O
VALOR
DO
SILÊNCIO
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Há hora para
falar e não fazê-lo é crime e pecado. "Fala e não te cales!". É a voz do
evangelista que proclama a salvação, é a voz de João, o Batista, a clamar no
deserto no preparo de um povo em condições de receber o Messias de Israel. É a
voz que denuncia o pecado e que não pode deixar de
fazê-lo.
Mas há hora
de calar. Há hora em que o silêncio é mais eloquente do que mil palavras. Há
momentos em que nada dizer pode dizer tudo! Portanto, meus amados irmãos, todo o
homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tg
1:19).
Assistimos
perplexos às crises que o governo brasileiro provoca do nada, pura e
simplesmente por não ser capaz de fazer um pouco de silêncio até que as suas
próprias ações falem por si sós. Saímos de uma crise mal resolvida e, como um
raio, sofremos novo impacto com outra, pior do que a anterior, sem qualquer
razão útil ou fato novo! Jamais assistimos a tanto vozerio belicoso,
confrontador e inútil.
Em nossas
vidas pessoais somos vítimas do mesmo pecado e do mesmo erro. Quantas vezes
destruímos um dia que poderia ter sido tão lindo com o simples fato de falarmos
demais! Quantas vezes as nossas palavras amargam uma relação para sempre!
Quantas vezes quebramos o cristal de uma sólida amizade pelo simples fato de
dizermos coisas inconvenientes, coisas que estavam na ponta da língua e que
jamais deveriam ter sido liberadas!
Há quem perca
o posto de trabalho por não saber manter o silêncio. Há quem perca a aula por
não colocar os ouvidos a postos pelo uso inconveniente da própria boca! Há quem
destrua em cinco minutos a construção de meses de trabalho quando estoura
emocionalmente e diz coisas inconvenientes para quem nem de longe deveria ter
ouvido!
E se formos
às igrejas perceberemos que grande parte de seus males está no poder da língua,
este órgão tão pequenino e que se gaba de tão grandes coisas! A língua, segundo
Tiago, é fogo que coloca em chamas uma floresta inteira. Por causa das palavras
as guerras se levantam, os homens se matam, as famílias se separam e outros se
suicidam. São as palavras que mais marcam uma infância mal dirigida. Palavras
ruins dóem mais do que uma surra!
Quem fala
demais costuma não ser valorizado, uma vez que os ouvintes têm que filtrar muito
o que ouvem. No início até são levados em consideração. Com o tempo ele passa a
ocupar o papel do bizarro, do bisonho, do estranho, do maluco. Acaba por
tornar-se cão que ladra mas que não morde. Não morde mais atrapalha, machuca,
enraivece, entristece.
Diz o autor
de Eclesiástes que há tempo de falar e há tempo de calar. Há tempo em que
devemos dizer o que pensamos e outro em que nos calamos para que apenas nós e
Deus saibamos o que se passa em nós. Há tempo de tirar satisfações, mas há tempo
de nada mais dizer. Jesus Cristo em um momento abre a boca e diz: "Quem de vós
me acusa de pecado?"; posteriormente, quando indagado por Herodes e por Pilatos,
resolve nada dizer. Há tempo para todas as coisas e há tempo de
silêncio.
Eu já falei
muito e em muitas ocasiões fui feliz. Em outras, entretanto, falei demais e não
tive sucesso. Nos meus 54 anos de vida já experimentei todas as fases das
palavras e do silêncio. E confesso: há muito o que dizer, mas também há muito o
que calar. As frases mais contundentes que ouvi estavam em pessoas cujo silêncio
me encantava. Falavam pouco, mas o pouco que diziam era de uma profundidade a
toda prova. Palavras cujo valor em muito excederam o das pedras preciosas. Então
eu decidi também ter palavras dessa importância, poucas e
escolhidas.
Se cada um de
nós fizesse um exame de si próprio, avaliando quantas palavras tem dito e que
poderiam ter sido guardadas, nos espantaríamos com tanto vozerio perverso e
deselegante. Se nos conscientizássemos de que seremos julgados por aquilo que as
nossas bocas disseram, por aquilo que falamos pelos cotovelos, teríamos maior
responsabilidade com as nossas palavras, sejam elas faladas, escritas,
sinalizadas ou pensadas, pouco importa.
No silêncio
voluntário da alma podemos encontrar a solitude da comunhão com Deus. E enquanto
aquietamos a alma poderemos com maior certeza ouvir a voz de Deus, que fala em
nossa quietude. Quanto mais quietos e atentos maiores as chances de ouvir a voz
do Senhor. Lembremo-nos que foi assim que Elias ouviu a Deus: só depois que o
terremoto, o vento e o fogo se evadiram, dando lugar à brisa mansa e sossegada
de uma alma que se abre ao Senhor. "Fala, Senhor, porque o Teu servo
ouve!".
Queira Deus
que o meu silêncio não seja o da omissão, pois há hora para falar. Mas que seja
um silêncio solene de quem diz tudo num olhar, num gesticular, num simples
calar. Que os meus filhos aprendam comigo a falar menos e a dizer mais; a falar
pouco, mas falar com poder e com graça; a falar as palavras que o Senhor colocar
na alma e no coração.
Agora vou
encerrar, pois preciso silenciar enquanto o meu leitor medita em minha reflexão,
já agradecendo pela atenção dispensada.
Wagner
Antonio de Araújo
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