ÉTICA DO
PÚLPITO
Wagner Antonio de Araújo
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Duas palavras assaz importantes: ÉTICA e PÚLPITO.
O termo ÉTICA deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). São princípios e valores morais que norteiam uma sociedade ou alguma disciplina específica.
Já o termo PÚLPITO vem de "pulpeto". Do lat. "pulpitum". Também: Tribuna, estrado. Local elevado de onde fala um orador, geralmente dentro de um templo religioso.
O que seria
ÉTICA DO PÚLPITO? Seria um conjunto de regras que
norteariam a administração e o funcionamento da pregação numa igreja cristã.
Infelizmente, nos dias atuais, vivemos um empobrecimento da prédica; os sermões
têm deixado muito a desejar. Os pregadores não têm se portado à altura do ofício
divino da pregação bíblica. Logo, por força dessa falta de valores as
congregações têm perdido sua identidade cristã, tornando-se auditório comum e
secular.
Gostaria de destacar 8
valores que certamente deveriam estar presentes nos púlpitos cristãos,
princípios que fariam com que a pregação fosse muito mais relevante, eficaz e
qualificada. Há muitas outras razões, mas o espaço não nos permite
desenvolvê-las. Fiquemos apenas com estes, abaixo citados:
1)
Pregadores devem usar a Bíblia - não é o jornal do domingo, nem a
revista semanal. Não é o multimídia com vídeos interessantes nem o livro mais
vendido da semana. Púlpitos cristãos devem ter BÍBLIAS como base, como texto,
como fonte, como fundamento. "Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz
para o meu caminho." (Sl 119:105)
2)
Sermões devem ser cristocêntricos - O tema de uma pregação não deve
ser "matar um leão por dia", "vencendo o monstro da depressão", mas sim a pessoa
de Deus e Sua imensa graça. Para ouvir mensagens de auto-ajuda nós buscamos
palestras ou compramos livros; púlpitos de igrejas devem falar de Deus, de
Cristo, do Espírito Santo, da graça, da alma, da vida eterna, e não de
efemeridades meramente psicológicas. "Mas para os que são chamados, tanto
judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de
Deus. "(1Co 1:24)
3)
Pregadores devem ter postura - Está em voga o abandono da gravata e
tudo o que lembre formalismo. Então vemos nos púlpitos pregadores que buscam não
se parecer com pregadores. Uns vão com camisas de times de futebol, outros com
roupas de piquenique, outros ainda nem sequer se preparam. Quem sofre é o
púlpito, que vira algo irrelevante e desprezível. Assim como se espera um
governo digno e elegante, ou um médico e bombeiro bem fardados, também se espera
que o pregador poste-se digna e solenemente no exercício da pregação da Palavra
de Deus. Elegância, simplicidade, humildade: quesitos que valorizam o
púlpito.
4) As
mensagens devem ter linguagem sadia - Que tristeza ver um pregador
que não sabe falar português! Que incômodo ouvirmos mensagens cheias de gírias e
palavras deselegantes! Um bom sermão deve ser simples, de linguagem clara e
compreensível, sem ser inadequada, inconveniente, deselegante. O pregador deve
ser correto no uso da linguagem. "Linguagem sã e irrepreensível, para que o
adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós." (Tt
2:8)
5)
Pregadores não devem obrigar o auditório a interagir - Que
deselegância e inconveniência a atitude de pregadores que, por falta do que
dizer, interrompem o sermão e determinam: "virem para o irmão ao lado e
digam...". Isso é medíocridade e falta de argumento. Cristo nunca usou desse
artifício barato. A resposta ao sermão deve vir da alma que se propõe a
praticar o que aprende, não de um auditório adolescente que entra num jogo de
falar e repetir. Quem prega a Bíblia com conteúdo não precisa dessa banalidade.
"Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas,
repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." (2Tm
4:2)
6)
Púlpito não é lugar para política - Há sermões que descem do Céu
para tomarem as bandeiras das lutas sociais. Transformam o auditório bíblico em
palanque de lutas partidárias ou ideológicas. Quando não, em época de eleições,
cedem seus púlpitos para que políticos dêem seus recados. Isso é adultério
espiritual. Para os políticos existem as tribunas. Para os pregadores os
púlpitos. Política cuida do Reino do Mundo; Igreja cuida do Reino de Deus.
"E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai pois a César o que é de César, e a
Deus o que é de Deus. E maravilharam-se dele." (Mc
12:17)
7) O
púlpito deve ser o terminal de um processo, não o início -
Pregadores que não se preparam, que não oram, que não organizam suas idéias
antes da pregação geralmente oferecerão muito pouco e suas mensagens não
seguirão por dez minutos depois de seu término. Sermões eficazes começam de
joelhos. Boas pregações são pensadas por longo tempo. São fruto de pesquisa, de
estudo, de erudição, de preparo, mas, principalmente, da graça do Senhor sobre a
vida de quem prega sob Sua direção. "Persiste em ler, exortar e ensinar,
" (1Tm 4:13)
8) O
púlpito não deve ser tribuna de auto-promoção - Há mensagens que
não passam de bajulação disfarçada ou de egolatria exacerbada. Prega-se o homem,
não a Cristo. Prega-se o servo, não o Senhor. Prega-se a obra de Deus, não o
Deus da obra. Sermões desse tipo poderiam ter como hino o que diz: "Sim, há de
ser GLÓRIA PRA MIM, GLÓRIA PRA MIM, GLÓRIA PRA MIM". Um sermão bíblico aponta
para outro caminho: o caminho da glória divina e da incapacidade humana; aponta
para a honra a Cristo e a submissão do pecador. Qualquer coisa diferente disso é
jactância mundana, não pregação bíblica: "É necessário que Cristo cresça e
que eu diminua." (Jo 3:30)
Espero sinceramente que
os nossos púlpitos melhorem em qualidade. Um bom púlpito pode transformar uma
igreja. Um sermão qualificado em um pregador capaz pode ser a fagulha que acende
um reavivamento na Obra do Senhor. Que sejamos pregadores fiéis em nome de
Jesus. Amém.
(texto publicado em
boletim da OPBB SSP ABAFER, à pedido do seu presidente, Pastor Wilson Estella,
em 2012).
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