sexta-feira, 24 de agosto de 2018

FLORESCENDO NO DESERTO - 22 - AMBOS MORRERAM


22 - AMBOS
MORRERAM
 
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O primeiro chamava-se José e era rico. O segundo também José, mas era pobre.
 
O primeiro teve a morte reportada nos canais de televisão, nos jornais e redes de comunicação de massa.
 
O segundo, ao morrer, não tinha ninguém consigo; descobriram-no morto seis horas depois, no quartinho onde residia de favor. O dono do imóvel chamou a prefeitura para levar o corpo do indigente.
 
O primeiro foi velado no palácio governamental da cidade. O seu caixão foi feito da mais cara madeira de lei, trabalhada com esmero e dedicação. Era um modelo repleto de detalhes, com algumas jóias fixadas na tampa. Possuía almofadas internas e tinha detalhes em dourado. As flores que o cobriram vieram da mais cara floricultura do país, que fretou um jatinho para trazê-las.
 
O segundo recebeu um caixão de indigente, uma caixa malfeita com restos de madeira nova e malcheirosa. Era pintado às pressas e sem demão para vedar as imperfeições. Não havia velório disponível, pelo que colocaram-no num corredor do cemitério público. Como ninguém dera flores, jogaram sobre ele algumas rosas velhas, recolhidas de outros sepultamentos. Um único presente ao seu velório fora o dono da padaria, que apiedava-se do homem e dava-lhe pães de rejeito. Ele passou pelo José e fez cara de lamento, retirando-se.
 
O primeiro recebeu uma reportagem especial dos canais de tv, com direito a fala dos políticos, empresários, líderes religiosos e oportunistas. Alguns corais apresentaram-se também, abrilhantando o evento. Familiares choravam e mostravam as roupas luxuosas que vestiam,  enquanto os seus motoristas os aguardavam no estacionamento. Saíram em cortejo para o cemitério.
 
O segundo foi levado num carrinho de ferro por dois coveiros de plantão. Estavam no final do expediente e mandaram que enterrassem logo "aquele pobre diabo". Um deles falou: "Deixa ajudar, porque um dia serei eu a morrer também'. E assim o sepultaram numa vala de indigentes, ao lado de ossos perdidos e de restos de caixões alheios. Taparam tudo e colocaram umas flores de mato sobre a cova, para indicar que havia cadáver fresco por ali.
 
O primeiro, pelo contrário, teve cortejo, teve soldados à frente, teve discurso à beira da sepultura, teve uma equipe para colocá-lo na gaveta de sua ilustre família. Após a cerimônia todos falaram com a imprensa, simularam lágrimas, entraram em seus carros e foram embora, para tratar das heranças e de como aproveitariam as riquezas deixadas.
 
José, o rico, morreu. José o pobre, também. Mesmo com enterros distintos e absolutamente diferentes, seus corpos jazem inertes, apodrecidos e fatalmente esquecidos no decorrer do tempo. No caso do rico ainda será lembrado nas missas de sétimo dia, de mês e de ano, além de publicarem algumas biografias e fazerem alguns documentários sobre ele. Mas logo será elemento mergulhado no silêncio dos museus de história, seja em bibliotecas, seja em computadores de dados. O pobre, igualmente, já foi esquecido até na hora de morrer (morreu sozinho). Não deixou ninguém, não deixou bens, talvez não tenha deixado nem biografia.
 
Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. (Ec 3:19)
 
Se a nossa vida fosse restrita a este fôlego, ao tempo curto que cada um de nós dispõe, ou às riquezas que deixamos para outros gastarem (ou a pobreza com a qual tanto convivemos), então poderíamos dizer como Paulo, o Apóstolo citou:  somos os mais miseráveis de todos os homens. (1Co 15:19).
 
Mas os dois Josés não terminaram ali. Eles continuam! Há vida além do túmulo! Jesus Cristo, que veio do além, disse-nos isso: há um destino, há um lugar, há uma continuação. Foi Ele quem declarou isto: E os que FIZERAM O BEM sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação. (Jo 5:29). Ambos ressuscitarão, tanto os que fizeram o bem quanto os que fizeram o mal. Mas o destino será diferente: uns ressuscitarão para a vida eterna (algo cujas palavras não são capazes de descrever); outros para a condenação (muito pior do que os piores pesadelos que imaginamos). E que BEM é esse, citado por Jesus como diferencial para o destino? Que OBRA é aquela que garante a ressurreição da vida? Jesus, indagado sobre qual a boa obra de Deus que deveríamos fazer, respondeu assim: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou. (Jo 6:29). Esta é a boa obra que salva: crer em Jesus Cristo como Salvador, confiar nele, recebê-lo no coração. Foi o que o ladrão arrependido fez na cruz, ao lado de Jesus: pediu para que Cristo lembrasse dele no porvir. Jesus respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. (Lc 23:43).
 
Não confie nas riquezas que possui. Não se maldiga pela pobreza que o acomete. Não se orgulhe pela multidão de amigos e bajuladores que pensa ter; eles não seguirão um passo a mais além da porta de seu túmulo. Somente um coração que crê poderá partir deste mundo em condição favorável para um porvir melhor: somente com Jesus Cristo no coração. Afinal, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se deixará tudo para trás? A verdadeira riqueza está dentro da alma, e esta irá conosco. E Jesus Cristo é este tesouro maior.
 
Receba-o!
 

Wagner Antonio de Araújo

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