quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

memórias literárias - 832 - SHOW GOSPEL

SHOWGOSPEL

832
 
A palavra GOSPEL vem do inglês GOD SPELL, que significa "Palavra de Deus". As músicas cristãs ganharam esse selo nos Estados Unidos. Elas englobam grande gama de estilos, valores, tradições, tendências. Tornaram-se grande fonte de lucro e sucesso. Inúmeros crentes iniciaram suas vidas de cantores ou instrumentistas em igrejas e, ao atingirem um certo sucesso, abandonaram o Reino e tomaram o rumo do mundo secular. A música evangélica dos negros americanos, a música tradicional sulista, o bluegrass, o country, tudos possuem a sua versão gospel.
 
Esse termo veio ao Brasil na década de 80 com o surgimento das igrejas neopentecostais. Até então as músicas restringiam-se aos cultos nas igrejas ou às obras de evangelização. Com o advento do selo e, consequentemente, do sucesso da exposição pública, criaram-se inúmeros selos gospel e um negócio pra lá de lucrativo apareceu. Logo os empresários muniram-se de uma carteira rentável de cantores e grupos e passaram a oferecer espetáculos públicos. Primeiro nas feiras restritas. Depois, com a inclusão da televisão, do rádio, da internet, foi questão de tempo invadirem as casas noturnas e os teatros, tornando-se uma opção religiosa de entretenimento público. O catolicismo copiou o mundo evangélico e absorveu esse universo cultural gospel, fazendo o seu próprio caminho, confundindo o auditório com músicas similares ou até iguais. O que foi comum para ambos é que distanciaram-se o mais que puderam das igrejas e dos cultos religiosos, tornando-se um fim em si. Grande parte desses cantores, grupos, conjuntos e organizações usam as igrejas como clientela para a venda de shows e ingressos, bem como de músicas em plataforma de mídia. Há alguns anos passaram a usar a política para conseguir grandes oportunidades de espetáculos públicos e cachês vultosos dos municípios e dos estados. Há shows gospel pela tv, pelo rádio, pelos rodeios e até no carnaval. Pastores espertalhões e mundanos, inclusive de denominações tradicionais, criaram os seus próprios blocos carnavalescos, emporcalhando a doutrina da santidade da Igreja.
 
Enquanto escrevo contemplo a Justiça no Rio de Janeiro impedindo um show gospel na virada do ano por ser a cantora esposa do parceiro musical do prefeito, que também é artista gospel. E eu me pergunto: SHOW GOSPEL? Onde está isso na Bíblia? Afinal, para quem quer se identificar como cristão, é necessário encontrar fundamento bíblico para o exercício de seu ministério.
 
Não há fundamentação no Novo Testamento para um espetáculo de entretenimento com a Palavra de Deus cantada. Não é só por falar de Jesus que uma música é credenciada para ser instrumento didático no ensino bíblico.
 
Alguns dizem que através da música gospel nos shows da noite, nos bailes, nas baladas, nas tvs, estão a levar a Palavra de Deus. Ledo engano. Se o que cantam estiver de acordo com a Palavra de Deus e se ao cantarem não fizerem caso da seriedade e da reverência de seu cântico, estarão lançando pérolas aos porcos, mercadejando o evangelho. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem. (Mt 7:6). Pregar o evangelho é tornar-se padrão a ser seguido, não amoldar-se conforme o ambiente pecaminoso onde se está. Jamais na história do verdadeiro evangelho as igrejas se sujeitaram ao padrão do mundo; pelo contrário, serviram de padrão no ensino, na pureza, na didática, na cultura. Hoje o mundo dita as normas da igreja, e as músicas gospel são um canal dessa interação.
 
Os pecados dos cantores gospel, de forma frequente e assoladora, envergonham os que se chamam evangélicos ainda, uma vez que cantar e não viver é um contrassenso, uma abominação, uma mentira e Deus não está nessa história. Cantores que começam bem, crescem e de repente abraçam causas diferentes, seguindo a onda do politicamente correto, só prestam um desserviço ao Reino de Deus e cometem escândalo ao evangelho. Quando chegam a um nível de remuneração e de fama precisam estar sintonizados com a opinião da maioria, para não terem o insucesso e o conhecido "deslike" em suas publicações. Em resumo: mercadejam-se, vendem-se, deixam-se levar e renegam o Salvador a quem supostamente cantavam. Mas não têm raiz em si mesmos, antes são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam. (Mc 4:17); Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. (1Co 10:32).
 
A música cristã começou o seu desenvolvimento após a geração apostólica, com recitação de textos e musicalização de ensinos. Posteriormente os instrumentos foram introduzidos. O propósito sempre fora litúrgico, para o culto, e não para diversão dos cristãos. Na era de ouro dos evangelistas criaram-se as campanhas de evangelização: um pregador munia-se de um bom músico e cantor, que fazia a introdução às conferências, elevando o auditório espiritualmente. Mas o propósito do cantor era sempre secundário: a pregação era o alvo. Não estava em curso um espetáculo, mas um culto. Na década de oitenta surgiram os "worship" de comunidades, criaram-se as "equipes de louvor", em detrimento dos grupos ou conjuntos. As músicas, que eram cristocêntricas e evangelísticas (ou eram dirigidas a Deus para adórá-lo ou aos homens para buscá-Lo) aos poucos tornaram-se antropocêntricas e egoístas (de "nós" passaram a usar "eu", e "para Deus" tornou-se "a mim"). Se antes se dizia: "Tu és o nosso Deus" agora se cantava "Eu sou importante". E o culto eclesiástico passou a ser secundário, entronizando o homem no lugar de Deus. Nas palavras de Cristo o próprio EU passou a ser o "abominável da desolação", sentado no trono de Deus, no lugar onde jamais deveria estar.
 
Não, leitores. A música cristã não presta para show e espetáculo de entretenimento. Ela deve servir para adoração divina, para confirmar e confessar as verdades bíblicas, para ensinar os valores da vida cristã e conduzir homens ao arrependimento e a fé no Senhor. Elas não devem colocar o cantor ou o músico num pedestal, transformando-o num empresário da fé. Quem faz da música cristã um meio de enriquecimento serve a MAMOM, não a JEOVÁ. E terá por eternidade o Inferno.
 
Não precisamos de shows. Não precisamos de artistas. Não precisamos de celebridades. Não precisamos de gente que usa a música cristã para galgar cargos públicos e elegerem-se como deputados, governadores ou prefeitos. Aliás, é o que mais se vê hoje em dia: pastores e cantores usando os seus fãs como eleitores, garantindo um futuro promissor para as suas carreiras e famílias, às custas da fé pública. Isto é abominação, não ministério.
 
Voltemos ao evangelho. Voltemos ao cântico congregacional de hinos antigos, que têm teologia bíblica e reverência na execução. Cantemos a Palavra de Deus, não as bobagens de mentes pervertidas de mundanos. Aprendamos a fé com as canções de qualidade, aprendamos a pensar, aprendamos a servir! Se a música gospel não me tornar mais crente, mais santo, mais envolvido com a Bíblia, com a oração e com a minha igreja, se ela me levar a parecer com o secular e não com o sacro, então essa música não serve para mim.
 
Show gospel? Estou fora.
 

Wagner Antonio de Araújo

Um comentário:

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