HÁ
TRINTA E
SETE
ANOS
ATRÁS...
eu, antes de minha
conversão.
412
Eu tinha quatorze anos.
Trabalhava como office boy no BCN Servel na Vila Romana, São Paulo. Iniciara com
um colega, o Camilo, uma pesquisa sobre qual seria a bíblia verdadeira.
Tencionávamos entrevistar grandes líderes religiosos (Chico Xavier, Dom Paulo
Evaristo Arns, Manoel de Melo etc). No Carnaval marcara uma entrevista com um
seminarista católico, no Seminário São Camilo na Pompéia. No dia em que marcamos
ele saíra para pular Carnaval e não pôde atender-me... Decepcionado, quis
abandonar a pesquisa, não fosse um acontecimento...
Por alguns meses igrejas
depositaram em minha caixa de correios folhetos evangelísticos. A maioria dizia
respeito ao fim do mundo. Eu, adepto da reencarnação, imaginava consertar os
estragos desta vida numa outra existência. Se o mundo acabasse o que poderia
fazer? Isso causava-me pânico. Um folheto, "Previsão Científica do Fim do Mundo"
causou-me pavor. Dizia que os cientistas previam o alinhamento dos planetas em
1982 e isto poderia gerar catástrofes apocalípticas. Dizia o texto que, mesmo se
as coisas não acontecessem naquela data, a bíblia assegurava que um dia
aconteceriam. Manuseei tanto o folheto que o perdi.
Na quarta-feira de cinzas
eu voltava para casa à pé. Estava pensando na bronca que levara do meu chefe,
que reparara nas minhas roupas desalinhadas (eu tinha cabelos compridos, roupas
amassadas e rasgadas, algo meio hippie). Ao chegar próximo da minha casa vi um
senhor a coçar a cabeça no meio da rua com um pacote de folhetos na mão. Pensei:
já pensou se fosse aquele folheto que eu perdi? Corri para a minha casa e vi que
ele nada depositara ali. Mas estava a distribuir nas casas anteriores e iria
chegar na minha. Quando passou pelo meu portão cumprimentou-me e ofereceu-me um
folheto. Eu perguntei-lhe: o senhor conhece o japonês que escreveu este texto?
Ele disse: não foi um japonês; foi um russo, eu! Timofei Diacov. Fiquei
eufórico. Perguntei se me concedia uma entrevista sobre a Bíblia. Disse que sim.
Marcamos para o sábado, dia 23 de fevereiro de 1980. Lá se vão 37 anos desde
então!
Na data marcada, na casa do
pastor, às 15 horas, sob uma tempestade barulhenta, fui recebido e ficamos na
sala. Eu, com o meu rádio-gravador AIKO, gravei uma entrevista que discorreu
sobre toda a bíblia. Fiz perguntas de Gênesis a Apocalipse, passando pelos
livros apócrifos. O pastor ficou perplexo com a minha voracidade em saber e
pelos conhecimentos que um menino de 14 anos já colecionara sobre o livro de
Deus. Ao final a Dna. Elzira, sua primeira esposa, convidou-me para ir à igreja
no dia seguinte. Eu disse que não, pois minha mãe brigaria. Ela disse que seria
um complemento da entrevista. Eu fiquei de pensar. Voltei para casa, um
quarteirão dali. E passei a noite a ler a bíblia, uma vez que o encontro me dera
sede de conhecer melhor o livro de Deus. Pensei na cena que presenciara na casa
do pastor: o seu filho Jair servia o exército e chegara em casa; sentou-se ao
lado da mãe; e então os três, alternadamente, recitaram para mim o Salmo 23. Eu
imaginava que aquilo era ficção, uma família unida e recitando coisas de Deus!
Em minha casa nós nem vivíamos reunidos e as palavras que eu ouvia eram tudo,
menos de Deus...
Acabei deitando de
madrugada, após mais de uma centena de capítulos lidos. Acordei à tarde. Fui
assistir Os Trapalhões na TV. Lembrei-me do convite de Dna. Elzira. Sujo, com
roupa rasgada, de chinelo no pé, desci 10 quarteirões, rumo à Igreja Batista em
Sumarezinho. Quando cheguei o templo estava fechado, apenas a parte de baixo
estava aberta. Desci uns degraus e ouvi o vozerio de gente em um salão.
Lembrei-me de mamãe a ralhar comigo: "Não se meta com crentes, essa gente gruda
como carrapato". Então subi. Mas a curiosidade aguçou e desci dois degraus
novamente. O pastor me viu e correu abraçar-me. Conduziu-me ao salão de jovens.
