segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

memórias literárias - 826 - SEMPRE PARA PIOR ...

SEMPRE
PARA
PIOR...

 
826
 
Torno-me um inconformado quando vejo o que antes era tão belo, tão cristão, tão maravilhoso, e com o passar do tempo se deteriora a ponto de desfigurar o próprio passado.
 
Aquela igreja era tão boa, tão fiel, tão bíblica, possuia um pastor que há mais de quarenta anos a conduzia com seriedade, com autoridade, com o poder do Espírito Santo. Ele mandara fazer um púlpito de madeira só para as pregações, deixando outras atividades para um outro de uso comum. Cada sermão era um discurso épico; cada culto um encontro com Deus; cada domingo uma página a mais, escrita pela graça do Senhor e pelo amor de uma igreja. Hoje, depois de alguns anos que ele se foi, olho para as publicações da igreja que pastoreou. Santo Deus, que decadência! A coreografia invadiu o púlpito em comemorações especiais. O púlpito especial está encostado num lado da parede, sem uso e sem importância. Os cultuantes são partícipes casuais com roupas casuais, não mais membros cientes da seriedade de um encontro com Deus. O sal tornou-se insípido e o grande centro de propagação da verdadeira fé tornou-se mais uma igreja à moda do presente século.
 
Aquela família era composta de cantores corais. A mãe, as filhas, o filho e a nora. E como cantavam ao Senhor! Fazia alguns anos que eu não os via. E que decepção ao revê-los! Os braços de todos receberam tatuagens monstruosas. As festas juninas, deixadas para trás no ato de conversão evangélica, foram retomadas ao sabor dos licores e do quentão. Os que eram solteiros amaziaram-se, emporcalhando a moral cristã que mantinham. E não frequentam mais a igreja. Eu me pergunto: cristãos só o são quando estão ligados ao rol de membros de uma igreja local? Quer dizer que no momento de trânsito, quando procuram uma nova congregação (se é que procuram) deixam-se levar por tudo o que antes condenavam segundo a Palavra de Deus? As novas gerações não conhecerão mais ao Senhor, reprisando tristemente a geração pós-Josué entre os hebreus...
 
Aquela gravadora americana era o ícone da boa música cristã de qualidade. O seu proprietário autor de inúmeros hinos tão queridos de todos nós. Ele tinha um quarteto que era base de centenas de outros pelo mundo afora. Recentemente fui até o seu site procurar os materiais atuais. Meu Deus, que tristeza! Eles renderam-se ao sucesso instantâneo de youtubers. Os vídeos de música natalina, tão lindos e clássicos que sempre produziram, agora foca um par de lenhadores barbudos e tatuados, vendedores de bugigangas e enfeites, que enquanto fabricam as peças canta (e muito mal) as músicas de Natal. São mundanos, mas vendem muito! E o quarteto tornou-se quinteto e sexteto, sem nenhuma relação com o que sempre fora, tornando-se mero fenômeno estereotipado de música contemporânea e de consumo.
 
Por que tudo isso? Por que as editoras bíblicas trocam as versões em português comum por versões mexidas, adulteradas, publicadas ao gosto do freguês e com narrativas setorizadas? A Bíblia tornou-se massa de moldar, gelatina, tomando a forma do recipiente que for mais rentável. Um ministro me disse: "Não uso mais aquela versão tradicional. Só estão fabricando bíblias baratas e de letras boas com a versão adulterada. Se eu não me adaptar não terei mais material para distribuir..."
 
Acabo de receber mensagem de associação de pastores denominacionais. Estão felizes, pois conseguiram mais uma loja comercial parceira, com 20% de descontos em todas as compras. No cardápio cachaça, charutos e toda a tabacaria...
 
Continuo a repetir: o Espírito Santo está sendo retirado pouco a pouco de Sua ação reprodutiva na vida da Igreja de Jesus Cristo. Igrejas estão cheias, mas de gente perdida. As autênticas conversões diminuem. Os pastores sérios que falecem são substituídos por políticos religiosos que ajudam a máquina da fé a angariar recursos e público. Ainda há os fiéis - e graças a Deus! Mas a cada dez que se vão só 3 são verdadeiramente substituídos. E quando estes partirem? A apostasia profetizada galopa nas costas da história contemporânea.
 
Volto o meu olhar para Jesus. E digo: "Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!"
 
Wagner Antonio de Araújo

 

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