terça-feira, 28 de agosto de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 23 - UTÓPICO! MAS SERIA MARAVILHOSO...


23 - UTÓPICO!
MAS SERIA
MARAVILHOSO...
 
 
710
 
Dia da posse do presidente da república brasileira, eleito pelo voto popular. Todas as redes de comunicação devidamente instaladas e aparelhadas na avenida do desfile e na tribuna do primeiro discurso. Autoridades de toda parte do planeta prestigiando pessoalmente o evento. As forças militares devidamente uniformizadas a apresentar armas para o serviço deste mandato ora iniciado. As diversas autoridades dos três poderes presentes em peso. Todos os governadores de estado, muitos deputados estaduais, vereadores, líderes das mais diversas representações da sociedade, todos ali, a festejar o início do governo. Um desfile deslumbrante! Então, para o grande momento, o presidente sobe à tribuna, de onde se dirigirá à nação.
 
Aplausos efusivos, gritos de vitória da campanha que o elegeu. Ele agradece, está feliz. Então, pedindo silêncio e um microfone, aguarda o momento de falar. Obtido o relativo silêncio, sob o foco das câmeras e a ansiedade dos jornalistas, olha para baixo, aguarda alguns instantes e, subitamente, ajoelha-se diante de todos. O povo estranha. As câmeras não perdem um lance (estão ávidas por um furo de reportagem). Nas casas, comércios, ruas e rincões do país todos olham e aguardam o acontecimento. Ele fica em silêncio por alguns instantes e, prontamente, prostrado, diz:
 
- Senhor, Criador do Céu e da Terra, a Ti consagro o meu serviço à frente deste país. Não sou digno, ó Senhor, de tamanha responsabilidade e honra. Dependo de Tua graça! Deus bendito, peço por compaixão que me ajudes a ser justo e íntegro e a não me corromper! Guarda os meus olhos, ouvidos e coração das tentações do poder! Protege-me do Maligno! Ajuda-me a ser justo, a cuidar dos pobres e desamparados, a prover prosperidade nacional, a criar meios de segurança para a população e a não desamparar os doentes e idosos! Se alguma virtude houver neste governo, somente a Ti serei grato e peço que a nação também. E se erros houver (e que homem não erra, ó, Senhor...), serei o maior responsável e pedirei a Tua compaixão; mas mesmo assim, sob a intercessão dos que são Teus, perdoa a iniquidade deste homem e tenha misericórdia do país! Abençoa este amado Brasil e ajuda-me a ser um presidente que tema ao Teu Nome e obedeça a Tua Palavra. Em nome de Jesus, amém!
 
Os céticos detestaram; os ateus vaiaram; os canais  protestaram através de comentaristas. Os cristãos, contudo, choraram de emoção e fizeram coro com o mandatário, apresentando-o em emocionadas intercessões e súplicas. O presidente levanta-se, enxuga as lágrimas e, então, faz o seu discurso político prometido. Ali reafirma os compromissos que o levaram à vitória. E termina, com efusivos aplausos e celebrações. À noite, enquanto dorme, ele sonha. E, no sonho, ouve A VOZ DE DEUS:
 
- "EU OUVI A TUA ORAÇÃO"....
 
Foram quatro anos de um governo sem denúncias de corrupção, com taxas mínimas de violência urbana e rural, com uma transformação radical no sistema de saúde (todos tiveram acesso mínimo e digno aos tratamentos), com a recuperação real das aposentadorias e da dignidade dos idosos e com um crescimento real do PIB na casa de dois dígitos, com o desemprego chegando a quase zero. Foram bênçãos duradouras...
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Ah, que pena... Isto é uma utopia. Só houve um Salomão na história e ainda assim estragou o reino poucos anos depois da posse. Mas, apenas por um instante foi tão bom imaginar! Por que não sonhar um pouquinho, não é mesmo?
 

Wagner Antonio de Araújo

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