sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

memórias literárias - 572 - ISSO É UMA TRADUÇÃO?

ISSO É UMA
TRADUÇÃO?
 

 
572
 
Sinto-me agredido. E irei protestar.
 
Sou usuário há muitos anos da Bíblia Sagrada, versão João Ferreira de Almeida, versão ARA - Almeida Revista e Atualizada no Brasil, da Sociedade Bíblica do Brasil. Uma versão clássica. Agora a editora "presenteia-nos" com uma revisão da versão, ao gosto da modernidade liberal, sentindo-se no direito explícito de tecer alterações em toda a redação, não simplesmente porque havia algum erro de tradução, mas para "soar bem" na leitura pública e para que as pessoas "não precisassem ir ao dicionário" (deve ser realmente um tormento ter que consultar um compêndio que enriqueça a compreensão da língua, num mundo onde só se ouve "tá ligado?", "valeu", "deu ruim", "caô"...). Chamaram esta versão de NAA - Nova Almeida Atualizada.
 
Resolveram retirar o "vós" e o "tu" dos textos porque "ninguém" mais fala com esses pronomes é, no mínimo, uma ignorância de quem vive no centro urbano de alguma capital. Além disto, em Portugal, diz-se que "você é estrebaria", mostrando que não é uma linguagem que demonstra superioridade na referência ao próximo. Estaria a SBB e seus "intérpretes" reinventando a língua portuguesa de fala brasileira ao belprazer de seu gosto pessoal? Será que ela conhece realmente a fala de todo brasileiro, de todas as regiões? Além disto, nivelar as falas bíblicas à falta de sacralidade e reverência na Bíblia já foi uma agressão tentada e conseguida em sua outra "versão", a da "linguagem de hoje", além de paráfrases como "A Bíblia Viva" (que é de outra editora e teve que revisar algumas vezes o seu texto para torná-lo "apetecível" a todos os gostos...) . Já não tínhamos versões alteradas em número suficiente? Era necessário destruir também o último reduto de formalidade sacra que cristãos protestantes ainda possuíam, nesta versão de décadas, os que não optavam pela versão Revista e Corrigida ou Fiel?
 
Não discuto nem a questão das fontes (Texto Crítico e Texto Receptus), cujos argumentos em favor do texto Receptus nos levariam a muitas outras questões sumamente importantes. Limitar-me-ei (ah, não se usam mais mesóclises, me desculpem!), eu me limitarei a tecer comentários sobre a apresentação desta versão, às páginas IV a VII do volume vendido (interessante: alguém ainda usa numerais romanos? Não  estaremos precisando de uma revisão desta versão recém-apresentada?)
 
Ouvir Jesus a falar "vocês" e arrancar toda a oratória sacra do uso de pronomes pessoais na segunda pessoa, seja do caso reto ou do caso oblíquo, foi o que destruiu, na língua inglesa, a reverência nas novas "traduções" daquela língua, motivando um retorno constante e crescente à velha King James ainda não alterada. Ela ocupa o lugar da nossa Fiel ou Revista e Corrigida aqui. Transformar o livro de Deus num livro contemporâneo, sob o pretexto de reviver o grego koinê em sua essência (vulgar), não é argumento satisfatório.
 
A editora diz, em sua defesa e apresentação da versão, que o que fez foi manter o ideal dos que criaram a Versão Atualizada (apresentar um texto clássico na linguagem atual). Dizem eles que tudo foi feito, consultando a "liderança evangélica". A quem consultaram? Aos apóstolos neopentecostais modernos? Aos pastores que são universalistas? Aos corruptos donos de igreja, envolvidos em corrupção? Aos doutores criados no caldo do liberalismo teológico europeu? Aos que subiram nas denominações na base do Q.I. (quem indica)? Aos formadores de opinião e grandes consumidores de toneladas de exemplares bíblicos? Não há menção dos seus nomes porque, se os mencionassem, talvez afastassem grande parte do publico sério que irá consumir esse material.
 
A apresentação desta "versão" afirma que mudou-se a ordem do texto grego e hebraico, que apresenta primeiro o verbo antes do sujeito. Isto é, "mudaram" aquilo que estava escrito para aquilo que queriam que fosse lido, porque julgaram que isso era melhor do que o que existia. Eu pergunto: com que direito? O direito da maldita "equivalência dinâmica", que afirma "formal ou literal sempre que possível; dinâmico, sempre que necessário"?  Assim, os "tradutores" sentiram-se no direito de trocar os pesos e as medidas daquela época por aquilo que hoje se usa. Só não trocaram denários por dólares ou reais por causa da inflação. Mas côvados, estádios, efas, batos, foram substituídos por gramas, metros, litros etc. Claro, a nova geração não possui dicionário e talvez o Google não tenha essas palavras em seu tradutor. Temos que auxiliar o baixo nível educacional dos alunos e formandos do Brasil! E viva a mediocridade e o analfabetismo institucionalizado!
 
