terça-feira, 31 de outubro de 2017

memórias literárias - 548 - PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI ... DA REFORMA ...

PRA NÃO DIZER
QUE NÃO FALEI
... DA REFORMA ...
 

 
 
 
548
 
Por sugestão do Pastor Aparecido Donizete Fernandes, pastor das igrejas Igreja Batista Monte Alegre, em São Paulo, e Primeira Igreja Batista em Mocóca, SP, transcrevo parte da mensagem que preguei na PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE CIDADE QUARTO CENTENÁRIO, em São Paulo, SP, pastoreada pelo mestre Pr. Prof. Haroldo Rosendo Rico, no dia 16 de outubro de 2017.
 
Por ter sido uma fala sem esboço, fiz o caminho contrário, ou seja, da prédica ao texto. Assim, em alguns momentos, a liberdade de estilo não segue as regras estritamente formais, pois trata-se de uma palestra.
 
Espero que venha a ser útil aos leitores e que redunde em glória ao nome de Deus.
 
Outrossim, a mensagem pode ser assistida nos seguintes sítios:
 
PARTE 1
 
PARTE 2
 
 
 
A REFORMA QUE NÃO É NOSSA
Abram as Escrituras Sagradas no texto em I Timóteo 2.5:

" Porquanto há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem."
Eu sou um batista por convicção.

Na qualidade de batista eu tenho algo a dizer sobre a Reforma Protestante. E a primeira coisa que tenho a dizer é que ela é apenas parcialmente nossa; ela não é nossa. A REFORMA (o próprio nome diz) é oriunda de dentro do catolicismo: de monges, de padres, de acadêmicos católicos, que, ao longo da Idade Média descobriram que a fé baseada no tripé está errada; a fé legítima teria que ser baseada num pé só.

Qual era a fé do tripé? A fé do tripé, a fé romana, é a fé que baseia-se em três fontes de credibilidade.
 
A primeira é a Escritura Sagrada. O romanismo aceita a Bíblia como a Palavra de Deus. Somos semelhantes. Entretanto o romanismo tem outras duas fontes de fé.
 
A segunda é a tradição, ou seja, se sempre fizeram assim, se as pessoas se acostumaram a acreditar dessa forma, então isto é fé verdadeira. Logo, o que é tradicional na fé popular torna-se ítem de fé para que o romanista creia. Isto não está de acordo com a Palavra de Deus.
 
E a terceira fonte de credibilidade da fé, segundo os romanistas é o Sagrado Magistério, ou seja, a autoridade do Papa, que é infalível, tanto ele quanto os seus bispos falam em nome de Deus e se eu tiver que fazer uma escolha entre o que a Escritura Sagrada afirma e o que o Sagrado Magistério afirma eu, como romanista, acreditarei no Papa e não na Escritura Sagrada. Nós bem sabemos que isto não corresponde à realidade.

Foi por causa disto que surgiu na Idade Média pessoas, no século 14, da qualidade de Wycliffe, um acadêmico, doutor, um padre católico, que fundamentava as suas pregações na Palavra de Deus que, naquele tempo, não estava disponível para a população de língua inglesa e nem para ninguém da Europa, porque criam os cléricos católicos que somente a Igreja tinha autoridade para ler e para ensinar e também interpretar as Escrituras Sagradas. Mas Wycliffe acreditava que não, ele acreditava que cada pessoa da língua inglesa deveria ter uma cópia das Escrituras na língua vulgar, na língua popular, na língua de todos, para que pudessem segui-la. E foi perseguido duramente por causa disto, inclusive acusado injustamente de ser agente de motins, de lavradores, de operários, de pessoas que, valendo-se desta valorização do ser humano para interpretar a Palavra de Deus, acreditavam que poderiam irromper contra as autoridades.
 
