terça-feira, 7 de agosto de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 19 - A FATURA CHEGOU ...

A FATURA
CHEGOU...
 
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Era um filho de estrangeiros asiáticos. Gostava de manter algumas tradições, mas convertera-se ao evangelho. Batizado com a família, serviu em uma determinada igreja. Um dia o pastor soube que ele levava vida dupla. Enganava a esposa, surrava os filhos, vivia no lazer. Na frente da igreja fazia-se de santo, mas era pura hipocrisia.
 
Um dia comprou um sitio e deixou de vir à igreja aos domingos pela manhã, quando a escola bíblica dominical acontecia. Posteriormente aos cultos de quarta-feira, porque tinha que levar os filhos à natação. Deixou de entregar os dízimos (comprometera-se quando aceitou ser batizado e membro da igreja) e tornou-se um turista. Como amava mexer com madeira, considerava-se dono dos bancos e dos móveis. Mas com o tempo nem deles zelava e nem deixava que deles alguém cuidasse.
 
Um centro de demônios instalara-se à frente de sua casa e ele queixou-se de que havia demônios em seu lar. O pastor correu para lá e orou com a família. Mas alertou-o: "O irmão tem sido um crente displicente. Deus está lhe dando um livramento. O que fará?" "Ah, pastor, comprometo-me a mudar! Serei fiel. Neste ano tudo vai mudar!". O pastor então falou: "irmão, lembre-se diante de quem está dizendo isso. Não apenas de mim, mas do Senhor". Passaram-se dois meses e aquele irmão voltou ao estilo turístico de vida cristã.
 
A igreja ouvia alguns comentários de que ele estava acendendo incenso a ancestrais, como a família asiática havia ensinado. O pastor chegou a falar com ele, mas negou veementemente.
 
Um dia ele informou que estava enfermo. Era leucemia. Falou com orgulho, dizendo-se forte e resistente. Mas a resistência foi rompida em três meses. Outros erros foram descobertos: traição no casamento, negócios escusos, vida dupla. Enfim, muita hipocrisia. O pastor foi visitá-lo, mas ele não o recebeu. Estava para morrer. Xingava a tudo e a todos.
 
Então, num ímpeto de Ezequiel ou de Jeremias, o pastor escreveu-lhe um texto duro, tão duro quanto uma pederneira. Pediu para uma enfermeira entregar (pois que a própria família impedia o acesso do pastor ao moribundo). Assim estava escrito:
 
 
 
Você, que por tantos anos prometeu mudar,
Por tantas vezes fingiu piedade e um gran lutar,
Você, que ano após ano ludibriou a igreja,
Com uma mão segurou a bíblia e com a outra uma cerveja,
 
Era severo em público no trato dos negócios,
Dizia que suava muito, que dependia dos próprios esforços;
Matava o domingo para cuidar do patrimônio,
Enquanto a casa era invadida pelo demônio.
 
Ah, caro enganador, até acreditei em você!
A cada pedido de perdão eu tentava esquecer
As múltiplas promessas, os supostos arrependimentos,
Os compromissos de ano novo para um novo engajamento.
 
Vida nova! Ano novo! Cultos, serviços, escolas bíblicas!
E ano após ano as suas desculpas eram as mais cínicas.
Sem pejo e sem nunca desculpar-se pelos erros
Continuou a enganar, a ludibriar e ficou enfermo.
 
Acontece com qualquer um - dizia, cheio de vaidade,
Por fora aparente força, por dentro terrível enfermidade.
Primeiro a força faltou-lhe e o fôlego acabou-se.
Depois foi o sangue, contamidado ficou-lhe.
 
O tempo que do Senhor tirou agora empregou no hospital,
Repleto de dores, com angústia fatal.
De que valeu, pobre enganador do evangelho,
Fingir-se de santo, mas sendo um escaravelho?
 
Onde está a sua arrogância, o seu grosso falar,
A sua maneira duríssima de a todos julgar?
Ficou no ano passado, naquele onde prometeu
Servir melhor ao Senhor, mas o ano faleceu.
 
Quantos anos! Quantas promessas! Quantas mentiras!
Quantas orações públicas de compromissos quebrados!
Hoje a fatura chegou e a conta será cobrada.
Você, moribundo na cama, já não pode fazer nada!
 
Há tantos assim que pensam enganar ao Senhor,
Pregando a fé em Cristo e vivendo longe do Salvador!
Com a boca o glorificam no domingo enquanto "louvam"
Mas jamais O enganaram, pois a Deus nunca enganam.
 
O seu tempo acabou, caro mentiroso.
Não há mais pescarias, nem "halloween", nem festinhas.
Não há mais cervejas pretas, maltadas ou batidas.
 
Seu encontro está chegando e a vida acabará.
Põe em ordem a sua alma, pois a Cristo encontrará.
E diante de Seu trono o juízo enfrentará.
E a fatura da mentira que pensou não existir
O levará ao horrendo Inferno, pelo resto do porvir.
 
De fato ele morreu. A família deixou a igreja e nunca mais apareceu. O pastor, triste e pesaroso, pensava e refletia nessa vida tão perdida.
 
Mas Deus, que sempre revela a verdade aos Seus servos, não privou o pastor desta informação. De uma forma mui estranha ele soube da verdade. Uma enfermeira do hospital, crente em Jesus Cristo, assistiu aquele asiático nos seus instantes de morte. Um belo dia, sem saber, ela visitou a igreja onde o falecido fora membro. Em conversa com o pastor, disse que conheceu aquele homem. E agora, dois anos depois, achou a resposta. Contou a seguinte história:
 
- Pastor, ele sofreu muito. Parecia que a sua dor era na alma, não tanto no corpo, porque não havia motivo para tantos gritos. Ele tinha na mão um papel todo amassado e pedia uma caneta. No início não quis dar, mas, pra quê privar um moribundo de seu desejo final? Dei-lhe. Ele, sem olhar, escreveu um garrancho e logo sorriu muito. E morreu quieto. Eu não entendi nada daquilo. Decidi nunca ver esse papel e nem tentar ler o que estava escrito sem que soubesse a sua história. E hoje vejo a resposta. Então ele foi membro daqui? O papel está na bolsa. Vamos vê-lo?
 
Ela tirou-o. Estava todo dobrado, com manchas e rasuras. Era a carta do pastor, mas rabiscada. Abriram-na, procuraram entender o rabisco. E foi isso o que acharam: "DIGA AO PASTOR QUE ME ARREPENDI. PERDÃO!" O pastor chorou. Pediu à enfermeira para ajoelhar-se com ele. E assim orou:
 
- Senhor, graças te dou pela preciosa graça de Jesus! Graças te dou pelo evangelho ter penetrado aquele ímpio coração. E graças te dou por não ter me amedrontado de dizer a verdade. Bendito seja o Teu Santo e bendito nome!
 
A enfermeira, emocionada, levantou-se, cumprimentou o obreiro e lhe disse:
 
- Continue assim, pastor. Diga sempre a verdade de Deus, doa a quem doer. Porque a verdade liberta e a graça resgata. Deus lhe abençoe!
 
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Se eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para dissuadir ao ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, porém o seu sangue eu o requererei da tua mão. (Ez 33:8)
 
E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; (At 18:9)
 
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (Jo 8:32)
 
Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. (1Tm 1:15)
 
Wagner Antonio de Araújo

06/08/2018

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