quarta-feira, 21 de outubro de 2015

memórias literárias - 265 - THEOBALDO PARTIU


 

 
THEOBALDO
PARTIU
265

 
Internado num hospital paulista, o Pr. Pedro Theobaldo Antão, de 93 anos, está consciente e pensativo. Ouçamos o que pensa:
 
"Enfim, chegou o meu dia ... Meu Deus, estou com tanto medo! Eu não quero morrer! Se houvesse um jeito de melhorar! Mas como! Tão velho estou, os rins pararam, não há mais o que fazer! Senhor, Senhor, acuda-me!
 
Ah, Maria, quanta falta eu sinto de sua companhia! Quando você se foi eu peguei em sua mão até que partiu. E agora não tenho ninguém para me ajudar! Meu Deus, chegou a hora!
 
Tanto preguei sobre isso! A Hora Derradeira! O Dia da Partida! Onde Passarás a Eternidade? Eu devia estar tranquilo, mas não estou! Eu creio em Jesus! Sim, quantas vezes confirmei para mim mesmo a fé! E agora não tenho mais certeza! Meu Deus, que desespero! E não posso falar com ninguém com esse tubo na boca! Como eu queria não morrer!
 
De certo que já estou gasto, todos os meus amigos se foram. Eu fiquei por último e me senti abençoado. Mas nem sei mais se é bênção, porque agora estou aqui e não tenho quem venha me acompanhar! Meu Deus, tenha misericórdia de mim! Eu creio em Ti, Jesus, meu Salvador!  Pai Nosso que estás no Céu, santificado seja o Teu Nome..."
 
A porta do quarto se abre. O pastor vem com sua bíblia. Senta-se ao lado do velho Pastor Theobaldo.  Theobaldo olha o pastor, ameaça dizer algo, não consegue, não é capaz. Apenas derrama algumas lágrimas.
 
"Pastor Theobaldo, eu sei que está me ouvindo. Eu quero orar com o senhor. A sua biografia está para fechar. E quero recordar-lhe que o seu galardão está guardado com Cristo. Logo o senhor estará com ele..."
 
Theobaldo pensa:

"Meu Deus, eu vou morrer mesmo! Senhor, estou com medo! Sinto-me só! Por que reajo assim nesta hora derradeira? Senhor, traz-me paz agora, eu imploro! "
 
O jovem pastor continua:
 
"Senhor, despede em paz o Teu servo em nome de Jesus. Adeus, Pr. Theobaldo!"
 
Ele sai do quarto e Theobaldo se desespera lá no íntimo.
 
"Não, pastor! Não se vá! Fique comigo, por favor! Senhor, os meus filhos moram longe, não puderam vir, os meus netos nem se importam. Não tenho mais ninguém. Senhor, me ajude!"
 
Então, sem que se explique, Theobaldo sente algo inesperado: sente alguém a segurar a sua mão. E, ao olhar, contempla alguém com semblante tranquilo e acolhedor.
 
"Então, estarei sonhando? Alucinações do cérebro? Quem é o senhor?"
 
A pessoa lhe diz em paz e tranquilidade:
 
"Theobaldo, Jesus te espera! As provas de agora não se comparam ao que você verá e terá dentro de instantes. Alegre-se no Senhor!"
 
Ainda nesta visão súbita, Theobaldo vê o quarto encher-se de paisagem, de iluminação, de flores, e consegue sorrir e sentir-se feliz e bem. Sem que possa explicar, levanta-se da cama e sobe, acompanhado deste amigo presente. Enquanto isso a máquina de controle do coração acusa parada cardíaca e avisa às enfermeiras que o paciente acaba de falecer. Theobaldo não está mais ali; apenas seu velho tabernáculo. Seu corpo morreu. Será sepultado. Lembrar-se-ão dele por alguns meses ou anos, mas na segunda geração nem o seu nome será mais conhecido. Como foi com seus avós e bisavós, Theobaldo tornou-se passado para o mundo.
 