Posteriormente um seguidor dele, John Huss, tornou-se maravilhosamente um outro clérico que proclamava as Escrituras Sagradas da mesma forma que Wycliffe fazia, só que este teve destino muito difícil, porque foi decretada a sua morte e ele foi considerado um arqui-herege e a sua decendência foi amaldiçoada, e ele foi queimado em praça pública. É o sangue destes homens que fez com que Lutero, hoje festejado, tivesse uma picada no meio da floresta sobre a qual trabalhar, para que pudesse trazer dentro da Igreja Católica reformas e, por ser alguém que protestou contra o catolicismo da época, principalmente contra as indulgências que apresentavam para o católico fiel a possibilidade de ganhar pedaços do céu, ou graças divinas ou perdão dos pecados em função de dinheiro que dessem para a construção da catedral da Igreja de São ´Pedro em Roma ou de outras obras sociais da Igreja Católica, denunciou que isto não estava de acordo com a Palavra de Deus. E ele, levado lá para prestar depoimento junto da autoridade eclesiástica, viu nisto, juntamente com os líderes políticos da Germânia, da Alemanha, a oportunidade de tirar o pescoço do jugo de Roma; porque o Papa era considerado o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Não havia rei de impérios europeus que não fossem coroados pelo Papa; logo, quem se indispusesse com o Papa se indisporia com todos os outros reis, porque o Papa fomentaria uma batalha para tirar a coroa de quem lhe era contrário e dá-la para alguém que lhe fosse favorável. No entanto os ventos sopraram de tal maneira que Lutero teve também a alegria de ver que os príncipes, que os nobres da Alemanha, estavam cansados deste jugo e então houve a convergência político-religiosa que deu margem a que a Alemanha tirasse o pescoço do jugo do império papal e as igrejas católicas alemãs passaram a ser igrejas apóstatas, agora chamadas de Igrejas Luteranas.

Isso fomentou na Suiça outros reformadores, todos no seio católico. Calvino foi mais longe que Lutero. Lutero trouxe uma reforma tremendamente importante. Os irmãos têm aqui um cartaz que dá os cinco fundamentos de sua reforma: somente a fé, somente a graça, somente Cristo, somente as Escrituras e somente a Deus darmos glória. Porém Lutero ainda deixou resquícios evidentes de um catolicismo que não saiu de suas veias. O batismo continuou sendo feito aos infantes e o ministro religioso continuou a dar a fórmula de absolvição dos pecados das pessoas, não do jeito católico, onde o sacerdote mediava o encontro do pecador com Deus, dizendo "reze dez aves marias e dez pai nossos que você será perdoado", mas mediante as Escrituras acreditava Lutero que o ministro ordenado tinha autoridade para dizer "os teus pecados estão perdoados". Era dada ao ministro. E tinha também a autoridade para escomungar aqueles que divergissem da sua autoridade. Conheço um pastor muito amado e muito querido, luterano. O seu pai divergiu do luteranismo nas décadas de sessenta e setenta aqui no Brasil.  A igreja luterana o chamou e disse: renuncie a essas suas idéias (estavam muito mais para as nossas do que para as idéias luteranas). Então a autoridade eclesial da igreja luterana decretou: você está escomungado do céu, você está separado da graça de Deus. você perdeu a sua salvação. Isso agora, no século 20! De forma que Lutero reformou sim, mas não na medida em que era necessário. Calvino foi mais longe. Calvino aboliu essa questão dos ministros, mas não chegou à questão do pedobatismo, do batismo dos infantes, do batismo dos pequenos, além do que, estabelecendo a sua teologia da predestinação absoluta criou um fatalismo praticamente insuportável, que não permitia quase que a evangelização, unindo com o poder político de Genebra, assim misturou IGREJA e ESTADO. Zuinglio fez o mesmo em Zurique, tendo alguma diferença de Calvino e assim as ferformas nas igrejas calólicas foram acontecendo.

E nós? NÓS NÃO ESTÁVAMOS LÁ. Nós já existíamos! Nós não somos igrejas reformadas no sentido de que éramos de um jeito e fomos melhorados; nós fomos organizados já do jeito certo!

Há três teorias a respeito do nascimento dos batistas.
 
A primeira delas é o que os acadêmicos aceitam hoje, de que nós também somos protestantes, porque somos oriundos de separatistas ingleses, que, perseguidos na Inglaterra fugiram para a Holanda e no ano de 1609 fundaram a primeira igreja que tem o nome IGREJA BATISTA. Acontece que esse ministro que formou a primeira igreja batista não a formou debaixo da estrutura da igreja anglicana. foi uma congregação nascida no meio do povo. Então nem com os acadêmicos que postulam essa teoria não somos protestantes de origem.

