quinta-feira, 14 de março de 2013

memórias literárias - 48 - BATISTAS "PAZ E AMOR"


48 - BATISTAS "PAZ E AMOR"


O povo batista, de um modo geral, era considerado o "povo da Bíblia". Por mais humilde que fosse o crente batista, seu preparo na classe de catecúmenos (batismo) ou na Escola Bíblica Dominical fazia dele um sábio intérprete das coisas do Reino. Para o povo batista a Bíblia era "a única regra de fé e prática".

Então entrou uma turma de inconversos nas nossas instituições de ensino teológico. Gente inteligente e bem articulada que conseguia fazer as provas e driblar os concílios de exame ao ministério pastoral. No princípio esses candidatos eram avaliados publicamente, porém com o tempo passaram a apresentar TCC e/ou exames escritos. Para eles foi muito melhor, uma vez que bastava responder a contento no concílio, dar um bom almoço aos convidados, bajular o pastor presidente e a ordenação estava garantida.

Após a ordenação tudo se tornava mais fácil. Compromissos? Com quê ou com quem? "Com Deus", diziam abertamente. "Não obedeço a homens, não tenho compromisso com a igreja batista". E em nome de Deus passaram a deixar a Bíblia como regra DE PRÁTICA em prol de um pragmatismo tosco e mundanizado.

Foi a geração de BATISTAS PAZ E AMOR. Um jeito novo de ser batista. Novo no Brasil, pois nos Estados Unidos já existia desde a década de 40 e são os pais desses batistas. Emotivos ao extremo, chamaram para si a RENOVAÇÃO ESPIRITUAL da década de 1960, transformando igrejas evangélicas tradicionais em agências do pentecostalismo híbrido: usavam o nome BATISTA indevidamente. A crítica foi ferrenha no início. Mas como tudo é uma questão de tempo e adaptação, montaram para si uma convenção e viveram felizes e alegres (se a situação fosse hoje, a denominação não apenas daria nota dez ao deslize doutrinário como também os transformaria em mestres de seminário e criaria um departamento para angariar fundos para o novo sistema; afinal, tudo é uma questão de GESTÃO, FUNDOS, RESULTADOS...)

Mas outra parte da geração BATISTA PAZ E AMOR continuou na convenção e foi minando, dia após dia, as práticas bíblicas e as pobres igrejas que convidavam esses obreiros estranhos. Em nome da compreensão, do bom convívio, da harmonia, da unidade da igreja ou da célebre frase: "NO ESSENCIAL, A UNIDADE; NO NÃO ESSENCIAL, A TOLERÂNCIA E, EM TUDO, O AMOR", foram inventando seu próprio modo de ser cristão, qual seja: o MÉTODO ESPONJA. Esse método, consistiu no seguinte:

1) Absorveram os costumes da "American Black Gospel" com seus trejeitos, com suas manias, com sua pneumatologia e implantaram essas coisas nas igrejas, transformando uma expressão local num estilo nacional e unificador;

2) Absorveram o "GOSPEL ROCK" com várias performances, vestiram-se de roqueiros e trouxeram o show para os palcos das igrejas, afastando o púlpito ou colocando fogo nele; trouxeram não apenas o estilo, mas a prática do rock and roll;

3) Absorveram o sincretismo religioso neopentecostal, aceitando dentes de ouro, pó de ouro, sopro, cai-cai-no-espírito, unção do riso, do animal, transferência de unção, tarde do descarrego, reunião de empresários, terapia do amor  etc.

4) Foram atrás de todos os métodos de crescimento de igreja e fizeram experiências laboratoriais com cada um deles, formando verdadeiras monstruosidades. Absorveram G12, M12, MIR, ICP, M.D.A. etc. O resultado foi a quebra de muitas igrejas e, de cada dez, a criação de uma mega-igreja, com os restos das que morreram; agora é moda encontrarmos 50 pianistas numa mega-igreja e 50 igrejas pequenas sem um simples violonista ou 30 pastores-membros de mega-igrejas, e 30 igrejas pequenas sem um simples pregador dominical de qualidade;

5) Absorveram as práticas sincréticas dos liberais: Marcha para Jesus, café de pastores, noite da bênção, 40 dias de jejum etc. Transformaram o louvor de igreja (feito por crentes que amavam a Jesus e louvavam com canções, ou evangelizavam através da música) em empresariado gospel, com novos milionários às custas do povo que lhes compra cds e dvds (agora para cantar uma canção de muitos conjuntos ou até de hinários as igrejas estão ameaçadas de ter que pagar DIREITOS AUTORAIS!);

6) Criaram a hierarquia religiosa, uma espécie de episcopado disfarçado (batistas eram congregacionais), ordenaram as esposas dos pastores em pastoras e graduaram pastores de sucesso como apóstolos;

6) Aderiram à modernização das bíblias, através do famigerado método da EQUIVALÊNCIA DINÂMICA, inventando desde paráfrases com o nome de bíblia até versões "a la carte", ao gosto do freguês. Já há batistas amando bíblias católicas e paráfrases; um desses tradutores, após terminar a sua tradução de uma conhecida versão internacional, pulou para outra editora, começando outra tradução (ué, então a primeira não prestou?);

