VERGONHA
DOS 
PAIS
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Aline conversa com a amiga 
ao telefone: "Deus me livre, mana, eu nunca serei doceira. Credo! Ficar horas e 
horas junto ao tacho no fogão, mexendo, mexendo, arrumando, experimentando, 
misturando, esfriando, cortando, embrulhando! Isso não é vida pra ninguém! Eu 
quero é me cuidar, não quero o meu rosto cheio de rugas e grosseiro! Já basta a 
mamãe!" Na cozinha sua mãe enxuga o suor da testa e também uma lágrima que 
deixou rolar com tristeza. O celular que Aline usava, bem como as suas roupas, a 
escola onde estudava e onde conheceu a amiga foram conseguidos às custas dos 
doces que sua mãe honradamente produzia.
Carlos chega em casa e 
mostra a carteira de trabalho assinada. Conseguiu um emprego de técnico de T.I. 
Sua mãe o elogia, dizendo: "Isso mesmo, meu filho! Não seja um burro como o seu 
pai. Ele não deu pra nada na vida, virou pedreiro! Que vida sofrida nós levamos! 
Mas você não vai seguir essa miséria. Parabéns pelo progresso!" Carlos vai para 
o quarto, construído pelas mãos calejadas do pai. A mãe para a cozinha, com 
fogão, geladeira, microondas e lavalouças, comprados com o dinheiro honrado de 
seu marido a quem chamou de burro.
José visita o pai. Fazia 
três anos que ali não aparecia. Foi mostrar-lhe o filho que aniversariava. E 
falou com o garotinho: "Tá vendo, Júnior? Esse aí é o seu avô. Catador de 
latinhas e de papelão. Não repare o fedor dele, é assim mesmo. Tive que aguentar 
isso por muitos anos. Dê um abraço nele, vai!" O pai, aborrecido, nem quis 
ficar. José morava numa casa boa com garagem, fruto do fedor do pai, das 
latinhas que catou e do papelão que recoheu ao longo de trinta anos. E agora 
ouvia tais afrontas de seu filho ingrato...
Você tem vergonha de seu 
pai, por ser ele simples e pobre? Tem vergonha de sua mãe por não ter se cuidado 
e não ser instruída? Pois deveria envergonhar-se. Foram esses heróis anônimos do 
mundo, considerados refugo da sociedade, que lhe deram à luz e lhe supriram as 
necessidades básicas. Quantas vezes papai e mamãe deixaram de comer algo 
desejado para que você tivesse o leite especial que tomou na infância? Quantas 
vezes andaram esfarrapados para que você tivesse o tal "tenis de marca" ou "o 
celular de última geração"? Eles poderiam não ter a instrução que você tem ou a 
sua cultura, mas tinham algo muito maior: dignidade e amor. Com a dignidade 
doaram o seu tempo, a sua saúde e o seu suor para sustentá-lo; com o amor que 
lhe dedicaram compraram comida, roupas, proveram-lhe um teto e estudos. Quem 
teria que ter vergonha eram eles, por terem um filho tão orgulhoso e 
mau.
Deus, ao escolher um pai 
humano para o Seu Filho Jesus Cristo, não foi encontrá-lo nos palácios reais ou 
nas empresas de sucesso. Não foi procurá-lo entre os letrados de Israel, nem 
entre os que tinham grandes patrimônios. Foi achá-lo numa humilde oficina, 
coberta de poeira e de farpas de madeira, talvez um tanto bagunçada, sem nada de 
belo, mas cheia de dignidade e honra. Ele encontrou um carpinteiro de mãos 
calejadas e de fronte suada. E fez dele o homem mais feliz do mundo, pois 
deu-lhe a graça de cuidar do Filho de Deus. E Jesus, diferente de você, honrou o 
pai que teve. Tornou-se também carpinteiro. Não é 
este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas 
e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele. (Mc 
6:3)
Todo pai quer ver em seu 
filho a realização de seus sonhos de conforto, de prosperidade, de estudos. 
Certamente que os pais humildes lutam e labutam para dar um futuro melhor do que 
o que eles tiveram em suas áreas de trabalho. Porém, se os filhos seguirem as 
suas próprias sendas de sobrevivência, poderão sofrer tanto quanto eles, mas 
serão honrados e poderão dizer com orgulho: "trabalho como o meu pai  
trabalhou"; "ganho o meu pão com a dignidade como a minha mãe o 
ganhou."
Doce é o 
sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o 
deixa dormir. (Ec 5:12)
O filho 
sábio alegra seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe. (Pv 
15:20)
Honra a 
teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; (Ef 
6:2)
Espero que os bons filhos 
sejam melhores ainda com os seus pais e deles não sintam vergonha. E que os maus 
se arrependam e busquem honrar os seus pais humildes. Porque no céu só entram os 
regenerados pela conversão a Cristo, que souberam honrar os seus progenitores e 
que não desprezaram os calos de suas mãos.
Pr. Wagner Antonio de 
Araújo
04/12/2017

 
 
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