domingo, 15 de outubro de 2017

memórias literárias - 538 - UMA CONVERSA INTERESSANTE

UMA CONVERSA
INTERESSANTE
 

 
538
 
 
Um colega pastor, muito querido, convidou-me para tomar café. Transcrevo aqui a nossa conversa informal.
 
-----
 
 
- Que bom que o irmão aceitou o meu convite.
 
- O prazer é meu, pastor.
 
- Eu queria saber o porquê do irmão usar terno e gravata na igreja. Isto está tão fora de moda, tão antiquado!
 
- Porque eu estou de serviço, colega.
 
- Ah, sim. Mas eu também estou e não estou de terno ou gravata.
 
- Eu não disse que o irmão não está. Eu disse que EU estou. À propósito, o que vamos beber? Café com pães de queijo?
 
- Acho que é uma boa pedida.
 
- Então peça, por favor.
 
- Ei, rapaz!
 
- Por que chamou aquele rapaz? Chame este aqui ao lado, ou aquela mulher ali...
 
- Pastor Wagner, está brincando? Olhe o jaleco do menino. Ele trabalha aqui!
 
- Ah, então o irmão identificou quem aqui trabalha, não é mesmo? De fato fica mais fácil. Então solicite o nosso café.
 
Feito o pedido, a conversa continuou:
 
- Então, Pr. Wagner, não é o terno que faz o pastor, assim como não é o hábito que faz o monge!
 
- Sim, mas O VESTEM!
 
Meu amigo riu-se.
 
- Sim, colega, estamos à serviço de Deus. Assim como eu espero achar um médico de jaleco no hospital, um bombeiro de farda no serviço e uma camareira com o devido uniforme, a igreja de Deus espera ver em seu pastor alguém que enalteça o trabalho que realiza, que se identifique como um executivo à serviço. Foi por o rapaz estar com fardamento de serviço que o irmão facilmente o identificou e pediu o nosso café.
 
- Mas, Pastor Wagner, isso é besteira! Não é a roupa que faz isso! Nós não temos batinas ou coisas similares! Podemos servir a Deus de qualquer maneira, com qualquer vestimenta! Deus não olha para a aparência!
 
- Colega, não está em xeque servir ou não a Deus. Também não está em questão a veste e não o coração. Está em xeque a comissão que recebemos e a identidade que imprimimos no trabalho do Senhor. Igrejas têm ministros e estes estão de plantão; devem ter a distinção, a cortesia e o cuidado de assim se apresentarem. O irmão já viu um juiz em serviço do tribunal com bermudas e chinelões?
 
- Nunca!
 
- O irmão já viu um general de guerra em treinamento ou em combate com roupas de dormir, exceto num ataque inusitado?
 
- Não!
 
- Pois bem. Assim como esperamos da sociedade uma valorização dos serviços, das profissões, e uma encarnação da vocação através da identidade de serviço, assim uma igreja que é pastoreada por alguém consciente há de ter um ministro que se identifique como ministro, que se valorize como ministro em serviço.
 
- Mas não podemos fazer isso com roupas comuns? Não podemos usar camisetas, chinelos, tenis e calções?
 
- A pergunta não é se podemos, mas se DEVEMOS. Há alguns dias vi um pastor de sandálias havaianas, bermuda e camiseta sem mangas, no púlpito. Que mensagem um obreiro assim passa? De seriedade naquilo que faz? De crença real de que aquilo é um culto a Deus?
 
- Mas a igreja dele está cheia e a sua vazia!
 
- Colega, é assim que o irmão julga o serviço do Senhor? Somos animadores de auditório? Somos mercadejadores da Palavra? Ainda confio no que Deus fazia no passado: Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar (At 2:47). Não somos nós que convertemos pessoas, mas o Espírito Santo. Não é baixando o padrão que encherei a igreja com salvos.
 
- Podemos cultuar a Deus em qualquer lugar e em qualquer veste!
 
- Não há dúvidas. Mas experimente analisar os critérios para o serviço de Deus no velho testamento. Entravam os sacerdotes e oficiais do templo de qualquer jeito para cultuar? Jamais! Deus fizera-lhes, inclusive, recomendação das vestes!
 
- Mas isso foi no velho testamento! O sacerdócio não foi continuado!
 
- Não tenha dúvidas. Mas o Senhor é o mesmo e o princípio da separação e santidade mantém-se. Assim está escrito: Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, (Tt 2:7). Também lemos: Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza. (1Tm 4:12). Para completar, Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. (1Co 4:1).
 
- Eu não concordo!
 
- Não há problemas, colega. Mantenha-se como está e eu me manterei como estou.  O irmão não me verá num casamento, num velório, num culto dominical ou numa visita oficial com vestes informais, exceto em emergências, pois creio estar em serviço, creio representar um ministério em ação, com seriedade e com a função de executivo do Senhor. Se o irmão sente-se bem como está e não tem problemas de consciência, ou se os meus argumentos não lhe convencem, fique à vontade.
 
- Então estamos certos assim, Pastor Wagner? Ambos estamos certos, não é?
 
- Ambos estarem certos é outra questão que não está resolvida, colega.
 
- Ah, Pastor Wagner, o irmão não tem jeito mesmo! (risos).
 
- Vamos tomar o nosso café, que já está a esfriar!
 
- Viva!
....
 

Wagner Antonio de Araújo

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