A MINHA
ALÇADA
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Sei tudo o que acontece no
Supremo Tribunal Federal, na Câmara, no Senado, na prefeitura, na operação
Lava-Jato. Mas não sei o que o meu filho pensa, nem o que faz, nem o que
escolhe.
Sei de todas as manchetes
que a Folha de São Paulo trouxe hoje. Também o que o Estadão e a Veja
anunciaram. Conheço todos os vídeos da Joice e tudo o que os comentaristas
políticos e econômicos dizem sobre a crise com o novo presidente dos Estados
Unidos. Mas nada sei sobre os pensamentos de minha esposa, sobre suas lutas,
seus conflitos, seus desejos e seus dilemas. Nada sei sobre a pessoa que dorme
do meu lado, ainda que saiba o cardápio da refeição oferecida ao prefeito
eleito.
Conheço todas as traições
dos casais chamados de celebridades. Sei sobre quem fica, quem sai, quem entra,
quem trai, conheço todas as fofocas e já vi todas as fotos comprometedoras dos
artistas. Estou antenado sobre quais os programas que entram ou que saem da
grade dos canais. Já vi todas os deslizes e falhas de gravação. Mas não faço a
mínima idéia do que acontece em minha família, do que a minha filha enfrentou no
ENEM ou de quem desejou estragar o meu casamento.
Estou com o celular plugado
nas últimas notícias e conheço tudo o que acontece no mundo. Mas não sei de nada
da minha alçada, da minha casa, da minha família, da minha igreja, da minha
própria vida. Sou mais íntimo da mídia do que de mim mesmo! Enquanto acompanho o
crescimento da árvore da rua esqueço-me do mato que cresce sem controle no meu
próprio jardim!
O grande
trunfo de Satanás nos dias de hoje é tornar-nos íntimos de estranhos e estranhos
dos íntimos. Ele cega a nossa vista de tal forma que priorizamos o supérfluo e
desvalorizamos o essencial. Tornamo-nos especialistas em banalidades e
analfabetos nas prioridades. Somos conhecidos do mundo e desconhecidos em casa.
Ao invés de sermos geradores de vida transformamo-nos em terminais obtusos de
uma rede distante que sequer sabe de nossa existência.
"Olhai por vós mesmos" (1
Jo 2.8). Os países do mundo atravessam uma onda crescente de revolta, buscando
líderes que falem menos dos outros e mais de si próprios. As nações se
preocuparam tanto com a globalização que esqueceram-se de se seus próprios
cidadãos. A história cobra a fatura e a humanidade reclama o abandono de si
própria. Clamam para que se cuide do quintal interno ao invés de se cuidar da
casa alheia.
Temos a solução para a
crise econômica do país, mas não conseguimos administrar as nossas próprias
finanças. Sabemos como aquele casal poderá se dar bem, mas não conseguimos
avançar na reconciliação com o nosso cônjuge. Sabemos como resolver o problema
da delinquência juvenil, mas não nos relacionamos adequadamente com os filhos
rebeldes que geramos. Cobiçamos o bem alheio e não valorizamos o bem próprio.
Cuidamos da vida dos outros e não zelamos da vida que temos.
É preciso voltar à nossa
alçada! É preciso desligar o farol alto e ligar o farol baixo, para olhar a
estrada de perto e o seu arredor. Antes de analisarmos o mundo precisamos
analisar a nossa própria existência e cuidar para que ela tenha alguma
relevância. Antes de concluir qoe o mundo precisa de Deus é necessário concluir
que nós precisamos muito mais, e que precisamos tê-lo em nós, em casa e na vida!
A sensação de tortura e de ansiedade constante está mais ligada à linha direta
com tudo e a linha desligada com a minha própria vida. O mundo era mais mundo
quando as noites eram feitas de famílias aos pés de si mesmas e em comunhão
consigo proópria do que hoje, quando jantamos ao lado do noticiário infinito de
novidades requentadas.
Chega! Vamos cuidar de
nossa alçada! Vamos voltar ao nosso mundo e à nossa responsabilidade! Será que
nos lembramos do quanto quisemos orar e não encontramos tempo? Lembramo-nos do
compromisso de ler toda a Bíblia em um ano e que não passamos de Gênesis 10?
Lembramo-nos do culto doméstico com o qual nos comprometemos realizar algumas
vezes por semana? Tudo isso está por fazer, desde que cuidemos de nossa alçada!
Há um bairro em Osasco
chamado São Vitor. Uma senhora e um senhor, aposentados, compraram uma casa para
terminarem a vida bem instalados. A frente era coberta por mato e lama, ainda
que a casa fosse boa. Eram idosos, mas ainda andavam e podiam fazer coisas.
Então, devagarinho, sem pressa, reviraram a terra, adubaram, compraram mudas de
grama, rosas e flores diversas, e trabalharam naquele terreno. Dia após dia
faziam um quadradinho de jardim. Com o tempo o gramado se estendeu, as roseiras
floriram, as margaridas desabrocharam, as folhagens multicores cobriram as
beiras. Tornou-se o mais lindo jardim do bairro. Alguém perguntou àquela
senhora: "por que fez isso?", ao que respondeu: "porque era da minha alçada".
Sim, somente eles poderiam fazer isso. E fizeram.
Que tal fazermos o mesmo?
Nossa esposa, nossos filhos, nossa fé, nossa igreja, nossa rua, nossa missão,
nosso destino, aguardam uma resposta nossa. Qual será?
Wagner Antonio de
Araújo
11/11/2016
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