segunda-feira, 23 de julho de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 18 - A MINHA PRIVACIDADE


18 - A MINHA
PRIVACIDADE

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O mundo criou uma armadilha, uma arapuca. Inventaram a tecnologia de comunicação digital, transformando o privado em público. Facilitaram e induziram o mundo todo a compartilhar as suas privacidades em sites e comunidades que prometiam sigilo ou, pelo menos, discrição. Quando os empresários geradores de espaço adquiriram todo o material pessoal dos usuários, ameaçaram divulgar os dados, trazendo pânico e apreensão. Algumas vezes permitiram vazamento das informações, provocando o caos para quem viu-se, da noite para o dia, despido diante do mundo todo. Outras vezes foram roubados, demonstrando não serem, de fato, possuidores de cadeados adequados. A verdade é: a privacidade de cada um de nós acabou.

As mídias estendem-se de continente a continente, multifacetadas e com uma gama infindável de produtos. Um simples preenchimento de cadastro para aquisição de um bem expõe inúmeras informações privadas de nossas vidas. Quantos não tiveram o telefone fixo invadido por ligações que não se completavam, ou de pessoas que nunca respondiam? Quantos não viram os seus e-mails repletos de propagandas que nunca solicitaram? Os perfis de redes sociais são invadidos por pedidos de amizade de gente que sequer existe, sem fotografia ou com fotos únicas e sem nada publicado. O mundo tornou-se um grande "BIG BROTHER", com um monitor a olhar-nos e a dizer-nos: "Eu sei quem você é e vou dizer para todo mundo".

Os nossos filhos nascem neste mundo exposto. Os pais, no afã de vê-los quietos, deixam o telefone celular com eles. Logo que são alfabetizados inscrevem-se em grupelhos de colegas de escola, criam alguns perfis infantis e, sem que se perceba, inserem-nos de forma irreversível neste mundo tenebroso. Crianças há que partilham pornografia e violência.  Pais inconsequentes publicam coisas de sua prole e nem percebem que o inimigo literalmente está à porta. Há alguns meses uma reportagem mostrou com que facilidade os bandidos descobrem quem são as crianças, os seus pais, onde elas estudam, a que horas chegam, em que clube se divertem e quem são os seus amiguinhos. Nós, no uso de telefones smartphones, celulares, telemóveis, somos surpreendidos quando recebemos mensagens do tipo: "você está em tal lugar; o que está achando?", "Pela quarta vez você passou por esta rua. O que veio fazer?", "A pessoa a quem você visitou está lhe procurando"...

Sair das redes e abandonar a tecnologia não é a solução. Afinal, são ferramentas úteis e, quiçá indispensáveis neste mundo moderno. A solução está no ensino bíblico: Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens; PERTO ESTÁ O SENHOR" (Filipenses 4.5). Duas verdades confortadoras: 1) Os homens devem ter acesso RESTRITO à nossa privacidade; 2) É DEUS quem deve ter acesso IRRESTRITO a nós. Que maravilhosas afirmações! O autor de Provérbios, ao falar sobre a privacidade do amor no casamento diz: Sejam para ti só, e não para os estranhos contigo. (Pv 5:17). Uma foto simples da família, dos filhos, um momento público nosso é lindo para divulgar; mas algo íntimo e que só interessa ao casal ou à família (um bem, um documento, um momento privado) não deve ser compartilhado. Sobre comentar de tudo e de todos assim diz a Escritura: Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tg 1:19). Quem fala demais acaba por expor-se e comprometer-se. A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma. (Pv 18:7). Quantos políticos e quanta gente pública é demitida sumariamente por ter publicado coisas das quais hoje se arrepende, ou, mais comum ainda, afirmações politicamente incorretas aos olhos do mundo contemporâneo! Por fim, quem repassa coisas que ACHA verdadeiras e que não dizem respeito a si próprio, mas o faz sob o pretexto de patriotismo, de ativismo etc, age como o mexeriqueiro e o mentiroso: Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não te porás contra o sangue do teu próximo. Eu sou o SENHOR. (Lv 19:16)

O segredo para a paz virtual é nos abrirmos com Deus e nos limitarmos para com o público. Não precisamos de curtidas, nem de inúmeras visualizações, nem necessitamos de tantos aplicativos para nos sentirmos socialmente adaptados. Troquemos tudo isso por uma vida quieta e sossegada, guiada pela parcimônia e pela privacidade de nossas particularidades. Mário Prata, articulista contemporâneo, diz que transformamos um prato de macarrão em um produto digital: enquanto ele esfria no prato, transformamo-lo num selfie e aguardamos a opinião dos outros, perdendo a chance de desfrutá-lo naquela hora. Sede de exposição.

Eu sou um homem público. Já transformei viagens privadas e momentos pessoais em partilhamento amoroso com o público. Cedo descobri que estava errado: expus demais. Tornei-me alvo de agressões, de inveja, de desdém. O que foi festa em privado tornou-se tortura em público. Hoje só partilho o que diz respeito ao ministério e o que testifica do poder de Deus em nossa família. O quê,  como, o que fiz, o que disse ou o que pensei é da minha conta e da conta de Deus, não da conta dos outros. Entendi a importância de ter uma rede não pública, com um único destinatário, que vale muito mais do que a totalidade dos contatos de uma vida: A REDE COM DEUS! Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. (Mt 6:18). Quanto a mensagem do evangelho, esta é pública e procuro torná-la o mais divulgada possível, usando toda e qualquer ferramenta tecnológica, atendendo ao ensino do Mestre: O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. (Mt 10:27). Mas a minha fé e intimidade pessoal, é minha e de Deus: Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus.  (Rm 14:22)

Que o inimigo não nos chantageie com a invasão de nossa privacidade. Saiamos desta arapuca.

Wagner Antonio de Araújo


23/07/2018

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