quarta-feira, 27 de setembro de 2017

memórias literárias - 532 - EFÉSIOS - A IGREJA - O CORPO DE CRISTO - MENSAGEM 01

A EPÍSTOLA
DE PAULO
AOS EFÉSIOS

Por Wagner Antonio de Araújo,
Pastor da
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba,
São Paulo, Brasil

INTRODUÇÃO

Pregar sobre a Epístola de Paulo aos Efésios é um desafio a qualquer pregador, ainda que o nosso intento não seja expor a carta dentro dos critérios da exposição bíblica, mas pregar textualmente algumas seleções da carta.

O primeiro desafio diz respeito ao que não abordar, diante do vasto conteúdo de informações encontradas nos livros, bíblias de estudos, comentários, dicionários e informações arqueológicas. Discernir o que se quer destacar do que se deixará para estudos particulares é uma decisão difícil.

O segundo desafio é o de ser fiel ao conteúdo bíblico e não turbar-lhe a pureza. Um pregador que não é fiel ao texto expõe inverdades bíblicas e causa mais estragos do que benefícios aos seus ouvintes. Um texto bíblico deve ser compreendido à luz de leis hermenêuticas claras, honestas, que não causem conflito com outros livros da bíblia e com os contextos diversos em que foram escritos (público-alvo primeiro, cultura e sociedade da época, motivos que levaram à escrita, autoria, local, data etc).

A bênção, contudo, reside em ajudar ao partícipe dos cultos na melhor compreensão da relevante mensagem desta epístola, que enaltece Cristo como Senhor de todo o universo e esclarece de forma contundente a posição do crente em relação a Deus: predestinado, remido, comissionado, seguro. Temas assaz relevantes, difíceis, porém muito práticos e edificantes, se analisados em oração ao Senhor, em santa piedade e no desejo sincero de obedecer a Deus.

Assim, nesta introdução, abordaremos cinco questões, que apresentamos agora.

I – AUTORIA

Muitas discussões são feitas pelos doutores bíblicos, pelos teólogos, pelos críticos, pelos mestres em teologia. Tais discussões afloraram em fins do século 19 e princípios do século 20. A grande questão era: quem escreveu a carta?

Durante toda a história das igrejas cristãs não houve questionamento da autoria. Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, era o seu autor. Erasmo, que compilou o Novo Testamento grego quase à época de Martinho Lutero, achou um vocabulário diferente na carta se comparado a outras epístolas paulinas, excetuando-se Colossenses. Isto foi o estopim para uma enxurrada de críticos da autoria questionarem se Paulo realmente havia escrito a carta.

Os conservadores consideraram que Paulo era o seu autor. Consideraram que a carta fora escrita logo após o apóstolo ter escrito Colossenses, razão pela qual ambas possuem muitos pontos em comum. Mas os liberais apontaram todo tipo de autoria. Alguns diziam que Paulo deixou que um amanuense a escrevesse. Outros que Filemon a compôs. Outros disseram que um discípulo de Paulo, muitos anos depois, preparou a carta como uma introdução à literatura paulina, uma apresentação dos principais temas das outras cartas.

A verdade é uma só: Paulo foi o escritor desta carta, incontestavelmente.

II – DESTINATÁRIO

Lemos no início da Epístola que ela foi enviada aos santos que viviam em Éfeso. Contudo, estes destinatários não aparecem em muitas cópias de manuscritos mais antigos. Além disto a carta fora endereçada para uma igreja muito querida para Paulo. Lá ele ajudou a fundar o trabalho de Deus, ao lado de Áquila e Priscila. Lá ele lutou com feras, perseguido. E lá também viveu por 3 anos, lecionando numa escola. Sua influência na cidade fora tanta, que os comerciantes de oratórios de prata da deusa Diana (Ártemis) tentaram matá-lo. E, para surpresa dos leitores, a carta não faz quase nenhuma citação pessoal, como é comum em outras epístolas, dando a impressão de que não fora realmente endereçada a tão amada igreja que Paulo conhecera.

Os críticos logo vieram em combate de Éfeso como destinatária. Disseram que ela, na verdade, era a carta “aos laodicenses”, mencionada em Colossenses, carta perdida. E que um copista no segundo século incluiu “em Éfeso” para homenagear a cidade. Por isso muitas cópias antigas não possuíam destinatários a não ser “aos santos e fiéis em Cristo Jesus”. Quem estaria certo?

A melhor solução foi proposta por conservadores. A carta originalmente foi escrita aos efésios. Contudo, copiada diversas vezes para ser distribuída e lida em outros locais, teve cópias sem endereçamento. Por esta razão existem manuscritos com e sem o destinatário Éfeso. Paulo enviou a carta a Éfeso, mas ela serviu de encíclica (circular) entre as igrejas próximas, algumas conhecidas, outras desconhecidas.

