104 - DÁDIVAS DA MINHA
VIDA
04/07/2013
Menor sou eu que todas as
beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo; porque com meu
cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos. (Gn
32:10)
Posso dizer com bastante
convicção de que Deus não me trata como mereço e não me ignora no meio da
multidão. Se ele me tratasse conforme as minhas obras eu estaria debaixo de Sua
ira e condenação, caminhando a passos largos para o Inferno. Ele, contudo, me
amou e me elegeu nEle, atraindo-me para a Cruz. Oh, amor bendito e eterno, como
agradecer suficientemente? Com isso entendo que A GRAÇA DE DEUS é a dádiva
imerecida que recebi do Senhor, e A MISERICÓRDIA DE DEUS é a bênção de não ser
tratado como de fato eu mereço. GRAÇA E MISERICÓRDIA estão sobre mim!
Aleluia!
Deus foi gracioso e salvou a
minha velha mamãe. Falo dela como Jacó falava de sua Raquel: com emoção, com
dor, com saudade, mas com profunda gratidão. Com pesar sepultei a minha mãe. Mas
que mulher maravilhosa ela foi (e é, no Reino Eterno do Senhor!) Ela me criou e
por mim doou a sua vida. Concebeu-me em seu ventre, carregou-me por nove meses,
deu-me à luz, cuidou de mim quando era um bebezinho. Quantas vezes atravessou as
noites em claro acalentando-me no berço, cuidando de minhas constantes dores nas
pernas e febre. Nos dias frios lavava as roupas no tanque cheio de cândida e
sabão, molhando seu vestido e avental. Nos dias de calor carregava-me no colo
tantas vezes, cansada, mas feliz! Fez minha comida, trocou as minhas roupas,
deu-me banho, ensinou-me o certo e o errado, defendeu-me das iras paternas,
levou-me e trouxe-me à pé da escola e transformou-se em minha heroína. Quando eu
me converti ao Senhor ela irou-se, chorou, ficou magoada, nervosa, esfriou-se
para comigo, mas atentou no evangelho que eu trazia, pois me amava. E Deus, em
Sua infinita misericórdia, atraiu-a para a Cruz, convertendo-a numa noite de
quarta-feira de cinzas, enquanto fazia a janta! Mamãe foi regenerada, nasceu de
novo, tornou-se uma serva de Deus! E como serviu ao Senhor! Suas orações foram
tão amplas, tão reais e tão ouvidas que continuam a ecoar no éter, com
resultados que colhemos dia após dia. Mamãe foi uma dádiva. Mulher virtuosa, com
a pouca leitura que tinha leu mais de 100 livros que lhe dei, decorou inúmeros
hinos do Cantor Cristão, participou da sociedade de senhoras, evangelizou,
trabalhou na cozinha, fez vigílias de oração, enfim, foi ativa, trabalhadora e
honrada. Arrastava à pé o meu pai até a igreja, mesmo não podendo mais andar
direito. E venceu, valorosamente, escrevendo uma biografia que não precisa de
monumento, pois ela é fruto da graça do Senhor em sua
vida.
E meu pai? Homem de natureza
difícil, filho de judeus-portugueses da roça, de uma estrutura familiar
patriarcal dominadora, onde filhos precisavam apanhar muito, inclusive a esposa.