Mais de vinte. Todos muito bem vestidos e cheirosos. Uma menina seminarista, a
Glair, pregava aos presentes. Falava sobre o banquete do rei e os amigos de
Daniel. Dizia que eles escolheram legumes e foram mais saudáveis, tanto quanto
nós deveríamos escolher a vontade de Deus e sermos felizes. Fiquei
impressionado. Eu conhecia meninas dos bailes que frequentava aos sábados, mas
jamais tinha visto alguma que falasse das coisas de Deus ou jovens tão limpos e
distintos!
Subimos ao templo. Nenhuma
imagem. Nenhuma cruz. Fui ao pastor e perguntei onde estavam as imagens e o que
era aquela janela na parede. Ele disse que aquilo era o tanque do batistério e
que não tinham imagens. Eu disse que era bom arrumar uma, pelo menos... O culto
começou. Eles todos tinham bíblias. Que bacana! Tinham um livreto de músicas
(Cantor Cristão) e cantavam com a família toda. Eu pensava nas brigas e
xingamentos que escutava em casa, como eram diferentes do que presenciava ali,
com pais e mães ao lado dos filhos, cantando a Deus! Quando oravam abaixavam a
cabeça como que crendo que alguém os ouvia! E então o pastor começou a pregar.
Eu confesso não me lembrar exatamente do texto e da mensagem, mas me lembro
perfeitamente do apelo que fez. O pastor falou que Jesus ocupara o lugar de
Barrabás na cruz do Calvário, e que também ocuparia o meu, se tão-somente eu
confessasse os meus pecados e decidisse crer em Jesus de todo o meu coração.
Cantaram o hino 270 daquele livro. "Jesus, Senhor, me achego a Ti. Oh, dá-me
alivio mesmo aqui! O Teu favor estende a mim, aceita um pecador". Aquilo
levou-me a imaginar o Calvário. Havia assistido recentemente a um filme chamado
Barrabás. Lembrei-me do ator a olhar a cruz com Cristo a sofrer. E imaginei-me
no lugar do Barrabás. "Quer aceitar a Cristo como Seu salvador? Levante a mão!"
Eu pensei: é comigo que ele fala. Vou me manifestar. Mas, imediatamente imaginei
a minha mãe a ralhar comigo. "Não se meta com esta gente". E o apelo continuava.
Na quarta chamada ergui a minha mão. O pastor, emocionado, chamou-me à frente e
orou por mim. Ao final todos cumprimentaram-me, dando-me parabéns. Eu dizia: não
estou fazendo aniversário...
Ao chegar em casa
experimentava uma grande alegria! Ao pedir a bênção de minha mãe, disse: "mamãe,
aceitei Jesus!" Ela, aflita e com muita raiva, disse: "Você renegou a fé de
nossa família". Chorou. O meu pai foi ao seu arquivo, tirou um revólver calibre
38 carregado, apontou para mim e disse: "Se você se batizar, eu lhe mato". O meu
irmão deu-me uma bofetada e falou: "você não é mais meu irmão". Que celebração!
Tudo isso há trinta e sete anos atrás, num domingo à noite! 24 de fevereiro de
1980!
Eu louvo ao meu Senhor
Jesus Cristo, que usou a vida do Pastor Timofei Diacov para trazer-me a mensagem
de salvação e criar-me nos ensinamentos da Palavra de Deus. Eu bendigo a Deus
que converteu o meu pai, Antonio Paulino de Araújo, o meu irmão, Daniel Paulino
de Araújo, e a minha mãe, Elzira Bonfante, ao evangelho de Cristo. Papai
converteu-se em junho de 1980, ao lado de meu irmão Daniel. Partiu para Cristo
em 1991. Daniel converteu-se com meu pai em junho de 1980 e é hoje o meu braço
direito na igreja onde sirvo a Deus, junto com toda a sua família. Mamãe
converteu-se um ano depois, em 1981 e tornou-se uma daquelas santas mulheres de
vida inteiramente dedicada ao Senhor. Foi morar no céu em 2005. E eu casei-me
com uma serva de Deus em 2011, tornando-me pai de uma linda menina e
estou aguardando a chegada do garoto para o próximo mês de
abril.
Por tudo isto eu digo:
muito, muito obrigado, Senhor!
Wagner Antonio de
Araújo
23/02/2017
Papai, Pr. Timofei e mamãe, em
1980
papai, Daniel, eu e Pr. Idelino, em
1981
Batismo e Ceia do Senhor de papai e
Daniel, 1980
Batismo de mamãe em
1981
Minha família servindo ao Senhor em
1982, na frente da Igreja
Batista em Sumarezinho, São
Paulo.
Na foto, da esquerda para a
direita:
Pr. Israel e Damares, irmã Cida
Gonçales, irmã Flora Faustino,
eu, Pr. Albino Faustino,
Ademir,
meu pai, minha mãe e meu irmão
Daniel.
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