sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

memórias literárias - 609 - E HOUVE VELÓRIO ...

E HOUVE
O VELÓRIO...
Pastor Jonas e irmã Clarice - 2005

Pr. Jonas e Pr. Wagner 2005

Em 2009 em Porto União PR, com seu pai Pedro

Em 2009 em Porto União
Em 2010 quando eu tive derrame facial

Em 2012 na igreja Batista Boas Novas do Rodoanel SP

Em 2012 com o irmão Isaías, na casa do Cantor Luiz de Carvalho
 
 
609
 
Escrevo com o coração partido. Sinto-me febril, emocionado, entristecido. Não passa pela minha mente qualquer revolta, pois creio na absoluta soberania de Deus. Mas a dor toma conta de meu coração.
 
Escrevi há pouquíssimos dias um artigo que teve ampla repercussão, "EU IREI AO SEU VELÓRIO", sendo que velório, no texto, corresponde a FUNERAL (nós não acendemos velas aos defuntos). Chamamos tudo de velório. Porém jamais pensei em ser notificado de que um amigo muito amado seria velado ontem mesmo, o Pastor Jonas Sommer. Não apenas o ele, mas, com ele, toda a família: Irmã Clarice, a filha Paulinha e o filho Marcos. Um carro, uma estrada, uma curva e um caminhão-tanque. Uma batida de frente e o fim trágico de toda a família.
 
Eu estava sem internet fixa, só a do chip do telefone celular. As mensagens demoraram a chegar. Mas quando vi no grupo COMPARTILHANDO, grupo de e-mails que o Pr. Norberto, o Pr. Airton e eu criamos em 2000, e que transformou-se no único grupo de whatsapp que utilizo, a mensagem do acidente, o meu chão sumiu. A minha esposa entrou em prantos; Milú condoeu-se. Nós amávamos o Pastor Jonas! Minha filhinha, tão tenra, veio abraçar-me e dizer: "Não chore, papai."
 
Ele era um batista do sétimo dia. Conheci-o há quatorze anos. Ele procurou o nosso grupo e assim apresentou-se. Eu sequer sabia da existência desses batistas. Ao conhecê-los vi-os com a mesma soteriologia, conquanto algumas práticas e o dia de guarda fossem distintos. Estudante brilhante da faculdade batista em Curitiba, foi consagrado ao ministério. Eu o trouxe à Boas Novas. Pregou maravilhosamente. Veio visitar-me quando estive com paralisia facial. Nos vimos novamente quando ele trouxe o irmão Isaías para tocar em nossa igreja. Pregou a Palavra. Fomos à casa do saudoso Cantor Luiz de Carvalho, um sonho antigo que ambos mantinham, de conhecer quem tanto os edificava com as canções que cantava. Posteriormente o Pr. Jonas eleito presidente de sua associação mundial e o nosso contato tornou-se muito limitado, como limitada é a comunhão de quase todos nós, infelizmente. Nossas frases eram curtas e um cantato pessoal ficava postergado.
 
Agora ele não está mais aqui. Nem ele, nem a esposa e nem os seus tenros filhinhos. Estão todos mortos. O sepultamento parece-me que teve que ser rápido, uma vez que o estado dos corpos isso exigia. Meu Deus, que dor e que tristeza!
 
Mas eu não estive no seu velório. Infelizmente. Porém procurei estar em sua vida enquanto pude. Há muitos que lamentam não ter dado a atenção necessária e possível quando alguém parte. Esse peso em minha consciência eu não terei. Aliás, tem sido a minha grande briga literária e pessoal, apontar para a nossa consciência sobre a frieza com que temos nos tratado, nos considerado e nos afastado uns dos outros. Em nome de uma agenda cheia deixamos os nossos relacionamentos afetivos e depois lamentamos a perda súbita de alguém, alterando qualquer programação para estar em seu velório. Eu quis ir também, mas a cidade era longe demais, seria um vôo e outras horas de ônibus. Não daria tempo. Além disto acredito que ninguém ali me conhecia e eu a ninguém também. Todos os que conheci estavam mortos. Meu Deus, quanta dor!
 