7) Resolveram entulhar o batistério, porta solene de entrada numa igreja batista,  e viver a PAZ E O AMOR, aceitando crentes e obreiros de qualquer método de batismo e qualquer ideologia teológica. Já temos igrejas aqui e no exterior onde os membros são evangélicos de outras terras e igrejas, a maioria não batizada biblicamente e muito menos doutrinada, e criaram sistemas híbridos de administração, como igrejas batistas com PRESBITÉRIO (quando a interpretação batista de sempre jamais diferenciou presbíteros de pastores). Não bastasse isso, as mega-igrejas agora convidam ministros protestantes não batizados biblicamente para serem do "CORPO PASTORAL"; não tardará o dia em que teremos pais-de-santo, médiuns e padres pregando em nossos púlpitos;

8) Em igrejas batistas da Alemanha já é normal vermos PASTORAS, com o instrumento católico de água benta, batizando bebês das famílias que aderem às igrejas (uma família querida testemunhou isso para mim, em viagem que fez de Portugal para a Alemanha, mas eu já não me escandalizo com nada...)


Chamo isso de "BATISTAS PAZ E AMOR". Sim, é um mimo! Para eles ninguém é pecador, todos são filhos de Deus. Qualquer igreja é boa, não importa o conteúdo doutrinário, não importa o tipo de culto, não importa a fé que tenham. Todos são amados e chamados à Mesa do Senhor. Sim, Deus não faz acepção de pessoas, não manda ninguém para o Inferno, só o Diabo é que irá pra lá; isto é, se Deus na última hora não mudar de idéia ou se realmente Diabo existir, pois bem pode ser uma metáfora...


O interessante é que o BATISTA PAZ E AMOR, que hoje está na liderança de várias esferas denominacionais, ama a todos, ama incondicionalmente, mas DETESTA UM BATISTA TRADICIONAL. Aliás, é inimigo visceral dos batistas que não jogaram suas bíblias fora, que não entulharam seus batistérios, que ainda têm a fé dos pioneiros. Eles não toleram batistas tradicionais! Eles os ofendem, os ridicularizam, os ameaçam, usam a mídia denominacional para ameaçá-los e cercear-lhes a liberdade de cooperar sem se alinhar com o pecado. Por isso, os maltratam, não os escutam e os rotulam de FUNDAMENTALISTAS. Sim, é mais fácil rotular assim, pois como não gostam de gente que pensa e que pensa com a Bíblia na mão, qualquer um que não ande na toada do rebanho enganado é classificado como retrógrado e ameaçador.


Isto iria acontecer. A Bíblia já dizia assim. "Nos últimos dias - sobrevirão tempos difíceis - muitos apostatarão da fé".

Talvez eu não imaginasse que isso estivesse tão próximo de acontecer no Brasil, quando andei pelas ruas de High Point, de Pleasant Grove, de Winston-Salem, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Enquanto admirava as enormes igrejas batistas ali erigidas, sendo que as menores eram maiores do que algumas grandes aqui do Brasil, a pessoa que me mostrava uma após outra, 100 numa mesma cidade, dizia: "não se iluda, irmão. A maioria destas igrejas, inclusive a PRIMEIRA IGREJA BATISTA, não crê mais na inerrância das Escrituras Sagradas, não crê que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo, não crê em Céu ou em Inferno, nem tem qualquer conversão". Perguntei: "então pra que formam igrejas e as frequentam?" Ele disse: "Essas igrejas eram boas. Mas agora a tônica é PAZ E AMOR, sem ofender as pessoas. Eles são amigos, são vizinhos, trabalham juntos, querem um bom clube cheio de paz e amor". Eu disse: "não ofendem ninguém mesmo; só a Deus".

Ouvi um colega contar-me de uma discussão entre um velho pastor com um jovem e muito bem sucedido GESTOR DE IGREJA, desses sistemas modernos de crescimento e "deformação" de igrejas.  Disse o jovem: "vocês, velhos pastores, já eram; agora nós damos pão fresco para a igreja todos os dias!" O velho pastor, tranquilo, mas pontual, lhe disse: "Sim, é bom que a igreja coma pão fresco diariamente, mas desde que seja PÃO DE TRIGO e não FEITO DE JOIO..."

Que os verdadeiros crentes batistas acordem. Que os verdadeiros pastores batistas despertem. E que voltem o seu olhar para Cristo, para a Bíblia, para o Calvário, para a nossa herança de suor e sangue, e que fujam dos crentes batistas "PAZ E AMOR".

"E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz." (Jr 6:14)


Wagner Antonio de Araújo
OPBCB 001
presidente da
ORDEM DOS PASTORES BATISTAS CLÁSSICOS DO BRASIL
ABACLASS - ASSOCIAÇÃO DOS BATISTAS CLÁSSICOS DO BRASIL
www.opbcb.org
bnovas@uol.com.br
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, São Paulo, Brasil

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