domingo, 2 de agosto de 2015

memórias literárias - 227 - O TEMPO É RELATIVO


O TEMPO É RELATIVO
227
 
Hoje eu ganhei uma hora junto de minha filha Rute Cristina Farias de Araújo na Maternidade Santa Joana. Ela está internada na UTI, recuperando-se da cirurgia a que foi submetida.
 
Uma hora! Meu Deus, foi tão pouco! Ao chegar deparei-me com minha esposa acalentando-a. Logo solicitei-lhe que me desse aquele pacotinho embrulhado num lençol. Tomando-a nos braços, as lágrimas verteram-me sem trégua. Sou chamado papai-coruja-chorão naquela UTI. Não eram lágrimas de tristeza, mas de felicidade por tomar em meus braços o fruto que o Senhor me concedeu. Sempre me lembro de Simeão a tomar Cristo no colo, dizendo: "Agora despede em paz o Teu servo...". Se o Senhor me levasse hoje eu estaria realizado!
 
Eu queria parar aquele relógio! Dez e vinte, dez e quarenta, dez e cinquenta e nove! Parecia que os minutos corriam, voavam, como um bólido pelo espaço sideral! Enfim, vencido o tempo, a enfermeira solicitou que eu saísse. Novamente deixei minha filha aos cuidados de Deus e nas mãos dos cuidadosos médicos da maternidade.
 
Como o tempo é relativo! Tão curto para mim, tão comprido para outros! Uma hora é tempo pequeno demais para estar com minha filha. Pequeno também para as coisas boas da vida: um passeio, uma boa prosa, um culto ao Senhor, uma viagem feliz, um sonho bom! Curto para dizermos tudo o que queremos a quem está de partida! Curto para explorar toda a felicidade! Alguns destes momentos eu os tenho como tesouros em minha mente: o dia de meu batismo bíblico, o dia em que meus pais também se converteram; o dia em que tive o primeiro encontro com Elaine, quando meu rosto enrubeceu e que pela primeira vez peguei em sua mão. O dia em que preguei no púlpito aos 14 anos em 1980; o dia em que desci em Portugal e vi a terra de meus ancestrais paternos; o dia em que saí do hospital após estar desenganado; o dia em que o meu irmão casou-se e quando seus filhos nasceram. O dia em que compramos o terreno da Boas Novas e a inauguração de sua capela. Foi tão curto aquele tempo! Mas tão precioso!
 
Mas o tempo é comprido demais quando há o sofrimento. Uma dor de dente não tratado é tempo sem fim! Um carro quebrado à noite no meio de uma estrada perigosa; uma turbulência no avião no meio do oceano; uma dor de estômago; a minha mãe no hospital e a demora em chegar o boletim médico! Como o tempo é longo quando estamos sendo injustiçados, quando um processo não se conclui! Como demora passar o tempo até chegar o resultado do exame, da prova, do concurso! Como a provação parece não ter fim e a noite nunca dá lugar ao dia! São momentos da mesma espécie dos bons, mas que nos representam uma eternidade pelo conteúdo sofrido e amargo! A mãe que espera aflita pelo filho que não chega; os familiares a esperar por notícias do vôo atrasado; o empregado que aguarda a liberação do salário bloqueado; quão longo é esse tempo!
 
Há gente que só dá conta do tempo quando este passou e com ele levou as oportunidades. Ao pé do caixão já vi muita gente a lamentar o tempo perdido, as palavras que não foram ditas, as reconciliações não acontecidas. Já vi muitos filhos pródigos lamentando o tempo gasto no mundo e a brevidade da vida agora que se reencontraram com o Pai. Somente quando não há mais tempo é que percebemos que fomos néscios e imprudentes, gastando dias e anos a correr atrás do vento, como se o pudéssemos pegar pela cauda! Consumimos o tempo com a ânsia de ajuntar bens e ter saúde e depois gastamos tudo o que temos para manter a saúde que perdemos no processo! Custa muito até entendermos que as coisas mais importantes da vida não são coisas, são pessoas! O tempo mal vivido traz a consciência de uma vida de pouco significado. Por isso a importância de refletirmos em como temos gasto o nosso tempo. Será curto demais para uma alegria, e longo demais para um remorso.
 
É tempo de dar a Deus o melhor tempo! Bem investido, bem vivido, bem aproveitado, constante, fiel. É tempo de dizer ao cônjuge e aos filhos: "eu vos amo!". É tempo de olhar o céu, o mar, o jardim, a montanha, o lago, a rua, as crianças, é tempo de ver e agradecer! É tempo de perdoar, de relevar, de lançar a mágoa fora e investir num relacionamento que vê a vida como uma dádiva e o tempo como um remédio. É tempo de colecionar bons momentos, ainda que curtos, e celebrá-los sempre! É tempo de parar de perder tempo!
 
CARPEN DIEM! APROVEITE O TEMPO, mas viva com Cristo e com sabedoria!
 
Wagner Antonio de Araújo
02/08/2015

4 comentários:

  1. Marivilhosa esta crônica, Pastor Wagner.
    Deus o abençoe. Espere mala um pouquinho e terá todo tempo para dá a Rute e amar sua filha herança do Senhor.( Salmos 127.3).

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  2. Marivilhosa esta crônica, Pastor Wagner.
    Deus o abençoe. Espere mala um pouquinho e terá todo tempo para dá a Rute e amar sua filha herança do Senhor.( Salmos 127.3).

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