quarta-feira, 11 de setembro de 2013

memórias literárias - 104 - DÁDIVAS DA MINHA VIDA

104 - DÁDIVAS DA MINHA VIDA
04/07/2013
 
Menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos. (Gn 32:10)
 
Posso dizer com bastante convicção de que Deus não me trata como mereço e não me ignora no meio da multidão. Se ele me tratasse conforme as minhas obras eu estaria debaixo de Sua ira e condenação, caminhando a passos largos para o Inferno. Ele, contudo, me amou e me elegeu nEle, atraindo-me para a Cruz. Oh, amor bendito e eterno, como agradecer suficientemente? Com isso entendo que A GRAÇA DE DEUS é a dádiva imerecida que recebi do Senhor, e A MISERICÓRDIA DE DEUS é a bênção de não ser tratado como de fato eu mereço. GRAÇA E MISERICÓRDIA estão sobre mim! Aleluia!
 
Deus foi gracioso e salvou a minha velha mamãe. Falo dela como Jacó falava de sua Raquel: com emoção, com dor, com saudade, mas com profunda gratidão. Com pesar sepultei a minha mãe. Mas que mulher maravilhosa ela foi (e é, no Reino Eterno do Senhor!) Ela me criou e por mim doou a sua vida. Concebeu-me em seu ventre, carregou-me por nove meses, deu-me à luz, cuidou de mim quando era um bebezinho. Quantas vezes atravessou as noites em claro acalentando-me no berço, cuidando de minhas constantes dores nas pernas e febre. Nos dias frios lavava as roupas no tanque cheio de cândida e sabão, molhando seu vestido e avental. Nos dias de calor carregava-me no colo tantas vezes, cansada, mas feliz! Fez minha comida, trocou as minhas roupas, deu-me banho, ensinou-me o certo e o errado, defendeu-me das iras paternas, levou-me e trouxe-me à pé da escola e transformou-se em minha heroína. Quando eu me converti ao Senhor ela irou-se, chorou, ficou magoada, nervosa, esfriou-se para comigo, mas atentou no evangelho que eu trazia, pois me amava. E Deus, em Sua infinita misericórdia, atraiu-a para a Cruz, convertendo-a numa noite de quarta-feira de cinzas, enquanto fazia a janta! Mamãe foi regenerada, nasceu de novo, tornou-se uma serva de Deus! E como serviu ao Senhor! Suas orações foram tão amplas, tão reais e tão ouvidas que continuam a ecoar no éter, com resultados que colhemos dia após dia. Mamãe foi uma dádiva. Mulher virtuosa, com a pouca leitura que tinha leu mais de 100 livros que lhe dei, decorou inúmeros hinos do Cantor Cristão, participou da sociedade de senhoras, evangelizou, trabalhou na cozinha, fez vigílias de oração, enfim, foi ativa, trabalhadora e honrada. Arrastava à pé o meu pai até a igreja, mesmo não podendo mais andar direito. E venceu, valorosamente, escrevendo uma biografia que não precisa de monumento, pois ela é fruto da graça do Senhor em sua vida.
 
