terça-feira, 28 de janeiro de 2020

memórias literárias - 843 - CAPA VELHA

CAPA
VELHA

843
 
Ao longo dos meus dez meses de ministério na amada Primeira Igreja Batista em Ribeirão Pires SP, Brasil, pude filmar os cultos e preservar em vídeo os maravilhosos momentos que vivenciamos na presença do Senhor. Sou grato a toda a equipe daquela igreja pelo empenho, a dedicação e o amor com que atenderam ao meu pedido de gravação. Só Deus poderá recompensá-los.
 
Contudo também sou grato pelo aparelho que fez as filmagens, objeto que o Senhor confiou às minhas mãos. E, como proteção física dele, pela capa que o vestiu durante esse período. Uma capa plástica, preta, cujas marcas severas que nela existem comprovam o longo tempo em que foi útilizada. Uma simples capa de celular, uma capa velha.
 
Quem fala disto em prosa, verso ou redação? Quem dá valor a uma capa de celular? Talvez seja algo muito inexpressivo para atentar, uma bobagem de quem não percebe que as coisas existem para serem úteis. Quando envelhecem ou estragam devem ir ao lixo, substituídas por outras em estado melhor. Neste mundo efêmero tudo é descartável. Até as pessoas...
 
Ao trocá-la hoje por outra parei reflexivo. Imaginei quantas vezes ela esteve em movimento nas mãos dos filmadores, daqueles que usavam o meu celular para transmissões e fotografias. Pensei nas vezes em que ela protegeu o aparelho das quedas inevitáveis, dos líquidos que poderiam ter penetrado na máquina, das avarias que poderia ter sofrido. Uma capa eficaz, porém, silenciosa, serviçal, que nunca seria valorizada ou destacada, pois o seu papel era proteger o telemóvel. Cumprida a missão seguiria ao lixo. E ninguém saberia que um dia ela existira.
 
Fiquei com pena. E decidi guardá-la como um memorial de dias maravilhosos, vividos na presença do Senhor e em culto ao nosso Deus. Ela ficará em minha caixinha de objetos valiosos. O seu valor não está no material plástico ou no designer especial. Ela vale por ter sido companheira, auxiliar, testemunha ocular da história. Ela vale pelas mãos que a pegaram, pelos dias em que serviu, pela perseverança no cumprimento do dever. E porque era minha, o Senhor a confiara a mim.
 
Isto me fez pensar na vida que temos, tão frágil, tão pequena, tão insignificante para a maioria das pessoas. Talvez para todas, quando pouco tempo se vive, como a de um embrião descartado em um laboratório, um aborto vergonhosamente planejado por alguém ou uma pessoa sofredora no meio de uma comunidade paupérrima. Quem dela se lembrará? Quem por ela escreverá uma linha?
 
Assim como eu olhei para a minha capa velha Deus olha para as Suas criaturas. Assim como essa capa fez a minha vontade e agora desfrutará de um aposento honrado em meus pertences, assim Deus promete recompensar aqueles que se colocarem ao Seu serviço, buscando o Seu Reino e a Sua justiça. Diz-nos a Bíblia que até um copo de água, fornecido para os discípulos do Senhor e em nome do Senhor, teriam lembrança e galardão. Ainda que os homens ignorem ou que ninguém saiba, Deus JAMAIS se esquecerá. Basta que Ele veja.
 
"Deus Todo-Poderoso, obrigado por ter criado a mim. Obrigado por usares a minha vida em alguma tarefa preparada por Ti. Obrigado por contares comigo. Eu sei que o Senhor jamais me esquecerá e que cuidará de mim. Por isso eu Te agradeço por tão grande amor. Agora ajuda-me a cumprir a missão que me preparaste até o fim. Em nome de Jesus, Amém."
 
Encerro aqui o meu texto, pois vou limpar e guardar a minha capa velha do celular.
 

Wagner Antonio de Araújo

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