quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

memórias literárias - 619 - DIVINA ACUSAÇÃO

DIVINA
ACUSAÇÃO

619
Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. (Ml 3:8)
 
Não se trata de uma acusação desprovida de fundamentos. Ela foi pronunciada diante do vazio no gazofilácio do templo de Jerusalém, após a restauração de Israel, que estava cativo em Babilônia. O povo esqueceu-se de Deus; priorizou o orçamento pessoal. Abandonou a assistência do templo.
 
Não se trata de uma acusação feita por quem não tinha nada a ver com isso. Foi o próprio dono do Templo quem averiguou o comportamento desonesto do povo restaurado. Deus é quem o acusava.
 
Logo, Ele tinha absoluta razão e absoluto direito de acusar. Não apenas isso, mas de punir.
 
Isto mudou? Não. Os liberais cansam de tentar provar que não há mais dízimos no Novo Testamento, que os dízimos do passado eram para a Velha Aliança e para os levitas. Ledo engano. Na boca de Jesus ouvimos isso: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. (Mt 23:23). Jesus Cristo salientou o que era mais importante, mas não desprezou a prática do dízimo.
 
Quando a Igreja de Cristo foi fundada o dízimo expandiu-se em cem por cento. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. (At 2:45). Para estes felizes cristãos escatológicos, que esperavam Cristo para os seus dias, os bens materiais não tinham importância se não fossem compartilhados. Eles vendiam tudo e faziam um caixa único. Essa prática, conquanto motivada por um espírito de amor e de compartilhamento, não se mostrou sustentável ao longo do tempo, gerando distorções e terminando com a primeira grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Surgiram viúvas helenistas que não se sentiam alcançadas pelo sustento comum e surgiram mentirosos, que diziam dar tudo e retinham uma verba emergencial. Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. (At 6:1); E reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos. (At 5:2)
 
Estabelecidos os primeiros tempos da igreja encontramos o Apóstolo Paulo a estabelecer regras. Ofertas eram para ajudar os pobres e necessitados e deveriam ser levantadas no primeiro dia da semana, dias de culto já naqueles princípios: No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar. (1Co 16:2)
 
O dinheiro recolhido também servia para sustentar os pregadores do evangelho. Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho. (1Co 9:14); Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? (1Co 9:11); Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplos honorários, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; (1Tm 5:17)
 
Logo, ofertar na igreja foi, desde o início, compromisso dos cristãos, e o dízimo foi uma referência administrativa para que tanto a igreja quanto os crentes tivessem um sustento adequado, além de prover aos ministros do evangelho um digno salário. Aliás, que todos fossem trabalhadores e que ganhassem o seu próprio pão. Assim teriam para si e o que repartir com a igreja e com os necessitados. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. (2Ts 3:10); Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. (Ef 4:28)
 
Deus nunca precisou do nosso dinheiro, nunca estabeleceu um pedágio para a salvação e nunca julgou ninguém pelo seu patrimônio. Aliás, uma mulher sem patrimônio, mas com uma generosidade que colocou em risco o seu próprio pão, foi por Ele elogiada: Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha. (Lc 21:4). Se, por um lado nunca foi comprado por dinheiro, por outro avaliava o apego ao dinheiro de alguém que não conseguia viver sem reparti-lo. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades. Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!(Mc 10:21-23)
 
Sob o pretexto de não estar debaixo da lei mosaica muitos cristãos sem igreja ou, como dizem, "fora da instituição" abandonaram a prática do dízimo (que é um mínimo contribuído, já que no pensamento da igreja primitiva TUDO era do Senhor - e continua sendo!) e propagam uma auto-gestão de seus recursos (que nada mais é que a mantença do dinheiro consigo próprio para o que bem desejar).
 
A estes fica a acusação divina, com as suas severas consequências: Esperastes o muito, mas eis que veio a ser pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu dissipei com um sopro. Por que causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da minha casa, que está deserta, enquanto cada um de vós corre à sua própria casa. (Ag 1:9)
 
Cuidado, cristão! Não se estribe na falácia da liberdade libertina de não ter compromisso com a Casa do Senhor! Tal casa é a Sua igreja, a igreja local onde você assiste, onde se forma o Corpo de Cristo em que está inserido, onde reparte e recebe, onde ajuda e é ajudado, onde semeia e colhe. Pode ser uma congregação de duas ou três pessoas ou uma grande catedral bíblica. Seja fiel e não dê margem a receber a acusação divina quanto ao roubo das coisas de Deus.
 
Um abraço a todos, mesmo sabendo que não terei retorno de quase ninguém. Quando escrevo sobre coisas felizes e sobre bênçãos, recebo muitos retornos. Quando a espada corta do lado inverso (espada de dois gumes, que é a Bíblia), o silêncio reina. Mas não me importarei. Isso é antigo:  ... e lhes falarás e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus, quer ouçam quer deixem de ouvir. (Ez 3:11)
 
Wagner Antonio de Araújo

28/02/2018

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