terça-feira, 10 de julho de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 12 - OS AMIGOS


12 - OS
AMIGOS
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Carlos André fora um executivo de grande sucesso numa empresa de comunicações. Seu nome era sinônimo de audiência, credibilidade, excelência. As suas linhas telefônicas tocavam o tempo todo. A sua caixa de e-mails era lotada. Com o surgimento dos celulares android, também era farta a comunicação por aplicativos. Poderia se dizer que era um homem muito bem situado.

A empresa onde trabalhava enfrentou a turbulência do mercado financeiro e das grandes concorrências. Ao cortarem gastos, cortaram-no também do quadro de funcionários. Carlos André perdeu o emprego. Com o emprego também acabou a sua popularidade. O telefone emudeceu; a caixa de e-mails esvaziou-se. Os aplicativos deixaram de acusar a presença dos amigos de sempre. Foi então que me procurou. Encontrei-o numa loja de conveniências de um posto de gasolina. Conversamos e oramos. Ele não estava em má situação; pelo contrário, como era organizado nos gastos, apenas aguardava que uma outra empresa o chamasse, o que poderia demorar diante da crise. Mas estava perplexo com o desaparecimento dos amigos.

- Pastor, é impressionante o silêncio dos colegas e amigos! Até ontem eu era popular, recebia mensagens, era convidado para encontros e reuniões. Eles simplesmente sumiram!

- Carlos André, eu conheço bem esse comportamento. As pessoas são amigas de sua posição, de sua influência, de seu cargo. Olhe para os políticos. Você se lembra de algum que deixou o cargo? Acredito que não. Ele foi esquecido. E os jogadores de futebol? Basta deixarem um time importante, terem os salários diminuídos, que são logos deixados de lado pelos comentaristas e pela mídia especializada. Você, como comunicador, sabe que os que faziam programas de tv e saíram, não são mais lembrados. Apenas quando alguém resolve fazer um quadro do "por onde anda fulano" é que deles se lembram, e para tratá-lo como um pobre coitado, não é mesmo?

- Mas não devia ser assim, pastor! Eu nunca tratei ninguém pela posição que tinha, pelo valor da conta corrente ou pela influência! Por isso sinto falta destes amigos! Não é justo que me desconsiderem assim!

- Caro irmão, as pessoas são assim mesmo. O filho pródigo tinha amigos enquanto o dinheiro era abundante. Ao fim dos recursos sumiram os amigos. Ao voltar para casa teve festança. Lembra-se de Davi, quando teve o trono usurpado pelo filho Absalão? Imediatamente foi trocado pelos amigos, não todos. Mas recuperou o o poder e os amigos reapareceram. O mundo é assim: "rei morto, rei posto", não importa quem seja.

- Mas isso é errado, pastor!

- Claro que é, meu irmão! Muito errado. É um insulto silente! Mas precisamos conviver com isso. Lembra-se do Senhor Jesus Cristo, ovacionado pelo público no chamado Domingo de Ramos? Foi preso na sexta-feira chamada Da Paixão e até os seus apóstolos o abandonaram! E o que foi que Ele fez com eles?

- Bem, eu acho que perdoou-os, estou certo?

- Sim, meu irmão. Ele os perdoou, ainda que não tenha ficado feliz com aquilo. E sabe o que mais? Ele tinha o suficiente com o Seu Pai; por isso não dependia do suprimento dos supostos discípulos. Nós, infelizmente, passamos a depender dos outros para sentir felicidade. Quando os amigos minguam, parece-nos que o mundo acaba. Mas não é assim. Lembre-se do que Jesus disse: Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. (Jo 16:32)

- Valeu, pastor! O Pai está comigo também, e isto me basta! Pode ter certeza de que o senhor será o primeiro a saber sobre a minha recolocação, ok? Continue a orar por mim!

Despedimo-nos. Saí convencido de que ele compreendera o que lhe falei. De fato a sua recolocação não demorou muito. E, no dia seguinte ao novo contrato, ele me ligou:

- Pastor, fui recolocado! Estarei na diretoria de outra emissora de comunicação!

- Meus parabéns, Carlos André!

- E tem mais, pastor! Aquela nossa conversa foi didática! Assim que eu comuniquei o meu reingresso, a minha caixa de e-mails lotou com mensagens dos amigos que haviam desaparecido! Eles vieram me saudar. Mas, cá pra nós, acho que vieram saudar o cargo!

Eu ri e disse:

- Aproveite o regresso, meu irmão. E não se estribe mais na fragilidade de amigos sujeitos às suas próprias limitações; estribe-se no Senhor Jesus, que nunca nos decepciona e jamais nos abandona!

- Pode deixar, pastor! Estou vacinado! Fico feliz com os amigos, mas sei que o verdadeiro valor está no Senhor Jesus! E também naqueles amigos que não sumiram enquanto estive desempregado! Tem uns poucos que merecem mais de mim. Obrigado, pastor, pela atenção!

(ficcional)

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Leitor caríssimo, não confie em sua popularidade, em sua fama, em seu dinheiro ou em sua saúde. Não confie em suas enormes redes sociais. Tudo isso passa e, quando passar, as pessoas lhe esquecerão também. Para não frustrar-se e não construir a casa de sua vida sobre a areia movediça dos interesses, confie em Jesus Cristo, Senhor e Salvador, que não nos valoriza pelo que temos (nada temos diante dEle!), mas por quem somos (Seus escolhidos, amados e salvos por seu precioso sangue!). Trate os amigos com amor, com ternura, mas também com absoluta consciência de que "O homem de muitos amigos deve mostrar-se amigável, mas há um amigo mais chegado do que um irmão". (Pv 18:24) Selecione alguns especiais, aqueles que ficam quando todos os outros vão embora. E invista nestes relacionamentos. Aos demais, seja bom e dê de si e a si, mas sabendo que  "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17:9)

Agradeço a Deus pelos verdadeiros amigos que tenho, que estão comigo em todos os momentos. E agradeço por aqueles que não estão o tempo todo. Que eu seja uma bênção para todos. Por Jesus, o meu melhor, maior e único COMPLETO AMIGO, o único que seguirá ao meu lado onde ninguém mais seguirá, para o além! Amém!

Wagner Antonio de Araújo

10/07/2018

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