Ele soube superar o lar grosseiro do passado e construir sua vida à custa de
muito trabalho. Estudou e adoeceu. Casou-se com mamãe. Teve dois filhos e
criou-os com o rigor que conhecia, mas com as virtudes do trabalho, dando o
estudo, a comida, a vestimenta, o teto e tudo o que necessário. Mas isso era
insuficiente. Pois foi quando entreguei-me a Cristo que vi a obra de Deus
naquele coração. No dia do meu batismo (imersão) ele e seus irmãos foram à
igreja. Sua concepção quanto ao evangelho mudou. Passou a frequentar os cultos
da noite. E num dia em que o coral cantou "SOSSEGAI" e "JUSTO ÉS SENHOR", meu
pai converteu-se. Deu o passo necessário. E ao longo dos anos as mudanças
apareceram. Não foram automáticas, mas seu crescimento em Cristo deu frutos
inegáveis. Ele procurou cada pessoa que havia ofendido, magoado ou prejudicado
profissionalmente e pediu perdão a elas. Procurou todos os familiares e
reconciliou-se com eles. Não deixou para trás nenhuma coisa que julgava ter
feito errado, exceto aos que já haviam falecido, pecados que confessou só a
Deus, pedindo a Sua misericórdia. Pregou o evangelho a toda a família, aos
amigos da roça, de Minas Gerais, do Banco do Brasil e vizinhos. Nas madrugadas,
quando eu levantava para ir ao banheiro, encontrava-o na cozinha, com seus
óculos fortes e 2 lentes de aumento, lendo a Bíblia. "Pai, o senhor precisa
dormir"; "filho, vou perder a visão em breve e quero aproveitar tudo o que me
resta para ler a Palavra de Deus". E, de fato, a visão foi embora, não a memória
do que leu na Bíblia. E ao final da vida, doente, cego, canceroso, pediu para
que apenas o deixássemos partir, pois estava salvo nas mãos de Deus. Oh, Senhor,
que dádiva ter me concedido um pai remido pelo sangue do Cordeiro! Sepultei
papai, mas ele está vivo, aguardando aquele dia inesquecível da última trombeta.
Bendito seja o Senhor!
E meu irmão? Pequeno, ele sempre
foi o meu melhor amigo. Conflito de gerações sempre existem, principalmente com
6 anos de diferença. Mas foi sempre um menino íntegro, correto, trabalhador,
ousado. Quando o meu pai converteu-se, Daniel estava com ele. O Espírito Santo
também falou-lhe e meu irmão rendeu-se a Cristo, tornando-se um adolescente do
Senhor. Meu Deus, que privilégio! Fui professor do meu irmão na Escola Bíblica
Dominical. Vi o seu progresso, seu preparo musical, sua dedicação na igreja, seu
empenho em distribuir folhetos, em falar de Jesus. Daniel cresceu, tornou-se
próspero e ousou investir no futuro. Hoje, quando o contemplo, homem feito, pai
de família, empresário de sucesso, amado por seus funcionários, com amigos em
toda parte, com uma esposa belíssima e filha terna (a cara de minha mãe), e
todos servindo ao Senhor, as lágrimas caem copiosas dos meus olhos, pois foi
mais uma dádiva que o Senhor me deu, a conversão do meu irmão! Ele é o meu braço
direito na Boas Novas. Deus deu-me essa dádiva!
Iremos todos para o Céu. Minha
mãe e meu pai, que já estão lá, e meu irmão e eu. Hoje, casados, temos esposas
maravilhosas que também são do Senhor e conosco formam as nossas famílias
cristãs. E ele, pai, tem em sua filha a sua dádiva celestial, para criá-la no
amor e nos caminhos de Cristo, para que ela não venha a se render apenas aos 8
ou 14 anos, como nós, mas que sirva ao Senhor desde pequenina, com amor e
devoção.
Deus foi misericordioso comigo.
Não me tratou como eu mereço. Ele me trata com brandura, com carinho, com
agrado, com MISERICÓRDIA.
Deus foi gracioso comigo. Ele me
deu o que eu não merecia: a bênção de ver meus familiares com Cristo, salvos
pelo sangue do Cordeiro de Deus; Ele me tratou com GRAÇA.
Só posso dizer: Senhor, muito,
muito obrigado!
Acredito que ter os familiares
vivos convertidos ao Senhor deva ser a prioridade na vida dos verdadeiros salvos
por Cristo. Enquanto eu não visse mamãe, papai e meu irmão resgatados do pecado
e compartilhantes da mesma fé salvadora, não consegui sossegar. Clamei, falei,
instei, pelejei, implorei, supliquei, incomodei, semeei, até que o Senhor deu as
dádivas. Se Ele concedeu a mim, também concederá àqueles que, de coração, se
importarem com a salvação dos seus.
Pensemos nisso. E encorajemo-nos
a levar os nossos familiares aos pés da Cruz.
Wagner Antonio de
Araújo
Igreja Batista Boas Novas do
Rodoanel, Carapicuíba, São Paulo, Brasil
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