segunda-feira, 8 de junho de 2020

memórias literárias - 887 - QUE MUNDO POBRE

QUE
MUNDO
POBRE
887
 
Assistia há pouco as grandes canções do sertão brasileiro. Nossos poetas cantavam a história dos boiadeiros, das famílias que migravam em busca de oportunidades. Poesias brilhantes e perpétuas que falavam das sementinhas, das paineiras velhas, do mourão do ipê, da porteira velha. Ah, como éramos ricos. Hoje? Cama, motel, traição, baladas, vergonha, palavrões, vida imunda! O sertão empobreceu.
 
Tínhamos oradores nas tribunas políticas, grandes discursos e mensagens épicas que marcaram gerações. "Eu tenho um sonho", dizia um. "Não vamos nos dispersar", dizia outro. Nos tribunais advogados e promotores faziam autênticos compêndios teóricos e práticos, ora defendendo ora acusando. Havia gente que se sentava na platéia só para ter o gosto de aprender a falar em público. Hoje? Só ouvimos palavras chulas, palavrões, grosserias, argumentações tão insignificantes que não duram cinco minutos. Discursos que corróem como câncer. A tribuna empobreceu.
 
Nos púlpitos tínhamos verdadeiros ícones da palavra. Ouvir um Rubens Lopes e um Éber Vasconcelos em nada devia para o melhor duscurso e oratória próprias dos tribunais ou das tribunas políticas, em termos de qualidade e de elegância. Apenas que o objeto de sua prédica era infinitamente superior ao daqueles. Pregavam como que numa batalha campal entre a luz e as trevas, entre o exército da luz e o poder da escuridão. E com a argumentação, a inteligência, a voz, a elegância e eloquência, permeadas e penetradas pelo poder do Espírito Santo, eram vencedores! Um Billy Graham no Maracanã, com o ilustre intérprete João Filson Soren pôde ver dez mil que se renderam a Cristo. E destes, a maioria foi fiel e muitos ainda vivem! Josué Numes de Lima, Tiago Lima, Artur Gonçalves, Timofei Diacov, Roque Monteiro de Andrade, eram vozes necessárias e inesquecíveis! Hoje? Olhem os vídeos, as lives e o farto material publicado. O púlpito empobreceu.
 
Nos lares os valores cristãos eram levados a sério. A honestidade não era apenas ensinada; era vivida. A grosseria não tinha vez e a educação era rígida. Modos à mesa, gentileza para pedir licença, agradecer, informar, tudo tinha um propósito e os pais mostravam o caminho. A oração era um momento de reverência e respeito, de encontro com Deus e de sacralidade doméstica. Filhos não falavam palavrões junto dos pais e a mentira não era tolerada. Hoje? Bem, não é nem preciso dizer. Veja as manchetes da mídia. Não há mais respeito algum e os lares tornaram-se dormitórios onde se tem internet rápida, comida, roupa lavada e pousada. Cada um cuida de sua vida. O lar cristão empobreceu.
 
Meus filhos são desta geração. Eu não sou. Não há mais porteiras ou paineiras velhas a inspirar canções. Não há mais políticos ou discursadores que marquem época, nem pregadores épicos que escrevam uma história da oratória sacra. Não há muitos lares que mereçam o título "lar cristão". Mas os meus filhos precisam de referências. Eles não possuem o cabedal de informações e experiências que eu possuo para discernir o quanto o mundo empobreceu. Então eu concluo que minha esposa e eu seremos o referencial deles.
 
Se nós falharmos eles falharão. Se nós nos omitirmos seremos cúmplices no estrago que este mundo pobre fará a eles. Não criamos os filhos para nós, mas somos responsáveis em dá-los à vida com referências que levem para o resto da vida. Eles serão gente adulta, pais, mães, trabalhadores, crentes, chefes e mães de família, crentes e brasileiros cidadãos. Terão profissão, terão paixões, terão uma história de vida. Assim como eu me lembro de mamãe quando penso em alguém que serviu por amor e que estava sempre feliz,  e do meu pai quando penso em honestidade e honradez, quero que os meus filhos se lembrem de nós pelos valores que desejamos incutir em suas mentes aptas ao ensino.
 
Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. (Pv 22:6)
 
Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, (Ef 5:15)
 
Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. (Mt 12:36)
 

Wagner Antonio de Araújo.

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