E meu pai? Homem de natureza difícil, filho de judeus-portugueses da roça, de uma estrutura familiar patriarcal dominadora, onde filhos precisavam apanhar muito, inclusive a esposa. Ele soube superar o lar grosseiro do passado e construir sua vida à custa de muito trabalho. Estudou e adoeceu. Casou-se com mamãe. Teve dois filhos e criou-os com o rigor que conhecia, mas com as virtudes do trabalho, dando o estudo, a comida, a vestimenta, o teto e tudo o que necessário. Mas isso era insuficiente. Pois foi quando entreguei-me a Cristo que vi a obra de Deus naquele coração. No dia do meu batismo (imersão) ele e seus irmãos foram à igreja. Sua concepção quanto ao evangelho mudou. Passou a frequentar os cultos da noite. E num dia em que o coral cantou "SOSSEGAI" e "JUSTO ÉS SENHOR", meu pai converteu-se. Deu o passo necessário. E ao longo dos anos as mudanças apareceram. Não foram automáticas, mas seu crescimento em Cristo deu frutos inegáveis. Ele procurou cada pessoa que havia ofendido, magoado ou prejudicado profissionalmente e pediu perdão a elas. Procurou todos os familiares e reconciliou-se com eles. Não deixou para trás nenhuma coisa que julgava ter feito errado, exceto aos que já haviam falecido, pecados que confessou só a Deus, pedindo a Sua misericórdia. Pregou o evangelho a toda a família, aos amigos da roça, de Minas Gerais, do Banco do Brasil e vizinhos. Nas madrugadas, quando eu levantava para ir ao banheiro, encontrava-o na cozinha, com seus óculos fortes e 2 lentes de aumento, lendo a Bíblia. "Pai, o senhor precisa dormir"; "filho, vou perder a visão em breve e quero aproveitar tudo o que me resta para ler a Palavra de Deus". E, de fato, a visão foi embora, não a memória do que leu na Bíblia. E ao final da vida, doente, cego, canceroso, pediu para que apenas o deixássemos partir, pois estava salvo nas mãos de Deus. Oh, Senhor, que dádiva ter me concedido um pai remido pelo sangue do Cordeiro! Sepultei papai, mas ele está vivo, aguardando aquele dia inesquecível da última trombeta. Bendito seja o Senhor!
 
E meu irmão? Pequeno, ele sempre foi o meu melhor amigo. Conflito de gerações sempre existem, principalmente com 6 anos de diferença. Mas foi sempre um menino íntegro, correto, trabalhador, ousado. Quando o meu pai converteu-se, Daniel estava com ele. O Espírito Santo também falou-lhe e meu irmão rendeu-se a Cristo, tornando-se um adolescente do Senhor. Meu Deus, que privilégio! Fui professor do meu irmão na Escola Bíblica Dominical. Vi o seu progresso, seu preparo musical, sua dedicação na igreja, seu empenho em distribuir folhetos, em falar de Jesus. Daniel cresceu, tornou-se próspero e ousou investir no futuro. Hoje, quando o contemplo, homem feito, pai de família, empresário de sucesso, amado por seus funcionários, com amigos em toda parte, com uma esposa belíssima e filha terna (a cara de minha mãe), e todos servindo ao Senhor, as lágrimas caem copiosas dos meus olhos, pois foi mais uma dádiva que o Senhor me deu, a conversão do meu irmão! Ele é o meu braço direito na Boas Novas. Deus deu-me essa dádiva!
 
Iremos todos para o Céu. Minha mãe e meu pai, que já estão lá, e meu irmão e eu. Hoje, casados, temos esposas maravilhosas que também são do Senhor e conosco formam as nossas famílias cristãs. E ele, pai, tem em sua filha a sua dádiva celestial, para criá-la no amor e nos caminhos de Cristo, para que ela não venha a se render apenas aos 8 ou 14 anos, como nós, mas que sirva ao Senhor desde pequenina, com amor e devoção.
 
Deus foi misericordioso comigo. Não me tratou como eu mereço. Ele me trata com brandura, com carinho, com agrado, com MISERICÓRDIA.
 
Deus foi gracioso comigo. Ele me deu o que eu não merecia: a bênção de ver meus familiares com Cristo, salvos pelo sangue do Cordeiro de Deus; Ele me tratou com GRAÇA.
 
Só posso dizer: Senhor, muito, muito obrigado!
 
Acredito que ter os familiares vivos convertidos ao Senhor deva ser a prioridade na vida dos verdadeiros salvos por Cristo. Enquanto eu não visse mamãe, papai e meu irmão resgatados do pecado e compartilhantes da mesma fé salvadora, não consegui sossegar. Clamei, falei, instei, pelejei, implorei, supliquei, incomodei, semeei, até que o Senhor deu as dádivas. Se Ele concedeu a mim, também concederá àqueles que, de coração, se importarem com a salvação dos seus.
 
Pensemos nisso. E encorajemo-nos a levar os nossos familiares aos pés da Cruz.
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, São Paulo, Brasil
 

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