PASTOR,
RESISTA
ÀS
TENTAÇÕES!
Quando seminarista pela
primeira vez, fui apresentado à Bíblia não como livro de Deus, mas como
ferramenta para os meus estudos. Assim como uma rã no laboratório, dissecamos as
Escrituras Sagradas, estudando por todos os ângulos os estilos de cada livro, a
autoria, as discussões infindas sobre a autoria dos sessenta e seis livros etc.
Discutíamos cultura, costumes, alta crítica, crítica textual, línguas originais,
textos alternativos, descobertas arqueológicas, tudo sobre os textos. Aos poucos
o meu olhar para a Bíblia passou a ser um olhar crítico, lembrando-me de
discussões diversas e questões insolúveis sobre este ou aquele tema, sobre
textos que não aparecem aqui ou acolá, sobre livros que demoraram quatro séculos
para serem considerados canônicos etc. Em um ano eu sofri uma crise de fé,
desconsiderando a inspiração e considerando uma obra de homens. Todo seminarista
passa por este terrível dilema e questionamento (desde que estude numa
instituição que, de fato, o ensine a estudar a teologia a fundo). Muitos dos
meus colegas sucumbiram no meio do curso. Outros transformaram-se em críticos de
suas igrejas e pastores. Outros deixaram a denominação original, passando para
outras mais compatíveis com suas críticas. E um outro grupo apostatou da fé.
Jamais me esquecerei do quanto o Pr. Timofei Diacov, o irmão Sebastião Emerich,
o Pr. Israel Teixeira de Freitas e o Pr. Idelino Lopes de Oliveira foram
importantes em minha vida, quando, entristecido, os procurava para falar sobre
os meus dilemas.
Fui consagrado ao
ministério. Antes disto já cuidava de uma igreja, a Igreja Batista de Vila
Souza, em São Paulo. Uma coisa era pregar aos fins de semana nas igrejas que me
convidavam. Outra (e bem diferente) era encarar um púlpito todo domingo por duas
vezes, e semanalmente duas ou três vezes. Mensagens não poderiam ser reprisadas
com frequência, temas precisariam ser considerados e a inspiração humana (esse
despertamento para pregar) deveria estar aguçado o tempo todo. Por algum tempo
até que a lavoura produzia razoavelmente. Mas, por muitas vezes experimentei
aridez e desertos homiléticos, sem uma única idéia e mensagem para pregar. Mas o
púlpito estava lá e nem sempre um substituto estaria disponível. Quanta
dependência da graça temos que ter!
Identifiquei muitas
tentações no ministério. Quero listar algumas, admoestando os meus colegas a que
não caiam nelas, firmando sua fé original no Senhor que nos remiu.
1) A TENTAÇÃO DE NÃO LER A
BÍBLIA - Pastores são tentados a usar a bíblia apenas como ferramenta de
trabalho na preparação de sermões e estudos. Colegas, fujam disto! Eu creio que,
se uma pesquisa fosse feita, pastores seriam os que menos lêem a bíblia de forma
eficaz e contínua. Não façamos assim! Façamos leitura sequencial, façamos
leitura devocional, olhemos e miremos a Bíblia como PALAVRA DE DEUS, não como
livro de polêmicas! Somente com a volta do olhar simples do crente legítimo é
que Deus falará aos nossos corações!
2) A TENTAÇÃO DE NÃO ORAR -
Pastores são os mais tentados a não orar! Fazem-no publicamente, e, não raras
vezes, lindas orações. Mas só! Acabam muitas vezes por mutilar as suas horas
tranquilas na presença do Senhor com outros pensamentos que não satisfazem.
Substituem a oração por leituras, por vídeos, por esportes, por meras meditações
ou, diversas vezes, por alguma oração com membros da família. E ficam por aí.
Colegas, sem a oração consagrada, de portas fechadas, de joelhos ou em contrição
não haverá comunhão! Não adianta pregar bem, falar bem, administrar bem e não
ser conhecido dos Céus através da oração! Um pastor muito conhecido no meio
batista disse assim para mim: "Não sou de orar muito; oro apenas o
indispensável. Não tenho tempo para isso". Ah, pobre colega! Ele pode ser
discípulo de qualquer um, mas certamente não do Senhor Jesus, que gastava noites
em oração! Colegas, orem! Orem até quando não sentirem
vontade!
