OS SEUS
SAPATOS
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Um pastor
muito querido havia falecido. Ele deixara uma farta biblioteca, inúmeras
pregações filmadas, gravadas, publicadas em livros. Fora um exemplo para todos
os crentes. E agora a viúva, depois de refeita do luto, decidiu doar os seus
bens. Afinal, na nova casa onde iria morar, pequenina e modesta, não haveria
possibilidade de manter os ítens que tão úteis foram enquanto o seu esposo
servia ao Senhor.
Ela ofereceu
a sua biblioteca aos pastores que eram considerados íntegros pelo seu esposo.
Ela sabia que a sua biblioteca não interessaria aos seminários modernistas, aos
calouros em teologia repletos de novidades ou aos meros estudiosos que não agiam
conforme as Escrituras. Doou os livros aos pastores dedicados a Deus e aos
jovens pregadores que seguiam as sendas do velho mestre.
As roupas
também foram para quem as utilizaria bem. Os ternos serviram na medida para
colegas que tinham a estatura dele. As camisas foram úteis a alguns familiares.
Roupas de baixo foram doadas à caridade. E as blusas foram para a campanha do
agasalho.
Sobraram à
viúva os escritos pessoais, as cartas, as fotografias, os vídeos, os áudios e
apenas um ítem do vestuário. As irmãs mais próximas perguntaram-lhe por qual
razão não queria doar o seu velho par de sapatos. Aliás, porque não desejou
jogá-lo fora, visto que estava extremamente gasto, furado e com marcas
irreformáveis por causa do uso. Suas palavras foram
épicas:
- "O meu
marido está com Cristo, aguardando a santa ressurreição. Ele está feliz, ao lado
de Jesus e dos santos que o precederam. Ele não está mais doente, cansado, idoso
ou limitado, como nos últimos tempos. Pelo contrário, tem um corpo lindo e
jovem, temporário, aguardando o dia em que, com Jesus, voltará e ressuscitará,
tornando-se completo na redenção. As suas lembranças são doces e seletivas. Ele
sabe o que Cristo fez por ele e qual foi o preço da salvação. E vive a santa
alegria dos salvos pela graça de Jesus".
- "Este
par de sapatos velhos, desbotado pelo muito uso e carcomido pelo tempo, pelas
águas, pelo desgaste natural, eu quis guardar comigo. Não para me servir de
lamúrias, de murmuração contra a vontade de Deus. Ele sabe o que faz e levou o
meu amado esposo na hora e no tempo em que julgou adequado. Mas estes sapatos
são especiais. Digo que, para mim, se tornaram os sapatos mais importantes de
toda a minha vida."
- "Neles
eu vejo o quanto o meu marido serviu a Deus e o quanto amou a Jesus. Cada
desgaste das solas testemunha os muitos lugares por onde foi, levando a Palavra
de Deus, o testemunho de Jesus, o consolo do Espírito Santo e a redenção aos
pobres pecadores inconversos. Quantos hospitais, quantas vielas, quantas casas,
casebres, mansões, ruas, avenidas, estradas, edifícios, quantos lugares o meu
marido não foi com este par de sapatos! E o destino sempre foi o mesmo: ir onde
Deus o mandava! Disto eu não tenho dúvidas!"
- "Com
estes sapatos o meu marido orou com os convertidos. Com eles levou a muitos pelo
caminho da salvação. Foi calçado com eles que conduziu cestas básicas a lares
tão carentes. Seus sapatos foram testemunhas de horas e horas de solene estudo
bíblico e preparação para os seus sermões. Também o aqueceram nas noites de
inverno, quando caminhava pelas ruas e congregações, levando o evangelho.
Quantas vezes o sustentaram enquanto ele, ereto e em êxtase do Espírito Santo,
pregava com poder e sabedoria a mensagem salvadora de Jesus no púlpito de nossa
igreja, nas conferências que realizou, nos congressos onde pregou e nas reuniões
que assistiu?"
-"Estes sapatos nunca pisaram a estrada da mentira, do engodo,
da falsidade. Estes pés nunca precisaram de uma reprimenda para não caminhar no
caminho dos pecadores, pois o meu marido de fato andava com Deus. Quantos homens
hoje podem dizer o mesmo de si? Quantas esposas podem afirmar isso sobre seus
maridos? Pois eu posso, minhas irmãs! O meu marido andou com Deus de verdade e
eu sou grata ao Senhor por tamanha dádiva! A beleza dele nunca foi física, nunca
foi econômica ou social. Para mim ele era belo, era rico e era uma dádiva no
convívio com os nossos queridos. Mas a maior riqueza que ele tinha era a sua
integridade. Eu não tenho dúvida alguma e sinto gratidão por
isso!"
- "Com
estes sapatos o meu marido andou com Deus. Os seus pés foram formosos, como os
de João, o Batista, como os pés de todos os que anunciaram boas-novas ao longo
da história e como espero que sejam os pés dos novos servos do Senhor que tomam
para si a responsabilidade de pregar a Palavra de
Deus!"
- "Por
esta razão, minhas irmãs, eu quero ter este par de sapatos comigo. Quando eu
partir podem dá-los a um jovem obreiro que palmilhe a mesma senda de fidelidade
que o meu marido trilhou. Que lhe sirva de inspiração, de estímulo, de
testemunho e de fortalecimento, passando a mensagem de que vale a pena andar nos
caminhos do Senhor e ser fiel até a morte. O meu marido, exemplo de homem de
Deus, foi assim. Por isso estes sapatos continuarão comigo, para que eu sempre
me inspire e caminhe com Cristo como o meu marido caminhou, até que me una ao
Senhor, partindo para o Céu, como ele também o fez."
Que palavras
santas! Que palavras inspiradoras! Depois de ouvi-la eu olho para os meus
sapatos e digo: será que a minha esposa poderá dizer o mesmo de mim um dia? Será
que os meus filhos e os que me conhecem poderão afirmar o mesmo a meu respeito?
Olhe para os seus sapatos. Por onde eles têm ido? Quais os caminhos que o leitor
tem trilhado? Terá também a integridade que este velho pastor teve? Poderá
deixar à esposa e aos filhos o mesmo testemunho de vida reta, digna, de sempre
estar a andar sempre de acordo com a Palavra de Deus?
Ainda é
tempo. Limpe os seus sapatos ou compre um novo par. E diga para si: de hoje em
diante serei também digno de deixar os meus sapatos para quem eu amo, quando
partir. E poderão orgulhar-se da vida que vivi. Os meus pés também serão
formosos e serei um semeador de boas-novas.
Quão
formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres
novas de boas coisas. (Rm 10:15)
Wagner
Antonio de Araújo
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