A origem da igreja de Éfeso está em Atos 18.18. O apóstolo Paulo deixa ali o casal Áquila e Priscila e despede-se. Há uma congregação iniciante. Um pregador eloqüente chegou, Apolo. O casal de missionários chama-o e apresenta-lhe de forma mais correta o evangelho, pois ele só conhecia o batismo de João. Pouco tempo depois Paulo regressa à cidade. Encontra discípulos de João, uma dúzia. Pergunta-lhes se já receberam o Espírito Santo. Eles dizem nem saber que existia. Paulo os redoutrina e rebatiza-os em nome do Senhor Jesus. Gasta três meses a anunciar Jesus Cristo na sinagoga, sem grandes resultados. Deixa de ir lá, separa os discípulos e investe dois anos inteiros na Escola de Tirano, discipulando e evangelizando. Toda a cidade ouviu de Cristo.

Os resultados foram tão grandes, que Demétrio, um ourives, faz um levante geral contra Paulo, pois os lucros dos nichos de prata, oratórios para a deusa Diana (Ártemis) estavam correndo perigo. No fim do tumulto Paulo deixa a cidade. E fica ali uma abençoada igreja do Senhor, que se reunia nas casas. É para essa igreja que a carta é escrita. Também foi para essa igreja que Cristo endereçou uma das cartas de Apocalipse.

Éfeso era uma grande cidade, tendo cerca de 250 mil habitantes (há quem calcule em 500 mil). Era portuária, estava à beira do Mar Egeu. Hoje ela é uma ruína há três quilômetros de Selçuk, na província de Esmirna, na Turquia (houve assoreamento, daí a atual distância da água).

Era a capital da província da Ásia, residência do governador da província. Era uma das cinco principais cidades do império romano: Roma, Antioquia, Alexandria e Corinto eram as outras. Possuía 3 ginásios e um teatro para 25 mil pessoas. Tinha banhos públicos (piscinas) e um comércio promissor, zona portuária onde gente do mundo inteiro passava. Possuía o TEMPLO DE ÁRTEMIS OU DIANA, uma das sete maravilhas do mundo. Era uma deusa grega (Ártemis), conhecida por Diana pelos romanos. O templo levou 2 séculos para ser construído. Possuía 127 colunas de 20 metros cada, piso e paredes de mármore. O culto era feito por orgias, promiscuidade cúltica. As sacerdotisas se vendiam diante da imagem aos “adoradores”.

III – DATA E LOCAL DE ESCRITA

Paulo a escreveu da prisão. Faz parte das chamadas “epístolas da prisão”, que são Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon. Paulo escreveu Efésios em seguida a Colossenses. Ele estava preso em Roma, numa casa alugada, prisão domiciliar, enquanto aguardava o andamento de seu processo. Ele pedira para ser julgado por César, equivalente hoje à mais alta instância judiciária. Por dois anos ali viveu. Em 64 Roma foi incendiada por Nero. Então ele a escreveu entre 59-63. A data mais aceita é em 62 d.C.

Ao escrevê-la, entregou-a para que Tíquico a encaminhasse pessoalmente. Muito provavelmente Tíquico entregou a carta aos efésios e também foi a Colossos entregar a carta aos Colossenses, como também a que Paulo endereçou a Filemon.

IV – TEMA E DIVISÕES DA CARTA

Há muitos temas e sub-temas propostos pelos estudiosos. Cada um tem a sua relevância. Nós aceitaremos o seguinte tema: A IGREJA, CORPO DE CRISTO. Esta idéia é esplendidamente desenvolvida ao longo de seus seis capítulos, subdivididos em duas partes:

1 – O QUE OS CRENTES SÃO EM CRISTO – capítulos 1 a 3; 2 – O QUE OS CRENTES DEVEM FAZER POR ESTAREM EM CRISTO – capítulos 4 a 6.

Há uma interessante divisão proposta por alguns estudiosos, resumidas em três palavras essenciais: ASSENTADOS – ANDANDO E FIRMES. Estamos assentados em Cristo, andando em Cristo e firmes em Cristo. O texto nos indica todas as bênçãos advindas desta posição no Senhor. Mostra que fomos feitos uma terceira raça pelo Senhor, nem judeus e nem gentios, mas salvos, unidos no mesmo corpo, que é a Igreja, em Cristo, que é o cabeça da mesma.

Que o Espírito Santo nos conduza nestas próximas meditações.
 
  
Biblioteca de Celso                      Posição de Éfeso no mapa

 
  Éfeso à direita e o mar à esquerda -               Ruínas
 
   
Ruínas do templo de Diana                            Ruínas do teatro

  
  
O templo originalmente -             Cópia da imagem de Diana

Nenhum comentário:

Postar um comentário

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...