Theobaldo pode ser qualquer um de nós. Jovens ou velhos, todos teremos que atravessar a ponte da morte. Alguns o farão de forma súbita, instantânea, em acidentes. Outros, felizardos, adormecidos. Outros serão ceifados ao fim de uma longa ou curta enfermidade. E ainda outros, como o Pr. Theobaldo, verão o corpo desgastar-se ano após ano, com a morte dos seus contemporâneos e a crescente solidão de novos amigos. 
 
Na hora derradeira a nossa humanidade estará ativa. Se conscientes, o medo será algo absolutamente normal, pois tememos o desconhecido, tememos experiências às quais nunca fomos submetidos. Não significa desespero pelas consequências da morte, porque deste fomos libertados: "E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão." (Hb 2:15)Também não temos vontade de morrer, pois a tendência de quem vive é a auto-preservação. A incapacidade de lidar com o problema e a impotência diante da hora derradeira poderão provocar um desespero natural, algo que não significa falta de fé ou perda de salvação. Significa que estamos assustados, temerosos, ansiosos pelo que há de acontecer. A fé em Cristo, recebido no coração e na alma conscientemente, é eficaz para salvar a qualquer pecador arrependido, independente de sentir ou não temor na partida. A diferença entre um salvo e um perdido é que o temor do ímpio justifica-se pelo destino que tiver, ao passo que o temor do salvo é temporário, natural e imediatamente confortado por Deus, através do Espirito Santo e, possivelmente, da presença de anjos do Céu (seres espirituais não-humanos, criados por Deus e responsáveis em ajudar os salvos). Na hora derradeira Deus não nos deixará morrer de medo, mas enviará pouco a pouco o consolo, a consciência e a certeza do Céu, da vida eterna e da salvação.
 
Já presenciei servos e servas do Senhor na hora da partida. Cheios de dores, doentes, idosos e incapazes de reações, esboçaram, quando conscientes, sorrisos e palavras indescritíveis, afirmando estarem a enxergar o além ainda em vida. Esse vislumbre é comum para muitos que partem, nos instantes derradeiros. Alguns partem tendo alguém a quem amam a fazer-lhes companhia (eu mesmo já tive algumas pessoas que morreram em meus braços). Outros, sozinhos num quarto, num hospital, num acidente, partem sozinhos de gente, mas acompanhados por Deus e com a ajuda maravilhosa do Senhor! Se a morte é um fator que tememos, uns mais e outros menos, a eternidade para um salvo em Cristo é uma realidade e uma certeza, que se mostrará real e palpável tão-logo estejamos no processo de partida.
 
O meu leitor está preparado para morrer? Tem medo da morte? Já sabe para onde vai? Nós podemos saber para onde vamos. Deus nos revela em Sua Palavra dois únicos destinos para a alma humana: ou com Ele, no Céu, ou sem Ele, no inferno. Ou a felicidade e a plenitude da existência, com Cristo, ou no mais sentido desespero e solidão, junto ao Diabo e seus anjos. Ou na glória e cidade celestial ou no lago de fogo e enxofre. E esse destino deve ser selado ANTES da viagem. Para ir ao Inferno basta estar alheio à mensagem de Cristo e ao arrependimento de pecados. Basta não crer em nada ou crer no que é errado. O destino é o mesmo: a condenação da eternidade. Já para ir ao Céu é necessário ter uma chave que dá duas voltas, na abertura da porta do Reino de Deus. Essa chave se compõe de arrependimento dos pecados e fé única e exclusiva em Jesus Cristo como Salvador. Na cruz Ele morreu pelos nossos pecados e fez-se nosso passaporte para a eternidade. Entregando-nos conscientemente a Cristo e vivendo só por Ele, no momento derradeiro Ele enviará seu anjo e não iremos sozinhos (algo semelhante ao que ocorreu a Lázaro poderá nos acontecer: "E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; "(Lc 16:22). Iremos para o Reino de Deus. Do contrário, não haverá companhia e, ao fecharmos os olhos para este mundo acordaremos no mais terrível tormento que a alma humana possa imaginar. E detalhe: os destinos são irreversíveis.
 
Theobaldo partiu. Eu partirei. Você partirá. Para onde você irá?
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo

 

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