" do tipo evaporação da
água/formação de nuvens/chuva/penetração na terra/nascimento nas
fontes/evaporação etc.
5) Essa fé e essa teologia
não são nem reais e nem cristãs. Não são reais pois partem do material para o
espiritual, sendo uma mera projeção social da mente dos intelectuais, criando um
"admirável mundo novo" igual ao nosso, tão humano como foram humanas as mentes
que o imaginaram. Uma fantasia linda e monstruosa, mas apenas uma fantasia. Não
é real. Cada médium e cada espírito ensina um pouco diferente, explica o mundo
além com uma vertente e então é necessária uma ginástica teológica para que os
adeptos tenham uma parca idéia geral do que realmente os aguarda. Não é cristã
porque Cristo não ocupa lugar algum nela. Ele é substituível. Ele é dispensável.
Ele já passou. Ele é só um ícone, sem função alguma senão a de um grande
espírito evoluído.
6) A Bíblia não tem papel
algum nessa teologia. Não há valorização alguma dos fundamentos religiosos
judaicos e cristãos. São equiparados a preconceitos de almas não evoluídas. O
que conta são as revelações dos espíritos evoluídos, os "anjos", supostos homens
que já não estão mais na plataforma, mas nas regiões superiores. Isso nos
dirige às seguintes conclusões:
a) A negação das Escrituras
Bíblicas é o sintoma de sua falsidade. "À lei e ao testemunho! Se eles não
falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles." (Is
8:20)
b) Suas revelações
mediúnicas por "anjos" estão previstas e condenadas na Bíblia: "Mas, ainda que
nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos
tenho anunciado, seja anátema." (Gl 1:8); "Assim, como já vo-lo dissemos, agora
de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já
recebestes, seja anátema." (Gl 1:9)
c) Não há relação de
compartilhamento ou de incursões nos mundos separados dos iluminados e dos
escurecidos: "E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de
sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os
de lá passar para cá." (Lc 16:26)
d) Não há transferências de
estado e há punição eterna, para sempre, sem trégua ou perdão, não porque Deus
não ame os punidos, mas porque não houve posse de arrependimento ou fé: "Ficarão
de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os
idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira." (Ap 22:15); "E a fumaça do
seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite
os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome."
(Ap 14:11)
e) Não há segundo
nascimento para uma segunda morte: "E, como aos homens está ordenado morrerem
uma vez, vindo depois disso o juízo," (Hb 9:27). Quando Cristo fala sobre "novo
nascimento" recebe de Nicodemos a pergunta: "como pode um homem nascer sendo
velho? Voltará ao ventre de sua mãe?" Seria um bom momento para Jesus dizer:
"sim, quantas vezes forem necessárias". No entanto Cristo desvincula esse novo
nascimento da maternidade natural, ao dizer: "O que é nascido da carne é carne,
e o que é nascido do Espírito é espírito." (Jo 3:6).
f) O papel de Cristo não
foi meramente pedagógico, não nasceu Ele para ser apenas um profeta. Ele nasceu
para ser CRISTO, ou UNGIDO, ou MESSIAS, ou ENVIADO E PROMETIDO, rei e Salvador:
"E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." (Mt
16:16); "Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou." (Jo
13:13); Ele é o próprio Deus encarnado: "Porque um menino nos nasceu, um filho
se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." (Is
9:6)
g) Há perdão integral,
imediato e completo para quem crê no Senhor Jesus Cristo, sem ter a necessidade
de passar por reparações ou vidas que consertem os estragos anteriores. O ladrão
na cruz, arrependido, exclama: "Lembra-te de mim quando vieres no Teu Reino"; ao
que Cristo responde enfaticamente: "E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que
hoje estarás comigo no Paraíso." (Lc 23:43). Paulo afirma inspirado pelo
Espírito Santo: "A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que
nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome." (At
10:43)
h) Não há outro caminho
para a evolução final, pois a única evolução que existe para a alma humana
encontra-se em sua regeneração em Cristo, quando somos feitos participantes da
natureza divina. Fora de Cristo não há salvação: "E em nenhum outro há salvação,
porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo
qual devamos ser salvos." (At 4:12)
Minhas ponderações não
exaustivas e completas, pois poderia citar centenas de outras argumentações que
me fazem rejeitar o ensino de E A VIDA CONTINUA, ensino credenciado pela
Federação Espírita Brasileira e apoiado pelas organizações GLOBO e por meio
mundo de brasileiros. A minha fé em Cristo condiciona a minha fé em qualquer
outra coisa. O meu parâmetro de julgamento não é o que eu acho, o que eu sinto,
o que eu penso, o que eu imagino, o que o médium disse, mas o que Deus diz em
Sua única e exclusiva revelação escrita, a Bíblia Sagrada, que é lâmpada para os
meus pés, luz para os meus caminhos, que não pode ser cortada ou dissecada como
uma rã em laboratório, aproveitando os pedaços que são favoráveis às minhas
fantasias, mas ser crida, vivida e aceita integralmente, interpretada à luz de
Cristo e de Sua obra.
Sim. A vida
continua.
Mas não do jeito que Luiz
Bacelli a interpretou e talvez, infelizmente, do jeito que imaginou em sua hora
da morte na última segunda-feira.
A vida continua, ou no Céu
para os remidos em Cristo, ou no Inferno, para os que o
rejeitam.
Analisei com todo o
respeito aos que crêem diferentemente. Ter opinião não é ofender pessoas mas
debater e demonstrar idéias e construir reflexões. E as minhas continuarão
fundamentadas nas Escrituras Sagradas e não nas vozes mediúnicas dos
cardecistas.
São Paulo, Brasil, 27 de
fevereiro de 2013
Wagner Antonio de
Araújo
pastor
da
Igreja Batista Boas Novas
do Rodoanel em Carapicuíba, São Paulo, Brasil
presidente atual da
Ordem dos Pastores Batistas
Clássicos do Brasil
reprodução
autorizada
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