sábado, 26 de maio de 2018

memórias literárias - 669 - NO MEIO DA CRISE

NO MEIO
DA CRISE

669
Enquanto o problema é com os outros, todos são a favor: os bloqueios nacionais estão corretos. Quando a febre acomete o filho ou falta o leite para a filha, e, ao encontrar mercados, farmácias e postos fechados, a opinião muda. Mas, ao chegar ao hospital e constatar que não atenderão mais por falta de oxigênio, remédios e geradores de energia, a opinião torna-se radicalmente contrária. O que mudou, a crise ou ESTAR NA CRISE? Certamente que o ditado dos antigos é verdadeiro: "pimenta nos olhos dos outros é colírio". Hoje o Brasil começa a parar completamente. Aeroportos fechados. Estradas poderão ser liberadas, mas não há carros que circulem; não há combustível. Os mercados estão sem abastecimento. As farmácias sem seringas. Os hospitais sem materiais para cirurgia ou hemodiálise. O pouco que há é cobrado a preço de ouro. Na segunda-feira as empresas irão parar. Não há viaturas de soldados ou policiais para cumprirem os decretos que os donos do poder determinam. A rapidez com que se decretou a prisão dos grevistas antepõe-se à lentidão da publicação do fim dos impostos citados, condição única para o fim da paralisação. E mesmo que acabe o estrago já está feito: o Brasil não andará por alguns dias. Assistir a Venezuela no caos era uma coisa; olhar para a nossa cidade e vê-la aqui, ainda que por outros motivos, é outra. Estamos na crise. E dela não há saída fácil. Não haverá locomoção, nem água, nem comida, nem policiamento. O governo não cede e os grevistas foram longe demais para recuar. O que acontecerá?

E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. (Mt 24:6)

Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. (Mt 24:7)

Não escrevo do lado de quem vê a crise como teoria. Eu estou no meio dela. Neste final de semana estaria na Primeira Igreja Batista em Mocóca, SP, para pregar em seu aniversário. O meu carro não teve combustível. Não tenho gasolina sequer para deslocar-me a outro bairro. Os ônibus estão escassos. O domingo será de grande ausência nas igrejas, geralmente frequentadas por pessoas fora dos bairros (o grande diferencial destes tempos modernos). E na segunda-feira não haverá expediente em muitos lugares, um feriado forçado.

Diante disto tudo, o que fazer? Bater em panelas? Ficar à frente da televisão a assistir passivamente o progresso do caos? Entrar em desespero por ver a geladeira vazia e a possibilidade de faltar até água potável (os produtos químicos não chegam às companhias de tratamento e a água irá faltar)? Eu leio na Palavra de Deus o seguinte, sobre CRISES:

Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, (2Co 6:4)

O texto diz que somos MINISTROS DE DEUS. Ministro aqui é SERVO, ESCRAVO, SERVIÇAL. Estamos à serviço do Senhor em tudo. Fomos comprados pelo sangue de Cristo. Logo, como ministros de Deus, temos por obrigação fazer o mesmo que os apóstolos fizeram: TORNARMO-NOS RECOMENDÁVEIS EM TUDO. Sim, em tudo. E o versículo cita áreas nas quais devemos nos tornar modelares:

1) NA MUITA PACIÊNCIA - Algo dificílimo em tempos de crise. Mas possível como fruto do Espírito: Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. (Gl 5:22). Nós não temos tal paciência em nossa velha natureza; mas pelo novo nascimento, pela conversão, ela é possível, averiguável e pode crescer, dominando o nosso coração. Devemos ter paciência. Paciência para aguardar dias melhores. Paciência para aceitar uma restrição alimentar, um racionamento caseiro. Paciência para caminhar e para não nos locomovermos. Paciência para esperar o fim da crise. A paciência é um exercício de resignação e de submissão. Na crise, entretanto, ela é fator de sobrevivência. Em Cristo podemos ter tal paciência!

2) NAS AFLIÇÕES - Ouvimos falar dos sofrimentos dos povos mal governados ou com ditaduras; agora podemos sentir na pele um pouco do que eles vivem o tempo todo. Estamos aflitos. Produtores rurais estão a perder tudo. Empresas de cargas orgânicas desesperam-se com os prejuízos. O leite das vacas é derramado sem parar e falta ração. Frangos aos milhões estão morrendo de fome. E logo a fome tomará conta de nossas casas. Temos a impressão que um furacão sem vento, seco, sem chuva ou nuvens, avassalou o país. Talvez este seja muito pior: depois dele talvez nem governo teremos; muito menos ordem econômica... Mas podemos nos comportar como cristãos nesta crise: CONFIANTES. Absolutamente em paz. Completamente crentes de que há um Deus Todo-Poderoso a dirigir a história. A Sua permissão para esta crise pode ser agente corretivo, agente punitivo, agente provador. Não importa. Vinde, e tornemos ao Senhor, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. (Os 6:1)

3) NAS NECESSIDADES - A crise traz consigo a necessidade. Todos estão precisando de algo. Os antigos cristãos primitivos eram reconhecidos como aqueles que acolhiam os rejeitados, doentes, abandonados nas ruas. Numa peste eram os que cuidavam dos feridos ou lhes davam um fim condigno. Chegou a nossa hora. Estamos em tempo de compartilhar. Se necessário, dividir água, gasolina, produtos de alimentação, caronas, remédios. Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão. (Pv 17:17). Não precisamos tomar ofertas para mandá-las para o exterior apenas; teremos vizinhos, parentes, amigos e até inimigos que precisarão de nossa solidariedade. E, talvez, também precisemos da deles. Mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; (2Co 8:14)

4) NAS ANGÚSTIAS - Sim, a crise traz angústia. Um país colossal como o Brasil, com riquezas naturais, belezas de toda espécie e o celeiro da humanidade, administrado por ímpios corruptos, que não têm pejo de roubar e sabotar, não se envergonham de perpetuarem-se no poder, mentindo e mantendo o povo aprisionado em sua ignorância e infâmia. Angústia por ver as escolas vazias, os professores mal pagos, os policiais serem mortos, as igrejas serem tomadas pelo Diabo travestido de falsos pastores, a mídia encampada para apodrecer a moral nas músicas e programas chulos e sexistas. Muita angústia por ver duas gerações criadas sem escrúpulos ou valores morais, onde um selo de evangelho tem sido colado em cada pecado tolerado. Sim. Angústia pelos hospitais fechados, pelos velhos desamparados, pelas famílias que não conseguem adotar e por crianças que crescerão sem lar e sem pão. Angústia pelo domínio do mal e pela injustiça das autoridades. Angústia por ver a verdadeira igreja de Cristo desaparecendo no meio das instituições que levam o seu nome. Mas na angústia clamamos ao Senhor. Ele nos ouve. E consola! Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socorro do homem. (Sl 60:11). Dá-nos auxílio para sair da angústia, porque vão é o socorro da parte do homem. (Sl 108:12)

Hoje é 26 de maio de 2018. O país não suporta mais uma semana de impasse. Mas não haverá solução de curto prazo. Deus espera que os crentes verdadeiros dêem testemunho: que se comportem como MINISTROS DE CRISTO, e que sejam modelares NA MUITA PACIÊNCIA, NAS AFLIÇÕES, NAS NECESSIDADES E NA ANGÚSTIA.

Deus nos dará graça para suportar e vencer.

Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (Jo 16:33)

Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. (Ap 2:10)

Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. (1Co 15:57)


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