quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

memórias literárias - 834 - ENQUANTO ESTOU...

ENQUANTO
ESTOU...

 
834
 
São do Senhor Jesus Cristo estas palavras: "ENQUANTO ESTOU NO MUNDO, SOU A LUZ DO MUNDO" (João 9.5). Sua palavra não significava temporaneidade de sua posição eterna, a luz do mundo. Jamais! Ele foi, é e será a luz do mundo. Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. (Jo 1:9).
 
Sua palavra tinha a ver com a temporaneidade da posição que ocupava. Ele ESTAVA no mundo. Era um homem, um mestre, um pregador daqueles dias, era o Messias enviado na plenitude dos tempos. Mas aquela posição de peregrino enviado às aldeias de Israel estava por terminar. Ele seguiria para ser entregue aos ímpios religiosos, políticos desonrados e o sanguinário império romano. Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios. (Mc 10:33). Nós sabemos que isso aconteceu. Ele foi morto por crucificação no monte Calvário. Sua obra, porém, não parou aí: Ele ressuscitou dentre os mortos, aleluia! Após quarenta dias foi assunto aos céus. E ao quinquagésimo dia enviou o Consolador, o Espírito Santo, para estar com a Sua Igreja.
 
Alguém poderia considerar que era bom demais ter Jesus por ali para sempre. Ele curava, libertava, proclamava a fé, transformava os corações, gerava esperança nas massas, era tudo o que todos precisariam ter para sempre. Mas isso não seria para sempre. Talvez alguém, após os acontecimentos de sua crucificação alguém pudesse pensar: "meu Deus, Ele pregou aqui perto, eu estive lá, eu vi os seus milagres, eu contemplei a Sua Pessoa, mas não fiz caso. Como me arrependo por ter perdido a chance!". Sim, nós só damos valor às coisas verdadeiras quando as perdemos. E só tomamos consciência de sua finitude quando acabam.
 
Isso nos leva a meditar sobre as coisas que temos hoje e que não perdurarão para sempre.
 
Filhos pequenos. Sim, aquele choro da madrugada, aquelas briguinhas uns com os outros, aqueles passeios no parque, a choradeira na porta da escola, a luta para que façam a lição de casa, as lições que aprendem, a família seguindo junta para a igreja nos domingos. Quanta coisa envolvida num ambiente de pais cristãos que criam filhos! Porém, para a tristeza momentânea de tantos, esse tempo acabará! Filhos crescem (ou morrem), pais envelhecem (ou falecem), estudantes vão morar sozinhos e o lar paternal se torna solitário e nostálgico. Abrem-se as portas dos quartos dos pequenos e tudo o que se vê são camas vazias, armários com fotos antigas e chinelos abandonados após o crescimento. Filhos crescem.
 
Pastores de igrejas passam. Muitos deles desenvolvem brilhantes ministérios, pregando a Palavra de Deus, fazendo visitas, desenvolvendo maravilhosos projetos, semeando o amor, procurando a glória de Deus. Muitos membros das igrejas acreditam que isso jamais acabará, pelo que não valorizam o tempo que se chama HOJE e relegam a atenção e a participação a um futuro que nunca chega, um comprometimento que prometem sempre para o ano próximo, que jamais se torna presente. Mas pastores passam. Eles podem adoecer e morrer. Eles podem ser convocados pelo Senhor para novos campos missionários e deixarem a igreja local. Eles podem deixar o trabalho por prioridades que surgirão em questões familiares e pessoais. E, de repente, um ministério que caminhava pujante é confrontado com a dura realidade do final de um ciclo. Quantos se arrependem por não terem valorizado o que tinham! Quantos chorarão o fim de uma era! Mas pastores também passam!
 
Empregos acabam. Algumas pessoas desenvolveram carreiras promissoras e prósperas, viram a empresa crescer, trabalharam duro para conquistar as posições que conseguiram, deram o suor, o tempo, a dedicação os anos de vida para um trabalho que tanto amavam. Mas da noite para o dia, por causa de negócios e oportunidades, os proprietários decidem vender a empresa e entregar a administração para outros. Estes, que não vivenciaram um único dia da história anterior, chegaram para encerrar as atividades da firma, que competia com a nova proprietária. Demitem a todos os funcionários, indenizam com aquilo que a lei ordenar e colocam fim numa saga. Eu conheci inúmeros cidadãos que choravam os seus velhos empregos, as suas empresas, as suas histórias e dedicação. Conheci gente que morava nas casas da firma, que criou os filhos nas escolas internas oferecidas, que andava com o uniforme até em dias de folga, e agora choravam o fim de uma carreira. Empregos também passam. Posições profissionais não são eternas.
 
Eu poderia seguir e comentar muitas outras coisas: a reunião de família no Natal e no Ano Novo; os encontros das turmas da escola e da faculdade onde se estudou; os retiros de jovens e de associações dos quais se participou; as férias em determinadas colônias e clubes; os encontros de amigos e as visitas aos avós. Tudo passa. Tudo se acaba. Tudo tem um fim. Somente a alma humana fica e atravessa a morte, seguindo para a eternidade. E lá desfrutará de algo definitivo: ou viverá eternamente com Deus, na Nova Jerusalém, por ter encontrado salvação em Jesus Cristo, ou seguirá para o Lago de Fogo e Enxofre, nas trevas, por ter ignorado o convite dos céus.
 
Tudo passa. Este Natal já passou. A véspera já foi. O ano novo também se tornará ano velho. Algumas pessoas de nosso convívio irão falecer. Outras irão nascer. Mas nada será como foi agora. As fotos que tiramos à mesa e as pessoas que conosco estiveram jamais estarão todas juntas no mesmo formato, com a mesma motivação e no mesmo número que agora, com raríssimas exceções. Eu, que amo fotografar, tenho os últimos 25 natais fotografados e vejo ano a ano as mudanças dos que se sentam à mesa natalina.
 
ENQUANTO ESTOU. Esta frase é muito contundente. Enquanto estou aqui devo viver, devo desfrutar, devo valorizar, devo celebrar. De nada adianta chorar o leite derramado ou perder o sono pelas coisas que ainda não aconteceram. Precisamos ESTAR. Estar aqui e agora. Temos que olhar para a esposa ou marido que temos, os filhos que conosco vivem, os amigos que possuímos, os irmãos em Cristo que congregam conosco em nossas igrejas, os trabalhos e desafios que aceitamos, a nossa vida profissional e estudantil que abraçamos, e celebrar, vivenciar, valorizar, aproveitar. E sermos gratos.
 
Pois háverá tempo em que não mais estaremos, em que não mais seremos, em que não estaremos juntos.
 
E o ENQUANTO do qual falamos  terá se cumprido. Já não será presente. Tornar-se-á página passada.
 

Wagner Antonio de Araújo

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