segunda-feira, 4 de setembro de 2017

memórias literárias - 521 - VIOLÃO VELHO

VIOLÃO
VELHO

 
521
 
Quando Milú veio trabalhar em nossa casa, em 1983, minha mãe lhe presenteou um violão. Era simples, o mais barato que havia. Cordas de nylon, acabamento simples, era ideal para uma aprendiz. Milú não seguiu no curso que começara e o instrumento ficou no guarda-roupa por mais de 30 anos.
 
Ao nascer Rutinha, minha filha, Elaine e eu decidimos celebrar os cultos domésticos com música. Milú lembrou-se do violão velho e dedicou-o ao culto. Rutinha, afoita, acabou pisoteando-o quando não estávamos presentes. Arrebentado, com o som danificado, ainda emitia som razoável. Numa noite uma corda estourou e então só cinco cordas restavam.
 
- Jogue-o fora!
 
- Não! Para o nosso uso pessoal ele estará bem. Ele ainda será muito útil!
 
E foi o que fizemos. Os nossos cânticos simples, no culto doméstico, passaram a ser acompanhados com o som do violão velho. As cifras não ficam perfeitas com a corda faltante, mas são harmônicas para embelezar o cântico que entoamos a Deus. Às vezes, antes de colocar as crianças para dormir, celebramos o culto sem o instrumento musical. Rutinha protesta: "mamãe, quero violão!" E nós o pegamos e usamos em nossa adoração.
 
Com este violão estamos educando Rutinha nos caminhos do Senhor. Um violão velho, talvez fadado ao desprezo, tornou-se útil e importante no propósito do Senhor. Não importa que sua madeira esteja rachada, não importa que falte uma corda. Ele é especial. Rutinha (e posteriormente Josué, o nosso segundo filho que é um bebê) se lembrarão com carinho de tudo o que aprenderam em louvor ao Senhor com o uso do violão velho.
 
Talvez alguém que me leia neste dia sinta-se também um instrumento velho, quebrado, ultrapassado. Tantos planos para o futuro, tanta esperança, e acabou engavetado por décadas, sem progresso ou utilidade. Não viveu; vegetou. Não cresceu; estagnou-se. Sentiu-se esquecido de tudo e de todos; e, quiçá, esquecido por Deus.
 
Contudo, Deus não esqueceu-se de sua vida, se de fato você o ama e foi transformado por Ele. Mesmo envelhecido com o curso do tempo há ainda um  trabalho no Reino para a sua vida. Ainda que algumas cordas tenham se rompido com as tristezas, com os dissabores, com as frustrações e desgostos, alguma coisa sobrou para ser usada!  Talvez seja você um pastor que sofreu incompreensões e injustiças; talvez um louvador que foi deixado de lado nos cultos. Talvez um professor que nunca mais foi escalado, ou um evangelista que perdeu o posto. Talvez um empregado abandonado, um empresário falido, um servidor sem serviço.
 
Se Deus usa até um violão velho e o faz tão precioso e importante, também poderá fazer de sua vida algo muito especial na história de algumas pessoas que cruzarem o seu caminho, em alguma congregação cristã bíblica onde você servir a Deus e na vida de sua família e amigos. Faça o que Milú fez com o violão velho que possuia: coloque-se à disposição! Digo-lhes que Elaine e eu não trocaríamos o violão velho de nossos cultos por um violão caro e cheio de luxo. Porque o luxo não aceita o esforço, o trabalho duro e o sofrimento; o esforço por preservar o luxo turbaria a sua utilidade. O violão velho, pelo contrário, é versátil, aceita qualquer desafio e pode ser levado para qualquer lugar. Ele é um servo, assim como você, que me lê, deve ter o coração de serviçal do Senhor, serviçal do próximo também.
 
Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; (Ef 6:6)
 
Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. (Jo 13:14)
 
Que tal? Vamos tirar a poeira de nossa caixa, deixar Deus afinar as cordas que nos restam e tocar a canção de uma vida útil e preciosa? Deus tenciona tocar lindas canções de salvação através de nós.
 
Que sejamos violões velhos nas mãos de Deus!
 
Wagner Antonio de Araújo

05/09/2017

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