JURANDIR
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Era um
congresso regional. O objetivo era estudar a Palavra de Deus. Convidaram o
Jurandir para ser o preletor. Ele era conhecido por muita gente. Gostavam de
ouvi-lo pregar. E pregou bastante. Pela manhã trouxe a teoria. À tarde a
aplicação. E no culto da noite o apelo evangelístico. Tudo muito bom.
À porta,
enquanto saudava os presentes e recebia os devidos cumprimentos, viu 5 amigos de
longa data: André, Bernardo, Carlos, Diogo e Élcio.
- Mas que
alegria, meus amigos! Vocês por aqui?
- Ah, sim,
Jurandir, não queríamos perder a sua mensagem. Como estamos de férias resolvemos
vir lhe escutar. E que mensagens boas! Meus parabéns!
- Obrigado,
meus velhos colegas!
Eles eram
amigos na mocidade. Membros de igrejas próximas, foram estudar na faculdade
juntos. Prepararam-se e aguardaram convites.
André foi
para os Estados Unidos. Ele dominava o idioma e era intérprete de americanos que
vinham em conferências. Estabeleceu-se na Flórida como pastor. Foi muito bem
sucedido.
Bernardo foi
para o sul do país. Amante dos pampas e das montanhas, foi missionário e acabou
se estabelecendo numa querência muito próspera. Era pastor e também produtor
rural. Vendia leite e animais para o abate.
Carlos era
erudito. Na faculdade já demonstrara o seu talento. Tornou-se professor no maior
seminário da denominação. Tinha casa, carro, salário e muitas viagens. E muitos
alunos para treinar.
Diogo
administrava uma grande missão de construtores de igrejas. Desde pequeno ele
aprendera a construir. Seu pai era mestre de obras. Ele pastoreava e construía
capelas. Já estava na 45a. Era muito bem sucedido.
Élcio acabou
sendo pastor-livreiro. Ele ajudava o professor na venda de livros teológicos e
decidiu abrir uma livraria. Já possuia 5 filiais. Ele pastoreava uma igreja boa
também.
Os amigos se
abraçaram e decidiram jantar num restaurante da cidade.
- Jurandir,
por que você ficou neste fim de mundo? Vila Fumaça? Com tantas oportunidades que
surgiram acabou gastando a vida nesse lugarejo! O que
aconteceu?
Jurandir
sorriu, olhando para o prato.
- Eu lhe
enviei um convite para vir pastorear na Flórida! - disse
André.
- E eu
consegui uma cidade alemã bem no alto da montanha em Santa Catarina para você,
Jurandir! Você disse que não! - foi o que disse Bernardo.
- Eu tenho a
consciência tranquila. Tinha vaga para lecionar 4 matérias onde você seria o
máximo. Você sempre me dava desculpas - Falou Carlos.
- Depois que
ajudei você na construção do templo de sua igreja não nos falamos mais. - Foi o
que Diogo disse.
- E eu havia
lhe convidado para ser gerente da livraria daqui da região - Completou
Élcio.
- CONTE-NOS
COMO VOCÊ VIVEU ESTES ANOS, JURANDIR!
Então esse
pastor de meia idade narrou a sua história, atualizando os amigos sobre os
acontecimentos.
- Vila Fumaça
era o fim do mundo. Quando comecei ali era terra que ninguém queria. Mas eu
senti que Deus me conduzia para trabalhar com aqueles poucos irmãos. E eu
obedeci. Não foi fácil. O salário sempre baixo, as dificuldades sempre grandes,
mas aos poucos fomos nos acertando.
- Vocês me
convidaram várias vezes e eu sou grato por isso. Até a igreja não compreendia a
razão porque eu sempre recusava. Eles queriam que eu tivesse um progresso; senão
por mim, mas pelos meus filhos. Eu explicava que eles eram importantes para mim
e que não os deixaria enquanto não estivessem bem. E fomos
vivendo.
- Quando
completei vinte anos aqueles irmãos me deram um pacote de férias para que minha
família viajasse com tudo pago. Fiquei muito grato. Foram quinze dias
inesquecíveis. Enquanto estive fora eles trataram de fazer alguma coisa por
mim.
- Abriram uma
assembléia e discutiram a minha situação. Estavam tristes porque eu dedicara
toda a vida a pastorear uma igreja num lugar tão pobre e eles queriam fazer algo
por mim. Discutiram muito e concluiram que não era justo eu ter dado preferência
a eles e nada receber como retorno. Leram aquele texto bíblico: E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com
aquele que o instrui. (Gl 6:6). E concluíram que apenas o salário
pequeno que podiam me pagar não era suficiente para demonstrar o carinho e a
gratidão.
- Um dos
membros possuía uma casa e três lotes ao lado. Os irmãos decidiram pedir que
vendesse dois deles para a igreja por um preço bem pequeno e que doariam a mim.
Um dos membros era dono de uma loja de materiais de construção e este decidiu
vender o material suficiente para a construção de uma casa sem lucro e por 50%
do valor, doando a outra parte. E os homens uniram-se em mutirão, enquanto as
mulheres cozinhavam e faziam transportes e contatos.
- Enquanto
estávamos em férias eles levantaram uma casa de 2 quartos com suíte, varanda e
quintal. Também compraram de um irmão um carro semi-novo, pois o meu, de 20
anos, já estava no fim da linha.
- Quando
cheguei de viagem foram me esperar no aeroporto. Mas, ao invés de me levarem
para casa conduziram-me para a nova casa. Eu, a descer, não entendi nada, nem a
minha esposa. Mas quando nos falaram do que havia acontecido nós saltamos de
alegria e choramos copiosamente. A casa já estava mobiliada, o carro estava
impecável e havia até uma pequena piscina ao fundo do quintal, junto à edícula
dos fundos. Fizeram um culto no domingo, homenagenando-me e dando-me presentes
que eu nunca havia ganho. Ganhei ternos, camisas, sapatos, e minha esposa e
filhos roupas, objetos e brinquedos.
- Então, meus
amigos, eu só posso agradecer a Deus por ter se lembrado de mim na Vila Fumaça.
E a vocês, por se preocuparem comigo. Deus tem sido
misericordioso!
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Ofereço este
texto a todos os pastores que ousaram ficar em seus pequeninos lugares, servindo
a um povo que tanto precisava da Palavra de Deus. E também para inspirar igrejas
a que recompensem os seus pastores de longa data, não deixando de expressar o
cuidado, o zelo e a merecida atenção. O Jurandir pode ser o pastor de quem me
lê!
E se esta
recompensa descrita não for a que experimentaram os pastores que me lêem, ou que
nunca experimentarão em vida (não por falta de recursos e oportunidades das
igrejas, mas pelo desprezo e a falta de gratidão que impera), creiam-me: Deus
suprirá as suas necessidades mais dia menos dia. E lá no Céu, parada final de
seu mnistério, receberão muito mais que isso. Receberão um "bom está, servo bom
e fiel". E isto valerá mais do que tudo!
Wagner
Antonio de Araújo.
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