quarta-feira, 17 de junho de 2020

memórias literárias - 893 - LIDAR COM A INGRATIDÃO

LIDAR
COM A
INGRATIDÃO
 
 
893
 
Não é fácil e nem há um caminho pavimentado para aqueles que decidem lidar com a ingratidão. Ela é um mal oriundo do pecado, fruto do coração de Satanás. Entrou no DNA humano com a queda do homem e desde então tornou-se uma constante nas relações entre o homem e Deus e entre homens e homens.
 
Há exceções. Não falo destas. Infelizmente o próprio Senhor Jesus Cristo experimentou ingratidão em Seu ministério. Dez leprosos rogaram-lhe a cura. Ele os curou. Eles se foram. Um samaritano, porém, retornou e prostrou-se em adoração. Cristo diz: E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? (Lc 17:17). Noventa por cento dos agraciados são ingratos, a julgar por esta cena. Mas talvez não seja justo. O número de gratos seja menor ainda...
 
"Fazer o bem, não importa a quem". Uma frase maravilhosa. Porém, em se tratando da realidade, é normal, é lícito e é correto ter a expectativa da gratidão. Deus nos criou e tem a expectativa do louvor para a Sua glória. O Apóstolo Paulo em suas exortações e admoestações, afirmou: E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. (Cl 3:15). Faz parte da nova vida regenerada o espírito de gratidão. 
 
Para cada dez orações que fazemos nove são focadas no pedir, no rogar, no suplicar. Quantas pessoas pedem a Deus por algum parente, alguma enfermidade, alguma necessidade. Quando apaixonados regamos o travesseiro com as lágrimas em súplicas. Quando desempregados fazemos os tais "votos", prometendo o mundo para Deus. Quando desesperados imploramos o socorro. E depois? E quando as bênçãos chegam? Voltamos à normalidade: "obrigado, Jesus!" e "aquele abraço". Foram-se os votos, acabaram-se os momentos de súplica, o desespero deu lugar à rotina. E somos mais um leproso no cômputo da ingratidão...
 
E quantas pessoas nos ajudaram na vida e simplesmente não as agradecemos? Alguns conseguiram empregos por ação de alguém que as indicou. Outros adquiriram bens com o empréstimo amistoso de pessoas próximas. Pastores e obreiros conseguiram posições ministeriais por influência e ajuda de gente de bem e que se importava com eles. Muitos conseguiram solucionar problemas com a assistência alheia. Quantas vezes voltamos para agradecer? E, se voltamos, quais foram as atitudes de gratidão que tivemos? Talvez tão poucas, tão restritas, tão frias, tão distantes... Eu estou cansado e repleto de experiências de ingratidão. Porém hoje não...
 
Estou escrevendo porque me senti um privilegiado. Dificilmente um pastor recebe um "muito obrigado", seja por palavras, seja por suprimento por parte das ovelhas de seu ministério, seja por gente que sempre se beneficia de suas atuações. Mas hoje eu ganhei um agradecimento. Há tempos conheci uma pessoa, junto com minha esposa, que atravessava dificuldades praticamente intransponíveis em seu casamento. Solicitado em aconselhamento mostrei o que as Sagradas Letras diziam. Bem, hoje eu recebi notícias e uma palavra de gratidão. A família desta pessoa se refez. Não foi a primeira vez que esta pessoa agradeceu-me. Foi a terceira e com mais veemência ainda. Isso é um prêmio, uma dádiva, uma jóia na coroa da existência. Isso não tem preço!
 
Como eu lido com a ingratidão dos outros que não fazem isso? Como todo ser humano, eu sofro. Como pastor e como colega de pastores que já ajudei, sofro também. Não é fácil conviver com a ausência de um "muito obrigado" Aliás, nem é preciso dizer. O jeito e a postura do próximo mostram se houve gratidão. Mas, depois de sofrer com o desprezo característico, eu sou confortado por gente que me ama, gente próxima, e olho para o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que me amou primeiro, que me salvou sem que eu nada tivesse feito. Então recebo consolo, vigor e forças para continuar a caminhar, a servir, a semear, a operar a fé que me foi confiada. Ademais, recompensas legítimas só existirão no Céu. E não quero trocá-las nem para ser considerado filho de Faraó. Estou reportando-me a Moisés: Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. (Hb 11:26). A recompensa para Moisés era o Céu. E o é para mim e para quem me lê e ama a Jesus.
 
Sou grato a cada um de vocês que lê os meus textos. Sou grato por ter pastoreado igrejas e por ter ajudado pastores. Sou grato por ter você como meu leitor.
 
Sou grato pelos que são gratos, se alguma coisa que fiz valeu para alguém.
 
Bendito seja o Senhor.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

ofereço ao irmão que me agradeceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...