segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

memórias literárias - 06 - FOLHINHA DE OLIVEIRA


06 - FOLHINHA DE OLIVEIRA
Gênesis 8.11: "À tarde, ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra."

Depois de meses vagando sem rumo pelas águas do dilúvio a arca de Noé foi encontrando um local para ficar. Não deve ter sido fácil atravessar um mar sem fim, navegar sem leme e saber que não havia porto para o destino. Mas Noé não tinha tempo para pensar nisso. Havia um zoológico em seu navio. Não havia depressão ou pensamentos furtivos que vingassem ao som de uma hiena risonha ou de uma araponga gritenta, ou de um elefante faminto. Geralmente quem está ocupado pouco tempo tem para divagações.

A vida, porém, não podia continuar daquele jeito. Estar na arca era uma realidade; sair dela uma necessidade. Logo que percebera um movimento de ajuste da arca naquelas volumosas águas da enchente, Noé percebera que Deus lembrara-se dele e de todos os habitantes da sua embarcação. "Será que já podemos sair? Haverá terra seca onde caminhar e viver?"

Noé sentiu a arca parar em algumas montanhas, as de Ararate. Mas ainda não significava que a terra estava disponível. Era preciso ter paciência, ter estratégia, ter esperança. Resolveu soltar um corvo. Afinal, se o corvo não voltasse, de duas uma: ou morrera afogado ou encontrara algum local de pouso. Mas, para tristeza sua, o corvo só dava voltas e voltas sobre o aguaceiro, sem encontrar local onde colocar seus pés.

Resolveu então tentar com outro pássaro, já que o corvo acostumara-se a ir e vir o tempo todo. Soltou uma pomba. Esta, também sem encontrar local de pouso, voltara para Noé. Talvez Noé pensasse: "Bom, já tentei um corvo, já tentei uma pomba, acho que é melhor desistir e encarar a realidade: tudo o que restou foi isso." Mas não pensou.

Ele esperou outros sete dias e fez "o teste da pomba" novamente: soltou-a. Ela foi embora. Voou, voou, voou, até que voltou para ele. "Pobre pomba, deve estar cansada, nada encontrou além de água". Mas, espere! Que surpresa agradável! "Uma folha nova de oliveira!" Sim, ela trazia em seu pezinho uma folhinha, um raminho, alguma coisa que enganchou ou que pegou numa árvore cuja folhagem era nova, era verde, era viva! Aleluia! "Já há terra seca!"

Acredito que ao olhar da arca para o horizonte Noé não tenha visto nada mais que água. Mas a folhinha de oliveira dizia o contrário: além do que a vista enxergava havia terra seca e verdejante brotando novamente! E foi nessa confiança, nesse alento, nessa esperança, que Noé aguentou outros sete dias e soltou a pomba novamente. E soltou-a para sempre, pois ela não voltou para ele. Ela encontrara lugar para viver, para morar, para prosseguir. Pronto! Era tudo o que Noé precisava. Estava pronto para sair da arca. Preparou-se e, no devido tempo, abriu os portais da arca para que todos saíssem. Nós, seres vivos do século XXI, somos frutos dessa arca, desse Noé, dessa pomba e dessa folhinha de oliveira.

Folhinha de oliveira - que importância ela teve para a fé do herói Noé! Naquela folha estava o sinal da esperança, do futuro, do porvir, era a materialização do que o coração sentia. Era o sinal necessário!

Essa folhinha não era a terra toda. Ela não tinha a floresta inteira em seu bojo. Não trazia terra, não trazia cereal, não trazia pedras, não trazia madeiras. Era apenas a portadora da esperança. E como precisamos de folhinhas de oliveira!

Sim, precisamos pela fé de folhinhas trazidas pela pomba da esperança e da confiança no Senhor. "Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te, e precipita-te no mar, assim será feito;" (Mt 21:21); "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem." (Hb 11:1)

Precisamos de folhinhas de esperança. Quantas vezes as dificuldades e vicissitudes da vida levam embora toda a esperança possível! Vemos a enchente levar os nossos móveis, um acidente levar os nossos queridos, a doença levar a nossa vitalidade, a idade levar o nosso tempo! Mas quando deixamos Deus trazer até o nosso coração e a nossa mente uma folhinha de esperança, então tudo se restaura, tudo se alegra, tudo se fortalece e somos capazes de reconstruir os nossos móveis, amar os queridos que nos restam ou adotar novos amigos e entes; somos fortes para lutar contra a doença e à favor da vida e encaramos o tempo como uma dádiva, não perdendo mais um minuto sequer da nossa curta existência aqui!

Necessitamos de folhinhas de saúde. O nosso corpo tem um prazo de validade, ele prega-nos peças: quando pensamos que tudo vai bem, que não há enfermidade, que não há qualquer deficiência, surge-nos uma gripe sorrateira, um acidente, um enfraquecimento súbito, um mal degenerativo, então todos os nossos planos vão por água abaixo. Precisamos de folhinhas de saúde, pequenas graças do Senhor, conquistadas a cada dia diante do Pai em oração. Elas nos enchem de esperança, nos movem para uma situação melhor, para lutar mais um pouco, para não desistir! A graça de Deus aliada à nossa força de vontade, pode realizar verdadeiros milagres de regeneração em nosso físico! Sou um exemplo disto: desenganado em 1982 por problema congênito e infeccioso no coração, vivo hoje como um milagre diário do poder do Senhor!


Carecemos de folhinhas de felicidade. Temos o costume de colecionar amarguras, coisas que outros nos fizeram e que nos aborreceram duramente. Somos eficazes em lembrar datas, fatos, pessoas, situações que nos magoaram e constrangeram. Mas precisamos mudar a nossa maneira de pensar e iniciar o processo de regeneração memorial: guardar só o que é bom. E celebrar as felicidades! Talvez uma nota boa que o filho tirou nas provas; talvez uma viagem tranquila que fizemos; a quitação do carro ou da casa; a compra de uma blusa ou de um jogo de copos para a cozinha. Devemos celebrar a flor que nasceu em nossa árvore, o calo que não doeu, o arroz que não queimou na panela, a regeneração de um pecador que achou em Cristo a vida eterna! Diz-nos a Bíblia: "porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força." (Ne 8:10). Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos. (Fp 4:4)

Acima de tudo, porém, temos a folhinha de eternidade. Sim. Porque se esperássemos no Senhor só nesta vida seríamos os mais miseráveis de todos os homens, conforme nos diz Paulo em I Coríntios 15.19. Mas nós esperamos no Senhor para o porvir também, e cremos de todo o nosso coração! Por isso, ainda que este nosso corpo se degenere, ainda que o fim de nossa vida se aproxime, ainda que não haja folhinhas de nada para qualquer planejamento que temos, NINGUÉM NOS TIRARÁ A FOLHINHA DE ETERNIDADE que o Senhor nos deu em Suas palavras, ao dizer: "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós." (Jo 14:18). "E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." (Jo 14:3)

Olhemos e enxerguemos a FOLHINHA DE OLIVEIRA que o Senhor nos trouxe. Ela pode estar no pezinho da pomba que sobrevoou o nosso coração nesta manhã, no raio de sol que penetrou a janela do quarto, no sorriso meigo da criança, no leve movimento daquele moribundo no hospital, na semente jogada na seara, nos joelhos dobrados em oração. Tempos melhores virão e o Senhor nos fortalecerá! Creamos nisto!

Wagner Antonio de Araújo

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