Está na hora de sermos mais afetuosos. Está na hora de procurarmos mais pelos nossos amigos e irmãos. Está na hora de sairmos do conforto do whatsapp e ligarmos para a pessoa, visitarmos as famílias, desfrutarmos da doce e maravilhosa bênção da comunhão. No grupo que mantenho vejo o contato dele; está ali. Passa-me a falsa impressão de que ele está presente; mas é apenas uma ilusão. Uma ilusão tão grande quanto a de que temos comunhão por termos uma multidão de contatos, mas que são apenas sinais e não corações. Satanás conseguiu afastar-nos uns dos outros, iludindo-nos com falsos sentimentos de presença. As lembranças pessoais que temos dos nossos amigos vão aos poucos se tornando matéria de museu, geralmente anteriores à facilidade das múltiplas comunicações que estão à nossa disposição hoje.
 
Irmãos, choro pela partida do meu amigo. Choro por sua esposa, companheira fiel, que morreu ao seu lado. E choro muito mais pelas criancinhas lindas, aqueles alemãezinhos, que não pediram para nascer e não tiveram a chance de desfrutar da adolescência, juventude, vida adulta, casamento, criação de filhos e envelhecimento. Como entender os desígnios de Deus? Como entender a permissão de Deus? Talvez só na glória celestial compreenderemos. Mas, sem dúvida alguma, ELE SABE O PORQUÊ PERMITIU. E reverentemente damos a Ele graças por tudo, até pela dor intensa. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. (1Ts 5:18)
 
Penso na sua casa. Algum familiar irá abri-la, se já não o fez. Camas que nunca mais receberão os seus moradores. Mochilas de escola que não serão mais abertas. Bibliotecas que não serão mais consultadas. Documentos que perderão o sentido de existir. Cozinha montada que não terá mais a quem servir. Jardim que não será mais regado. Sala que não testemunhará nenhuma reunião familiar. Telefone que não tocará mais. Vozerio tão costumeiro que não estará mais disponível. Creio que o que sinto agora nem às paredes conseguiria confessar...
 
Ah, bendita certeza a nossa, de que a vida não termina aí! Se terminasse seríamos os mais infelizes de todos os homens! Jonas, Clarice e os seus filhos criam em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, tinham a Cristo como o único mediador entre eles e Deus e construíram a vida sobre a rocha dos séculos! Cristo prometeu-lhes vida eterna e esta vida eles a possuem! Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; (Jo 11:25)
 
Jonas não era um batista clássico, como eu. Mas onde está escrito que eu deveria ter comunhão apenas com quem milimetricamente pensasse do meu jeito? A minha vida cristã tem sido dirigida a comungar com todo aquele que ama a Jesus Cristo como eu, ainda que em alguns pontos da teologia e eclesiologia tenhamos pensamentos divergentes e, em alguns casos, irreconciliáveis. Mas não há questão suficiente que limite a comunhão entre dois salvos pelo Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, que crêem piamente em seu nome e ressurreição! Jonas era meu irmão, meu amigo, um querido de minha alma.
 
Meu leitor: até quando estaremos escondidos numa falsa comunhão de milhares de contatos e curtidas, sem desfrutar de um contato pessoal com os nossos irmãos e amigos? Até quando protelaremos aquela visita, aquele telefonema, aquele contato prometido e nunca cumprido? Creia-me: um dia alguém ficará desolado, quando uma mensagem aparecer na mídia social: "fulano morreu". Pode ser que seja ele. Mas, se não for você o leitor, certamente ele saberá do seu falecimento.
 
Não espere isso acontecer.
 
Até breve, meu saudoso amigo Pastor Jonas! Até breve, família Sommer! Encontrar-nos-emos no Céu, não por nós, por nossos méritos, pois não os temos; mas pelos méritos de nosso Senhor Jesus Cristo, único e suficiente salvador!
 
Wagner Antonio de Araújo,
com lágrimas e dor, com intenso sofrimento.

16/02/2018

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