Há uma segunda teoria que diz que nós somos anteriores à reforma, nascidos no meio de um povo chamado ANABATISTAS, que eram congregações que surgiam no meio dos camponeses, no meio do povo da Europa, congregações que não tinham ligações umas com as outras, cujas doutrinas eram bastante semelhantes às nossas, com exceções evidentes, é claro, mas que povoaram o povo pobre da Europa e foram chamadas ANABATISTAS. Um deles, MENO SIMONS, numa grande perseguição, fugiu para as montanhas e os seus discípulos também o fizeram. Quando a perseguição diminuiu ele voltou e continuou a semear a Palavra. Foi em contato com esses discíuplos de Meno Simons que  foram chamados de MENONITAS que o primeiro pastor batista fundou a primeira igreja batista na Holanda em 1609. Logo a qualificação, o miolo batista, já existia antes da primeira igreja batista com este nome.

Mas há uma terceira teoria sobre a origem dos batistas. A chamada J-J-J
, Jerusalém - Jordão - João. Isto é, quando João Batista passou a batizar os arrependidos proclamando nova vida, ele começou algo que não parou mais. Transferiu esse ministério para Jesus, os discípulos de Jesus batizaram pessoas, um grupo seguiu ao Senhor. No dia da ascenção de Jesus quinhentas pessoas foram testemunhas oculares; no dia da vinda do Espírito Santo estavam cento e vinte reunidas no mesmo lugar quando o Espírito Santo proclamou e decretou o início da era da graça da igreja, e então três mil pessoas foram batizadas. A fé daquelas pessoas sempre existiu em algum grupo histórico, mesmo que não fossem chamados de batistas. De forma que o que identifica um batista, para quem crê em J-J-J, não é a nomenclatura, pois esta foi um carimbo que os inimigos deram aos que criam do jeito que os batistas criam. Mas o que torna alguém batista é a sua fé, a sua consciência. A salvação engloba todos os todos estes ítens da reforma, porém os batistas postulam ao longo dos séculos que:
 
  • O homem tem que ter liberdade de consciência para crer,
  • Que ninguém deve ser batizado se não houver conversão anterior,
  • Que o batismo e um simbolo de quem morre para o mundo e nasce para Deus,
  • Que as congregações não estão misturadas com o Estado. Estado é Estado e igreja é igreja,
  • E que tais congregações são democráticas no sentido de que elas mesmas se auto-governam;
  • Que não há um clero que recebe poderes mieraculosos, mas há servos que são escolhidos para pastores e para diáconos com vista ao aperfeiçoamento dos santos.
 
Assim os batistas viveram ao longo dos séculos subsequentes. No início dos batistas e também na história daqueles que eram os anabatistas, os protestantes ajudaram a matar gente que tinha a nossa fé: católicos e protestantes, "noite de São Bartolomeu", páginas sanguinárias da história da Europa, quando no início não éramos considerados gente séria. Hoje, contudo, os batistas, até a década de oitenta do século passado, eram a denominação que mantinha intactos os ensinos do Novo Testamento, e poderia se fazer uma referência e dizer: as igrejas que mais se assemelhavam ao Novo Testamento eram, sem sombra de dúvidas, as igrejas batistas. 

Hoje nós vivemos a época do tudo junto e misturado. Hoje não há mais batista, presbiteriano, assembleiano, wesleyano, não há mais nada. Todas as igrejas estão de certa forma parecidas. Mas há exceções. E toda igreja que não anda na senda do unionismo, que pega alguns valores em detrimento de outros, é uma igreja que luta pela essência da Palavra de Deus.

De forma que afirmo aquilo que disse no início:
 
A Reforma Protestante é parcialmente nossa. Em que sentido ela é nossa? O seus sustentáculos também são os nossos: somente a fé, somente a graça, somente Cristo, somente a Escritura e só a Deus damos glória.
 
Mas ela não é completamente nossa no sentido de que nós não somos reformados, nós já nascemos como uma igreja organizada biblicamente, não viemos da igreja católica.
 
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O restante da palestra abordou um dos cinco "SÓ", "SÓ CRISTO". Os que desejarem ouvir/assistir, acionem os links mencionados no início.
 
Que Deus nos abençoe.
 
Pastor Wagner Antonio de Araújo

31/10/2017

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