Onde há "homens" no texto grego ou no hebraico, os "tradutores" sentiram-se no direito de trocar por "pessoas" ou "seres humanos". Bem ao gosto do atual momento de política de gênero, ainda que digam, na apresentação, que não usaram linguagem inclusiva de forma "ampla e consistente". Ah bom! Pelo menos Deus ainda é Pai e não "pai-mãe"... Eu pergunto: com que direito alteraram as palavras? Eles se acham agora o "Sagrado Magistério", que afirma não haver interpretação bíblica fora da Santa Igreja Católica? Então a editora tornou-se a intérprete do texto, mastigando a Palavra e vomitando na boca de seus leitores o que querem que entendamos? Ocuparam o lugar do Espírito Santo?
 
A versão foi apresentada porque queriam "aperfeiçoar o que já era excelente", voltando-se às novas gerações. Penso que o que é excelente não deve ser alterado ou atualizado. Senão não seria excelente.  Verter o texto de Almeida, traduzido há tantos anos, por mais uma das versões "ao gosto do freguês". A quem estes intérpretes querem enganar? Usávamos Almeida Revista e Atualizada porque era uma versão de TRADUÇÃO, com linguagem atualizada, não uma VERSÃO AO GOSTO DA CONTEMPORANEIDADE, à luz de quem dirige a editora ou à luz dos mestres da atualidade.
 
Não sei se a editora irá tirar agora, de seu catálogo, a ARA (Almeida Revista e Atualizada), substituindo-a pela NA (Nova Atualizada). Seria bom que viessem a público comprometerem-se com a continuidade da publicação pelos próximos 50 anos. Temos o direito de tê-la em mãos. Mas o que sei é que mais uma vez a Bíblia Sagrada foi traída. O ex-padre Aníbal Pereira dos Reis escreveu, à época do lançamento da Bíblia na Linguagem de Hoje, um livro severo, contra as versões contemporâneas dessa equivalência dinâmica. Hoje os protestantes não protestam. Apenas se calam, no avanço das mudanças basilares da fé, inclusive de suas versões bíblicas. 
 
O papel aceita tudo, diziam os inimigos de nossa bíblias. Infelizmente as editoras estão conseguindo tornar esse ditado verdadeiro.
 
Eu continuarei a usar a ARA e nenhuma editora me obrigará a usar suas esdrúxulas e infiéis revisões mundanas e politicamente corretas. E se a versão que uso sair do mercado, a SBB terá conseguido o maior feito de sua história (que começou na década de 40 para "derrubar" a então única versão bíblica de Almeida impressa no Brasil pela Imprensa Bíblica Brasileira, já falida, autorizada pelas Sociedades Bíblicas Unidas alguns anos antes - vede "O QUE DEUS TEM FEITO", de John Mein, da JUERP). A SBB conseguirá levar o povo sério que fala um português correto migrar para a versão Fiel da Trinitariana, que ainda mantém Almeida sem mexer em sua tradução. Ainda, porque, se a moda pegar, logo também lançará uma "correção" de sua versão...
 
Afinal, que direito temos nós de adulterar o texto bíblico? Versões não são inspiradas. Mas, se uma editora publicou por anos uma versão à qual chamou de útil e aceitável, que direito tem de criticá-la e apresentar um substitutivo? Se a anterior não foi boa, irão recomprá-la de cada usuário que a comprou por mais de sessenta anos? Irão indenizá-los? Irão explicar o porquê ela não era tão boa assim?
 
Esta é a minha opinião. Respeitem-na! E que cada um tire as suas conclusões. E, se quiserem discutir o que escrevi, poupem o seu tempo. Conheço cada um dos contra-argumentos. Não sou dos que se convencem por causa de meia dúzia de falácias. Eu tenho o direito de protestar. Ainda que não seja um protestante historicamente (sou um batista JJJ, sou um batista clássico), sou um protestante na prática, eu ainda protesto num mundo protestante sepulcral, que se comporta como paisagem de fotografia...
 
Pastor Wagner Antonio de Araújo, que ainda fala português, que também sabe consultar o grego, que conhece os textos Crítico e Receptus  e que ainda consulta dicionários, que mantém-se usuário da tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada no Brasil enquanto a manterem em catálogo e que está indignado com o que os atuais revisores fizeram à versão clássica ARA do povo de Deus.
 
Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; (1Tm 4:1)
 
E tenho dito.
 
Wagner Antonio de Araújo
01/12/2017

 

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