A
ESTÓRIA
DE
GOULART
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Goulart era um líder em sua
igreja. Bom pregador, bom professor, estava em todas as diretorias de todos os
anos. Exercia o papel de diretor. Se a igreja precisava de pintura, era Goulart
que propunha. Se precisava de verba para um passeio, Goulart centralizava a
realização. Quando um desafio surgia, todos diziam: "Vamos falar com o Goulart".
E assim as coisas aconteciam.
Ele também era responsável
por dirigir a igreja quando esta ficava sem pastor. Era o vice-presidente.
Também ocupava a direção da comissão de finanças. Ia atrás de obreiros e
conseguia trazer dois ou três do agrado da igreja. Após a assembléia, sempre
emplacava aquele que era de sua preferência. A igreja festejava. E ele figurava
como o melhor amigo do pastor.
Mas era ele também que
cuidava de tirá-lo quando não o agradava. Geralmente com seis meses ou um ano o
Goulart iniciava o seu embate com o novo obreiro. Nas assembléias fazia questão
de dar o seu voto contrário ou contrapor-se às iniciativas do pastor. Como
detinha a comissão de finanças, impedia aumentos salariais ou propunha
diminuição nas prebendas. Ele conseguia deixar o obreiro em situação pública
desconfortável. Após as manhãs dominicais de assembléia, chegava em casa com
esposa e três filhos, festejando os embaraços.
- É isso aí, pastor aqui
tem que comer na minha mão!
Nessas ocasiões a mesa do
almoço era palco dos mais grotescos comentários sobre a igreja e sobre o
obreiro. Geralmente convidava famílias proeminentes para almoçar. Os casais à
mesa, junto com os filhos, ouviam as conversas:
- Essa igreja não é nada
sem a minha ajuda! Quem esse pastor pensa que é? Vamos tirá-lo. Podem ficar
sossegados! Mais duas escorregadas dele e conseguiremos propor a sua saída.
Os filhos a tudo assistiam.
O pai, sempre ativo e elegante na igreja, não era assim dentro de casa. Xingava
a esposa e assistia ao futebol com latas de cerveja e lingua chula nos
comentários. Os filhos vibravam. Construíam o seu conceito de fé e de igreja do
jeito que o pai ditava: uma farsa, uma fachada, uma
aparência.
A esposa não era santa.
Ainda que humilhada pelo marido, também tinha uma língua ferina e cuidava para
que as mulheres estivessem coesas nas brigas eclesiásticas. Quando o pastor
renunciava era ela quem coordenava a churrascada da vitória, sempre cheia de
jocosos comentários contra os obreiros.
O tempo passou e os meninos
cresceram. Goulart, detentor de um bom emprego na área contábil da empresa, foi
demitido por justa causa nas suspeitas comprovadas de desvio de recursos. O
assunto nunca foi abordado na igreja, pois como exercia a vice-presidência e as
notícias eram abafadas em casa, quase ninguém soube do motivo. Os resultados da
demissão chegaram. Os 4 imóveis que possuíam deram lugar a um só. Goulart
resolveu investir em vendas; acabou sucumbindo. Por fim tornou-se vendedor de
queijos de Minas Gerais, que conseguia lá no mercado
municipal.
E os meninos? Eles
cresceram. O mais velho tornou-se satanista. Com tatuagens até nas pálpebras e
piercings em toda parte, criou um site onde zombava da fé cristã e da hipocrisia
dos homens. Casou-se com uma lésbica e tem dois filhos drogados. Ultimamente tem
se mostrado depressivo e tentou o suicídio.
O segundo filho tornou-se
homossexual. Foi viver na Alemanha, onde morreu de AIDS.
O terceiro cuida do Goulart
e da esposa. Sim, porque o casal, antes tão cheio de autoritarismo e de poder
financeiro, envelheceu. Goulart ganha uma mísera aposentadoria e a esposa gasta
tudo com remédios. Então o caçula, casado recentemente, cuida deles. Goulart só
vai à igreja quando o filho resolve levar. Aliás, o rapaz nem quer ouvir falar
em cristianismo. Ele diz que foi a desgraça de sua casa. Goulart chora. Sente
saudades do tempo em que cantava os hinos e que ouvia os sermões. Hoje vive a
trocar bobagens no whatsapp e a lamentar o péssimo cristão que foi.
Trágico fim de um crente
que construiu a sua casa sobre a sua própria arrogância.
Obs: esta ESTÓRIA é baseada
em fatos muito reais.
Wagner Antonio de
Araújo
16/12/2016
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