quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

memórias literárias - 837 - MAIS QUE ISSO

MAIS
QUE ISSO

 
837
 
A vida é mais que isso. Não se trata apenas de um acúmulo de coisas para fazer, de pessoas com quem interagir, de objetivos a alcançar, de metas a bater.
 
Não é apenas um ir e vir, uma sequência contínua de alegrias e de aborrecimentos, de felicidade e tristeza, de sono e despertamento.
 
A vida é mais que viver. A vida é celebração. Mas ela só se expressa quando permitimos que lá dentro de nós a festa seja real. Se assim não for a parte de fora será mera casca envernizada, uma fria aparência de felicidade que não existe.
 
As pessoas pensam que o movimento é que traz vida, que rejuvenesce, que provoca a cura. Mas movimento em si nada é. Se o simples movimento fosse suficiente teríamos pedras saudáveis num despenhadeiro, quando se desprendem da montanha e descem quilômetros afora. Não, exercícios físicos, academias, viagens, férias alucinantes, drogas alucinógenas ou shows em abundância não trazem vitalidade.
 
Nós precisamos ter vida que nasce de dentro. Jesus Cristo afirmou que aqueles que nEle cressem teriam um rio de águas vivas que jorraria de seu interior. E o que isso significa?
 
Estas águas vivas não são aqueles bichos perigosos das águas do mar. Também não são águas medicinais que saem de algumas fontes. Águas vivas são minas inesgotáveis de água, que não se esgotam na época da seca e nunca deixam o sedento sem o precioso líquido vital. Jesus disse que haveria uma fonte de felicidade, de alegria, de realização, algo inesgotável, pois quem toca no coração de Jesus recebe o dom da vida, da alegria e da felicidade.
 
Assim, com Jesus no coração, podemos vivenciar uma alegria que vem de dentro. E então considerar a vida mais que uma sucessão de eventos, de capítulos, de dias e de noites intermináveis (ou quase).
 
Viver é sentir-se feliz. Viver é usar da liberdade para tomar decisões que não pesam. Viver é celebrar tudo de bom que temos e sermos gratos por tudo, mesmo que o nosso tudo seja muito pouco. Viver é rememorar docemente as coisas boas que já foram, os momentos únicos que vivemos. Mesmo que sejamos solitários nesta celebração.
 
Um dos momentos mais felizes que pude ver foi numa visita em Pilar do Sul, estado de São Paulo. A Igreja Batista de Cotia, tendo à frente o Pr. Manoel Gonçalves de Oliveira, possuia uma congregação naquela capela. O filho de um querido pastor tinha sido ordenado ao ministério, casado e assumido a liderança daquele grupo. Havia uma capela americana e aos fundos improvisou uma casa. Nós fomos visitá-lo. Sua cama eram duas tábuas suspensas onde jazia um colchão de casal. A toalha da mesa era daqueles plásticos bem baratos e floridos. O armário era um buraco na parede onde colocaram uma cortina plástica. O fogão de duas bocas. Eu pensei: "Meu Deus, quanta carestia!".  Contudo, ao ver a expressão de felicidade, de alegria e de contentamento daquele casal diante do recente casamento, da felicidade a dois, da alegria do ministério e da bênção de servir, percebi que o mais pobre ali era eu. A felicidade estava dentro deles e naquele momento eu daria tudo para senti-la também.
 
Hoje eu a tenho também. Eu já tinha Jesus, mas faltava-me ser grato. Eu achava que ser feliz dependia das circunstâncias, das outras pessoas, da conta bancária ou de não ter aborrecimentos. Mas no mundo sempre teremos aflições, disse Jesus. Foi então que decidi seguir o caminho da gratidão. Eu vejo essa gratidão nos meus filhinhos, que celebram um mero cofrinho plástico no formato de porquinho. Eles estão tão felizes com o pequeno objeto, que nos encantam e motivam a celebrarmos também os porquinhos que ao longo da vida recebemos!
 
A vida é mais que isso. Viver é ter paz lá dentro, é encantar-se com um hoje, pois muitos só tiveram o ontem e talvez jamais tenham um amanhã. Viver é encantar-se com a simplicidade. Viver é fazer do terreno baldio um jardim florido, um pomar frutífero, um recanto aprazível.
 
Aliás, nem sei porque me coloquei a escrever isso. Talvez porque, à luz desta reflexão, alguém precise rever a sua própria vida e mudar a sua forma de encarar o tempo que lhe resta. Talvez alguém comece realmente a viver agora, viver de dentro para fora, sem verniz ou sem fantasias.
 
Carpe Diem! Viva o dia! Viva com Cristo!
 
Wagner Antonio de Araújo

 

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