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A
CASA
E
OS
DOIS AMIGOS
Pedro e João eram grandes
amigos. Amigos mesmo, desde a infância. Nadavam juntos no riozinho da vila,
jogavam bola nas tardes após as aulas, iam às quermesses de junho, estouravam
latas de querosene com bombinhas, enfim, foram crianças e adolescentes numa
época mais humana. Estudaram juntos, mas não se deram bem na escola. Acabavam
indo às farras de final de semana, com moças e colegas. Não tiveram uma
juventude correta.
Por fim, cada um encontrou
um par e casaram-se. As responsabilidades do lar fizeram-nos trabalhar muito,
pois não haviam estudado o suficiente para uma boa profissão. Aliás, não tinham
experiência de nada. Faziam bicos, eram ajudantes, quebravam o galho em serviços
temporários. Mas Pedro seguiu a profissão de pedreiro e acabou por tornar-se um
excelente profissional. João seguiu o comércio e tornou-se vendedor de materiais
de construção. Saiu-se muito bem também. Não ficaram ricos, nem se podia dizer
que de classe média; mas o pão não faltava à mesa de nenhum dos
dois.
Um dia Pedro conheceu o
evangelho de Jesus. Trouxeram-lhe um folheto em sua casa e no verso havia o
telefone da igreja. Ele interessou-se pelo assunto, chamou um irmão, que o
visitou sem demora. Apresentando-lhe o plano da salvação, Pedro converteu-se.
Foi à igreja, ergueu a sua mão, firmou-se em Cristo, preparou-se na classe de
doutrinas e foi batizado. Sua vida foi transformada. Uma das grandes mudanças
foi o seu domingo. Antes, por causa da profissão, não tinha domingo ou feriado;
trabalhava sem parar. Construía casas, sobrados, galpões, fazia pequenas
reformas, dava tudo de si. Agora, conhecedor da Palavra de Deus, decidiu guardar
o domingo para ir à igreja, congregar com o povo, comungar com os irmãos, falar
de Jesus aos amigos e descansar. Há muito tempo ele não tinha essa alegria, um
dia de adoração e descanso em 7!
Sua alegria por ter achado
a Jesus foi tamanha, que buscou João, seu grande e fiel companheiro de infância,
com quem há muito não conversava. Achou-o em casa numa noite. Foi contar a
experiência que teve com Deus. E falar da bênção de estar na igreja aos
domingos. João, dono de si próprio, afirmou
categoricamente:
- Se eu não trabalhar a
família não come. Pago aluguel e não quero isso para nós por muito tempo. Estou
juntando dinheiro e vou comprar um terreninho, farei uma "meia-água" e me
mudarei com a patroa e os barrigudinhos. Não tenho tempo pra igreja". Pedro
explicou para ele que também não tinha casa, que pagava aluguel, mas que Deus o
sustentava e que não seria a troco do dia do Senhor que ele compraria a casa;
disse da importância do Reino de Deus e de um dia de descanso com a família, de
serviço ao Senhor e de comunhão com o próximo. Tudo em
vão.
Pedro não comprou nenhuma
casa, mas João comprou um terreno de 10 x 25 metros quadrados. Foi à casa de
Pedro e, querendo agredi-lo por não ter comprado uma casa em 10 anos
(passaram-se dez anos desde a conversão de Pedro), falou
assim:
- "Pedro, aqui está o meu
dia do Senhor: belo terreno, bela casa e sossego para a minha família. E você?
De que valeu ir à igreja, servir ao Senhor e descansar? Eu sou a formiga, que
atentei para o inverno, você é a cigarra, viveu cantando na igreja, louvando com
instrumentos, descansando no seu domingo. E agora, Pedro?"
Pedro, com calma, com
muita paciência e também com muita convicção falou:
- "João, eu não tenho uma
casa aqui porque não tive recursos para comprá-la. Mas não me faltou
responsabilidade e muito trabalho. Porém não trocaria o amor que tenho pelo meu
Deus e pelos seus mandamentos por um terreno ou uma casa aqui neste mundo. Os
meus filhos podem não herdar uma casa ou um terreno aqui, mas receberão de seu
pai a melhor herança, o temor de Deus e uma boa educação. João, um dia nós vamos
morrer e vamos deixar tudo aqui. Não valorize tanto os bens materiais, olhe para
o Céu, onde Jesus foi preparar uma morada! Entregue seu coração para Deus,
João!
- "Ah, vá, seu crente
bitolado! Impossível chamar você ao bom senso! Vá congregar com seus irmãos,
rapaz, e depois atole-se sem ter eira nem beira! Adeus!"
Não passou um mês e uma
desapropriação foi decretada pelo prefeito, justamente na propriedade onde João construiu. Como a prefeitura estava sem recursos, prometeu pagar os
proprietários em no máximo 3 anos. Pedro entrou em choque. Depois de pagar pelo
terreno, de construir uma bela casa e de mangar com seu amigo Pedro, agora
atravessava esse vexame! Seu coração não suportou. Teve um infarto. Levado ao
hospital, foi medicado, mas não resistiu e acabou falecendo.
Pedro lamentou
profundamente a morte e o coração duro do seu velho amigo. Sua família veio para
a igreja (João é quem não deixava) e também converteu-se. Encontraram uma
casinha e alugaram.
Dias depois a prefeitura
abriu um loteamento num bairro novo e ofereceu terrenos com benfeitorias por um
preço tão pequeno que facilitou a vida de muita gente que pagava aluguel. Pedro
entrou no programa. A família de João, agora convertida, também. O que pagariam
pela prestação do terreno era metade do que pagavam de aluguel, e a outra metade
poderiam usar na construção duma casinha. Em um ano e meio Pedro estava em sua
própria casa, pagando pouquinho e acolhendo, feliz, toda a sua família. A única
tristeza foi a de saber que seu querido amigo João estava morto, sem casa e sem
salvação.
Não ajunteis tesouros na
terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e
roubam; (Mt 6:19)
Pois que aproveita ao homem
ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa
da sua alma? (Mt 16:26)
Amarás, pois, ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento,
e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. (Mc
12:30)
Porque sabemos que, se a
nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício,
uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. (2Co 5:1)
Mas, buscai primeiro o
reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
(Mt 6:33)
Wagner Antonio de
Araújo
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