3) A TENTAÇÃO DE NÃO LEVAR
A SÉRIO AS PRÓPRIAS MENSAGENS - Pastores gostam de colocar pesados fardos nas
costas da igreja e nem com um dedo querem carregá-los. Pastores modernistas não
gostam de cumprir os conselhos bíblicos e já nem os pregam. Substituiram o
ensino bíblico pela crítica a quem prega a Bíblia. E, ao invés de serem
cumpridores da palavra, são polêmicos, fazendo o que não devem, publicando
questionamentos nas mídias sociais e escandalizando os cristãos sinceros.
Pastores, cumpram os ensinos bíblicos! A bíblia ensina a não dever ao próximo?
Então não devam! Não se deve mentir? Então não mintam! Devemos ter paz? Então
não briguem! Precisamos ser fiéis ao cònjuge? Então não traiam! Ai dos pastores
que escandalizam o evangelho, não praticando o que deveriam ensinar! Que Deus
ajude os pastores a serem fiéis cumpridores da Palavra, não apenas pregadores da
mesma. Que sejam exemplo dos fiéis!
4) A TENTAÇÃO DE NÃO ATACAR
O PECADO - O irmão fulano é bom dizimista; assim, vou evitar falar de adultério,
pois ele o pratica. O irmão siclano fuma e bebe, então evito falar sobre o poder
do álcool na intoxicação da mente e o estrago do fumo. Não falarei nada sobre
baladas, porque os filhos dos diretores da igreja são baladeiros e não quero
criar caso com a diretoria. Pastores, quem amar mais a glória dos homens não
receberá a glória de Deus! Preguem a Palavra, doa a quem doer! É o adultério
pecado? Então pregue isso! A bebida embebeda? Então admoeste! O fumo prejudica a
saúde? Então critique-o! Não venda o seu púlpito a quem dizima bastante ou a
quem lhe traz benefícios! Não se renda ao poder do mundo e ao poder dos
políticos do Reino. Pastores foram chamados para usar vara e cajado, não para
entrar com as ovelhas em pastos perdidos no mato!
5) A TENTAÇÃO DA AMBIÇÃO DO
CRESCIMENTO - Surgiu um novo sistema de crescimento nos Estados Unidos e aquele
pastor está com dez mil membros. Ah, vou demolir a estrutura desta igreja e
aderir ao sistema. Depois de um ano ele conseguiu destruir todos os
departamentos e dispersar metade ou mais do rebanho do Senhor. Desiludido,
abandona a igreja e deixa o caos. E ainda sai a xingar a igreja antiga. Isso é
criancice, molecagem ministerial. Não fomos chamados para nos tornarmos célebres
ou para transformar a igreja num ninho de coelhos. Fomos chamados para cuidar do
rebanho do Senhor, cujo crescimento vem de Deus e cujos cuidados devem ser dados
com temor, tremor e com responsabilidade. Para Deus os motivos contam muito!
Querer crescer a igreja para ficar famoso, para se tornar requisitado, para
aparecer nas manchetes e redes sociais, para ter frases publicadas na mídia é um
tentáculo da síndrome de Lúcifer. No ministério importa que Cristo seja
glorificado e que nós sejamos apenas servos. Pastoreia uma igreja pequena? Seja
fiel. Pastoreia uma grande? Seja fiel. A igreja não é sua. Ela é de Cristo. E
Cristo não ama as grandes em detrimento das pequenas. Cristo ama as igrejas
fiéis, tenham o tamanho que tiverem. Pregue no seu púlpito como se estivesse
numa multidão, mesmo estando com cinco pessoas. E pregue no seu púlpito diante
da multidão como se falasse para cinco pessoas. Amor, responsabilidade,
prudência, temor e regozijo espiritual: ingredientes certos para não cair na
tentação do crescimento a qualquer custo e na glória do homem em detrimento da
de Deus.
Espero que estes conselhos
ajudem os meus colegas. São tentações que eu, como pastor há 25 anos ( e 30, a
contar da prática) experimento todos os dias. Quero devolver o ministério nas
mãos do Senhor quando Ele me recolher, ou levando a minha alma ou
arrebatando-me. E quero ser achado fiel, independentemente de ter conseguido
realizar este ou aquele sonho pessoal.
E quando eu for esquecido
(e sempre somos!), que o Senhor Jesus, a quem eu preguei e para quem vivi,
continue lembrado. Que eu passe à nova geração a tocha da integridade de um
ministério pastoral temente a Deus.
Wagner Antonio de
Araújo
21/02/2017
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