POR
QUE
REPARAS?
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E por que
atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que
está no teu próprio olho? (Lc 6:41)
Mas, ó
homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a
formou: Por que me fizeste assim? (Rm 9:20)
"Olha como ele é gordo! Que
falta de disciplina!" Mal sabia o ofensor que um distúrbio provocava essa
disfunção. Mas para uma língua ferina a gordura alheia lhe fora um prato cheio!
"Credo, que magreza! Será que não tem comida em casa?" O cidadão estava com um
uma úlcera aberta e sofria os efeitos da quimioterapia. Agora padecia as agruras
da língua ferina...
O festival de dedos em
riste é geral:
"Que nariz pontudo!"; "Olha
só as orelhas de abano, que ridículas!"; "Nossa, tão magra que mais parece um
palito!"; "Será que ela não tem um creminho para aquelas olheiras gigantescas?
Que coisa horrível!"; "Como ela aguenta um sujeito assim, tão suado e
ofegante?"; "Veja que pernas longas! Será que não tropeça
nelas?".
A língua humana é um poço
de iniquidades. E não falo da língua em geral; falo da língua dos que se dizem
cristãos! Tiago, o meio-irmão de Jesus, inspirado pelo Espírito Santo, já
mencionava o fato: Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se
pode refrear; está cheia de peçonha mortal. (Tg 3:8); Com ela bendizemos a Deus
e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. (Tg
3:9)
No domingo abrimos a boca
em louvores ao Criador. Ostentamos grande espiritualidade, confessando a fé e
declarando amor pelos irmãos e pela humanidade em geral. Nos outros dias e no
privado usamos a língua para criticar o formato das pessoas, sua cor, suas
imperfeições físicas, suas roupas, sua aparência. Geralmente fazemo-nos de
referencial de perfeição, ou usamos alguém que consideramos belo, e, em seguida,
rebaixamos a todos que estão próximos de nós: "alto demais"; "baixo demais";
"que cabelos feios"; "que pele maltratada"; "como é gordo!"; "como é magro!";
"como é preto"; "como é pálido". Como é fácil insultar!
Lembro-me de uns moleques
de rua, atrevidos e sem respeito pelo próximo ou pelos mais velhos. Ao verem
Eliseu, o profeta careca, gritaram: "Sobe, careca, sobe careca!". O profeta,
cheio do Espírito Santo, cônscio do respeito que um jovem deveria ter pelos mais
velhos e, além disto, do respeito que deveriam ter por um homem de Deus, tomou
as medidas cabíveis: E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no
nome do SENHOR; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e
dois daqueles meninos. (2Rs 2:24)
Não temos essa liberdade,
até porque o Senhor Jesus decretou que deveríamos sofrer as injúrias e os
escárnios, como Ele mesmo sofreu. Dois apóstolos queriam fazer chover fogo do
céu, como Elias, nos samaritanos que fecharam as portas da aldeia para eles. E
os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que
digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se,
porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. (Lc
9:54-55). Em Cristo somos os que suportam as afrontas e oram pelos inimigos. Ao
que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a
capa, nem a túnica recuses; (Lc 6:29). Porém, se o que fere ou o que tira a capa
é outro discípulo, então, como diziam os antigos, "a vaca foi pro brejo!" É
inconcebível um cristão agir assim!
Mas agem! Na igreja, em
roda de fofoqueiras ou de molecagens. No campo de futebol, na roda dos amigos.
No whatsapp, em grupos afins. Nos telefonemas e nos carros enquanto viajam. No
almoço de domingo. Ao invés de usar a língua para bendizer, para edificar, para
construir, usam a boca para denegrir, para criticar, para sapatear sobre a
cabeça do próximo. Lembro-me de um cidadão cristão que gostava de chamar-me de
gordo. Encontrei-o cinco anos depois, com o dobro do peso que eu tinha. Até
pensei em revidar, mas lembrei-me de que este não era o meu papel e pedi perdão
ao Senhor por antecipação. Mas ficou claro que "Enganosa é a beleza e vã a
formosura"(Pv 31:30). Os "saradões" de hoje contarão com o efeito da idade e do
desgaste amanhã. E aquilo que criticam hoje terão por companheiros
amanhã.
Não devemos usar a língua
para criticar a aparência dos outros. E aqui deve ficar claro que não colocamos
"aparência" como "libertinagem para aparentarmos o que quisermos". Roupas
escandalosas são pecaminosas, bem como tatuagens e piercings. O cristão que é
focado na vaidade e na sensualidade deve converter-se e não causar escândalo à
igreja de Deus, pois está insultando os costumes de sobriedade e de limpeza que
Deus espera de seu povo. "Não fareis marca alguma sobre vós" (Lv 19.28). "O
enfeite não seja o exterior" (I Pe 3.3). O crente não precisa de enfeites, de
maquiagens pesadas, de adereços complementares e de aparência carregada para
demonstrar beleza; a sua beleza vem de uma alma bonita, bondosa e generosa,
cheia do Espírito Santo. Quem provoca o Senhor dizendo-se livre para riscar a
pele e inserir ferros em toda a parte para adereço e vaidade, agride o Templo do
Espírito Santo, que é o corpo e causa escândalo aos cristãos que obedecem a
Bíblia: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita
em vós? (1Co 3:16); Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus,
nem aos gregos, nem à igreja de Deus. (1Co 10:32).
Porém, se a questão não se
refere a pecado, mas a aparência natural, física, étnica, racial, de formato,
anatômica ou meramente de agrado ou desagrado aos olhos alheios, será bom
converter a língua e lavá-la com a graça do Senhor, pois as palavras que dizemos
virão a juízo diante do Grande Trono Branco ou no Tribunal de Cristo: Porque por
tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado. (Mt
12:37); Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão
de dar conta no dia do juízo. (Mt 12:36)
Avalie-se. Pense no que tem
dito sobre o próximo. Repare em si próprio. Deixe de ver os defeitos dos outros.
Avalie os seus e conserte-se. Não é gordo? Bendiga a Deus pela bênção de um
organismo equilibrado. Não tem nariz pontudo e nem olhar fundo? Não se
vanglorie, porque um dia o seu corpo virará pó, tão fino e tão disperso quanto o
corpo do outro. Lembre-se: enquanto não morrermos e não ressuscitarmos, todos os
corpos serão corruptíveis, bonitos ou feios, e só seremos realmente completos
quando o Senhor nos restaurar pela ressurreição! Não se orgulhe; apenas tema e
agradeça!
Em tempo: Se Cristo fosse
julgado pela aparência quando aqui viveu no seu ministério, seria ignorado ou
criticado, pois, segundo o profeta Isaías, era assim que o enxergavam: Porque
foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha
beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para
que o desejássemos. (Is 53:2)
Wagner Antonio de
Araújo
07/02/2017
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