domingo, 1 de julho de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 07 - COMUNHÃO FORÇADA

 
 
07 - COMUNHÃO
FORÇADA
 
 
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O amor e a amizade não podem ser forçados. Eles devem ser como pistas de mão dupla: enquanto um vai o outro vem. Amor e relacionamento que só parte de um dos interessados não conta. Aliás, nem agrada.
 
Frutas amadurecidas à força perdem o sabor. Quando muito elas fazem lembrar a fruta do pé; mas nem de longe se compara àquela que frutificou por conta, espontaneamente. Assim é o amor e a amizade quando forçados: são uma encenação, que até pode lembrar o que poderia ser benfazejo numa comunhão plena. Mas não têm nem a beleza e nem a verdade necessárias.
 
Quando uma igreja depende de músicas e encenações públicas para provocar a comunhão entre as pessoas, já perdeu a chance da graça do amor. Como é desconfortável um culto onde o dirigente manda abraçar, beijar, falar coisas, como se isso fizesse brotar algum relacionamento efetivo! "Saia do seu lugar pulando, dançando e abrace o seu irmão! Vire para o seu irmão e diga: eu te amo" Lá fora, há pouco, eles nem se olharam, não trocaram uma palavra, vivem o tempo todo sem qualquer contato. Agora vestem-se de sorrisos, de palavras doces e abraços vazios, que não fecundarão nenhum fruto posterior. Quando o culto terminar um estará no ponto de ônibus, enquanto o outro seguirá com o carro vazio, terminando a viagem ao lado da casa daquele que deixou para trás.
 
A verdadeira comunhão brota como desabrocha a rosa numa roseira sadia. Não é preciso mandá-la florir. Não é necessário uma encenação, uma ordem para que desabroche. Ela irá florir naturalmente, no tempo certo. E sua flor terá aroma, terá beleza, terá viço, terá tudo o que uma autêntica rosa nos concede quando abre. Assim é a comunhão quando verdadeira: independe de beijações públicas, de musiquinhas jactantes ("eu te amo, você me ama, eu te abençoo, não vivo sem você etc). A comunhão se expressa nos bastidores, nos horários sem culto, quando a vida segue e a verdadeira expressão de comunhão se manifesta. Comunhão existe quando o outro não é mera figuração na construção de nossa vida.
 
Comunhão exige amor e cumplicidade. Um telefonema inesperado. Um cartão ou um presentinho inusitado. Uma visita graciosa. Uma ajuda em tempos de necessidade. Um quilo de arroz quando a mesa está deficitária. Tomar conta dos filhos quando a esposa vai ao médico. Ajudar na faxina quando estiver acamada. Estar presente quando atravessar por sofrimentos. Trazer uma pizza para desfrutar com a família. Repartir alegrias e partilhar tristezas. Perceber a ausência e fazer o outro sentir-se importante. Há tanta coisa que demonstra ser a comunhão muito mais do que com palavras e musiquinhas!
 
Neste tempo de evangelho plástico, de quadrinhos perfeitos com frases de clichês, o que mais se espera é ter alguém de carne e osso que queira relacionar-se conosco. Aliás, alguém com quem venhamos a nos relacionar de verdade. Amor não tercerizado (avise a Maria que eu lhe mandei lembranças - por que não disse isso pessoalmente ou em algum aplicativo de mídia?). Infelizmente hoje muitas igrejas vivem de massas imensas, cheias de celebração do vazio, fingindo ser o que jamais foram: uma família em Cristo!
 
Antes de encenar o amor, busque vivê-lo. Antes de publicá-lo, encha-o de conteúdo, para que não se torne uma prédica sem prática. Então, ao abrir a boca e cantar o amor, não será mera letra vazia, mero circo para alegrar a platéia. Será expressão poética de uma verdade vivida.
 
Para terminar: a comunhão começa comigo; o que posso fazer para ser alguém que não viva o amor com hipocrisia? O que posso fazer para amar sem fingir?
 
Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (1Jo 4:20)
 
Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. (1Jo 3:18)
 
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (Jo 13:35)
 

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