sexta-feira, 11 de novembro de 2016

memórias literárias - 374 - A MINHA ALÇADA

A MINHA
ALÇADA
 

 
374
Sei tudo o que acontece no Supremo Tribunal Federal, na Câmara, no Senado, na prefeitura, na operação Lava-Jato. Mas não sei o que o meu filho pensa, nem o que faz, nem o que escolhe.
 
Sei de todas as manchetes que a Folha de São Paulo trouxe hoje. Também o que o Estadão e a Veja anunciaram. Conheço todos os vídeos da Joice e tudo o que os comentaristas políticos e econômicos dizem sobre a crise com o novo presidente dos Estados Unidos. Mas nada sei sobre os pensamentos de minha esposa, sobre suas lutas, seus conflitos, seus desejos e seus dilemas. Nada sei sobre a pessoa que dorme do meu lado, ainda que saiba o cardápio da refeição oferecida ao prefeito eleito.
 
Conheço todas as traições dos casais chamados de celebridades. Sei sobre quem fica, quem sai, quem entra, quem trai, conheço todas as fofocas e já vi todas as fotos comprometedoras dos artistas. Estou antenado sobre quais os programas que entram ou que saem da grade dos canais. Já vi todas os deslizes e falhas de gravação. Mas não faço a mínima idéia do que acontece em minha família, do que a minha filha enfrentou no ENEM ou de quem desejou estragar o meu casamento.
 
Estou com o celular plugado nas últimas notícias e conheço tudo o que acontece no mundo. Mas não sei de nada da minha alçada, da minha casa, da minha família, da minha igreja, da minha própria vida. Sou mais íntimo da mídia do que de mim mesmo! Enquanto acompanho o crescimento da árvore da rua esqueço-me do mato que cresce sem controle no meu próprio jardim!
 
O grande trunfo de Satanás nos dias de hoje é tornar-nos íntimos de estranhos e estranhos dos íntimos. Ele cega a nossa vista de tal forma que priorizamos o supérfluo e desvalorizamos o essencial. Tornamo-nos especialistas em banalidades e analfabetos nas prioridades. Somos conhecidos do mundo e desconhecidos em casa. Ao invés de sermos geradores de vida transformamo-nos em terminais obtusos de uma rede distante que sequer sabe de nossa existência.
 
"Olhai por vós mesmos" (1 Jo 2.8). Os países do mundo atravessam uma onda crescente de revolta, buscando líderes que falem menos dos outros e mais de si próprios. As nações se preocuparam tanto com a globalização que esqueceram-se de se seus próprios cidadãos. A história cobra a fatura e a humanidade reclama o abandono de si própria. Clamam para que se cuide do quintal interno ao invés de se cuidar da casa alheia. 
 
Temos a solução para a crise econômica do país, mas não conseguimos administrar as nossas próprias finanças. Sabemos como aquele casal poderá se dar bem, mas não conseguimos avançar na reconciliação com o nosso cônjuge. Sabemos como resolver o problema da delinquência juvenil, mas não nos relacionamos adequadamente com os filhos rebeldes que geramos. Cobiçamos o bem alheio e não valorizamos o bem próprio. Cuidamos da vida dos outros e não zelamos da vida que temos.
 
É preciso voltar à nossa alçada! É preciso desligar o farol alto e ligar o farol baixo, para olhar a estrada de perto e o seu arredor. Antes de analisarmos o mundo precisamos analisar a nossa própria existência e cuidar para que ela tenha alguma relevância. Antes de concluir qoe o mundo precisa de Deus é necessário concluir que nós precisamos muito mais, e que precisamos tê-lo em nós, em casa e na vida! A sensação de tortura e de ansiedade constante está mais ligada à linha direta com tudo e a linha desligada com a minha própria vida. O mundo era mais mundo quando as noites eram feitas de famílias aos pés de si mesmas e em comunhão consigo proópria do que hoje, quando jantamos ao lado do noticiário infinito de novidades requentadas.
 
Chega! Vamos cuidar de nossa alçada! Vamos voltar ao nosso mundo e à nossa responsabilidade! Será que nos lembramos do quanto quisemos orar e não encontramos tempo? Lembramo-nos do compromisso de ler toda a Bíblia em um ano e que não passamos de Gênesis 10? Lembramo-nos do culto doméstico com o qual nos comprometemos realizar algumas vezes por semana? Tudo isso está por fazer, desde que cuidemos de nossa alçada!
 
Há um bairro em Osasco chamado São Vitor. Uma senhora e um senhor, aposentados, compraram uma casa para terminarem a vida bem instalados. A frente era coberta por mato e lama, ainda que a casa fosse boa. Eram idosos, mas ainda andavam e podiam fazer coisas. Então, devagarinho, sem pressa, reviraram a terra, adubaram, compraram mudas de grama, rosas e flores diversas, e trabalharam naquele terreno. Dia após dia faziam um quadradinho de jardim. Com o tempo o gramado se estendeu, as roseiras floriram, as margaridas desabrocharam, as folhagens multicores cobriram as beiras. Tornou-se o mais lindo jardim do bairro. Alguém perguntou àquela senhora: "por que fez isso?", ao que respondeu: "porque era da minha alçada". Sim, somente eles poderiam fazer isso. E fizeram.
 
Que tal fazermos o mesmo? Nossa esposa, nossos filhos, nossa fé, nossa igreja, nossa rua, nossa missão, nosso destino, aguardam uma resposta nossa. Qual será?
 
Wagner Antonio de Araújo

11/11/2016

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