terça-feira, 3 de julho de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 10 - AMOR TERCERIZADO

 
10 - AMOR
TERCERIZADO
 
 
 
 
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Essa é uma espécie de amor muito comum nos dias atuais, quando as pessoas não querem mais contatos pessoais, senão os sociais, públicos ou indiretos. Trata-se de algo que se chama amor, mas que não o é de fato.
 
Amor tercerizado é quando alguém manda que outro dê lembranças e abraços ao bem amado, sendo que poderia fazê-lo por si próprio. É claro que há circunstâncias impeditivas e que exigem um intermediário (viagens, missões, falta de meios de comunicação etc). Mas geralmente quem costuma valer-se de outro para dar esses amorosos recadinhos só o faz por questão de etiqueta social ou de costume. O coração está longe de expressar algum amor autêntico. Ele não quer esforço ou investir qualquer tempo num contato.
 
Amor tercerizado é quando pagamos algo ao outro para diminuir a falta de assistência que deveríamos dar ao relacionamento. Há pais que pagam presentes caríssimos e suprem os filhos com dinheiro, viagens e surpresas extravagantes, só para não terem o aborrecimento de tê-los por perto a impedirem os seus compromissos pessoais. Os filhos crescem cheios de objetos e de oportunidades, mas sem afeto ou presença paternal. O resultado não poderia ser outro: seres infelizes, fadados à solidão e prontos a reproduzirem o mesmo com os seus descendentes.
 
Também é amor tercerizado quando um dos cônjuges crê já ter feito tudo pelo outro ao suprir a casa de víveres e conforto. Ele pensa que, por pagar as contas e dar "tudo do bom e do melhor" já deu tudo, quando, na verdade, não deu nada; não deu DE SI E A SI. Bens materiais não compram o amor verdadeiro. Nada substitui o afeto direto e claro no coração de quem ama; amor comprado não vale! Mais vale um prato de verduras ao lado de quem se ama do que um banquete caríssmo na ausência da pessoa amada.
 
Infelizmente vivemos o ápice da tercerização do amor. Multidões criam grupos de redes sociais e aplicativos de comunicação, enviando parabéns para um milhão de contatos, com mensagens plásticas e áudios gravados de telemensagens trabalhadas. Nem sequer se deram ao trabalho de anotar as datas, porque as máquinas fazem tudo automaticamente. E pensam que estão amando ardentemente! A realidade é muito outra: se dependesse deles não se lembrariam de quase nenhum aniversário. Além disto todo o sistema é ilusório: se o aplicativo acaber  não sobrarão amigos, ou talvez ficarão bem poucos...
 
Geralmente quem detém cargo ou função pública desfruta de muitos amigos e contatos que dizem respeitar e considerar muito tais pessoas. Quase sempre são procurados para para participar de festas, visitas, passeios, são consultados e elogiados publicamente. Mas se por questões diversas deixam tais funções e cargos vêem a agenda minguar drásticamente. Acabam-se os convites, não há mais festas, os seus nomes não são mais lembrados.  No ministério pastoral isto também é fato: enquanto numa grande igreja, o telefone toca o tempo todo na casa do pastor ou em seu celular. As pessoas bajulam e celebram. Se deixar o local ou assumir um outro, toda aquela demonstração de afeto termina, o telefone silencia, as amizades se esfriam (com exceções, é claro). A maioria das pessoas está mais interessada no DETENTOR DO MINISTÉRIO do que em quem o ocupa; este é descartável (graças a Deus há exceções!).
 
Há cristãos que querem dar amor tercerizado para Deus. Pagam votos, promessas, encomendam rezas, velas e celebrações, com o intuito de agradarem á divindade, como se esta fosse tão ingênua e crédula. Esquecem-se de que Deus é "um fogo consumidor" e de que "horrenda coisa" é cair em Suas mãos. Para Deus vale mais um silêncio de joelhos numa alma grata do que um discurso primoroso na voz de um hipócrita. Quem terceriza a própria fé não tem fé, assim como quem terceriza o amor não tem amor.
 
Jesus expressou-se com clareza sobre o que significaria amá-Lo. "Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. (Lc 14:26) (o texto pode ser vertido para "se alguém vier a mim e não me amar mais que... não pode ser meu discípulo"). Para Jesus é tudo ou nada. Ou Cristo ou qualquer outra coisa. Ou o buscamos pessoalmente ou não adiantará tercerizar o amor para Deus.
 
Como anda o seu amor? Tem expressado atenção e carinho a quem diz amar ou tenta justificar-se, reparando a falta de atenção com objetos, elogios ou outras futilidades? Pois saiba que o verdadeiro amor é pessoal, é espontâneo, tem que vir de dentro. O verdadeiro amor não depende de dinheiro, de bens, de ser o que não se é ou de mostrar o que não é verdade. O verdadeiro amor é simples, é direto, é autêntico. Uma linha escrita num pedaço de papel de pão, mas com amor, enviada pessoalmente, vale muito mais do que um carro zero quilômetro à porta, mas entregue por terceiros. Não continue assim. Mude! Ame.  Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (Jo 13:35); E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? (Tg 2:16); E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os que curei? E onde estão os nove? (Lc 17:17).
 

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