quarta-feira, 11 de setembro de 2013

memórias literárias - 110 - PAPA FRANCISCO E IGREJA ROMANA: O QUE MUDOU?

110 -
PAPA FRANCISCO E
IGREJA ROMANA:
O QUE MUDOU?
 
Depois de um longo final de semana com atividades diversas, sento-me em minha cadeira do escritório. Abro os meus e-mails. E vejo, perplexo, o fenômeno PAPA FRANCISCO e JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE. Vejo Asaph Borba e assembleianos cantando para o Papa e com o Papa, rezando o Pai Nosso com três milhões de pessoas no Rio de Janeiro. Leio articulistas das mais variadas vertentes evangélicas, elogiando a prédica e a prática do "Representante de Cristo na Terra": um homem simples, humilde, que carrega as próprias malas, dorme num quarto sem luxo, come com os pobres, gosta de gente, prega a caridade, pede encarecidamente a todos que orem por ele etc. Muitos autores usam suas palavras para criticar os líderes evangélicos, mormente os neopentecostais (que são considerados evangélicos mas não são realmente cristãos na concepção teológica tradicional): dizem que ele aponta o caminho inverso dos apóstolos e donos de igrejas evangélicas, lavando os pés sujos dos fiéis e usando coisas simples e baratas. Seu sorriso cativante, seu amor pelo povo e a facilidade de convívio e relacionamento conquistou a todos. A todos?
 
É incrível como o ser humano é facilmente seduzido pelos pentes trazidos pelos europeus aos pobres selvícolas latino-americanos: com pentes e espelhos lhes roubaram a alma, a terra, os bens, a cultura e a própria vida. Basta um lindo sorriso e uma boa prosa para que se acredite em autêntica amizade, em sinceridade, em igualdade, em cristianismo empírico. Evangélicos estão propagando o cristianismo do Papa e o anti-cristianismo de sua própria liderança. Isto é, a Igreja Romana conseguiu de uma só vez, unir católicos e re-arrebanhar os protestantes que deixaram o aprisco da Santa Madre Igreja.
 
Como disse a dois parágrafos, o Papa Francisco conquistou a todos. Isto é, NEM TODOS.
 
E por que um grupo de cristãos evangélicos, mormente os batistas clássicos e todos os conservadores ortodoxos de denominações históricas, não fazem coro com a multidão seduzida dos elogiantes do Papa? Por que não cantam para o Santo Padre? Por que não participam da Eucaristia Ecumênica? Por que não celebram o mesmo pão e o mesmo vinho? Por que insistem em ser protestantes quando os próprios protestantes estão curvados ao exemplo do chefe maior do Vaticano e da maior denominação dita cristã do mundo?
 
Fui católico romano. Eu iria ser padre. Fui coroinha, rezador de terços, conheci a história dos santos e fiz toda espécie de novenas e procissões. Participei anualmente das oferendas à Nossa Senhora de Aparecida. Fiz catecismo, primeira comunhão, aprendi a rezar e a benzer. Fui coroinha do bispo de São Paulo quando celebrava missas na Pompéia. Aquele foi o meu primeiro aprisco. E aos 14 anos tive um encontro com Cristo e converti-me não ao protestantismo, mas ao cristianismo de um Senhor só, de um mediador só, de dois destinos para a alma humana (Céu e Inferno, sem purgatório), de um só sacrifício, o do Calvário (sem a necessidade dos sacrifícios não cruentos das missas constantes). Não abdiquei de Cristo; abdiquei do Cristo insuficiente, que se valia da intercessão do Corpo, dito Sua mãe e seus Santos. Eu me converti ao Cristo das Escrituras Sagradas, abrindo mão do Cristo das imagens que tinha (mais de 70) e da "dulia" e "hiperdulia" de uma adoração híbrida (quem é católico sabe do que falo).
 
Por que um cristão bíblico não se seduz com o sorriso meigo do homem simples que carrega hoje o Cajado de Pedro, a pedra sobre a qual foi erguida a Santa Igreja Católica Apostólica Romana?
 
1) Porque nada mudou. Conquanto se leve 3 milhões de pessoas para adorar a Deus e ao Papa (teoricamente não admitem, mas o fanatismo com que o ouvem e o louvam é prova inconteste de adoração empírica), isso acontece aqui, onde o Papa não mora. No Vaticano só conseguem reunir multidões por causa dos estrangeiros e quando há morte ou sucessão. No dia a dia ele é rotina. Se morasse aqui não reuniria 500 mil pessoas anualmente. Ademais, somos ávidos em admirar profetas de outras terras (coisa que não é de agora, Cristo assim se referia a glória que não recebia de seu próprio vilarejo).
 
2) Porque tudo isso custou aos cofres públicos milhões de reais, custou à administração pública uma dedicação incondicional à cúria romana. Mas também rendeu muito, mas muito dinheiro para todos. Rendeu para a mídia, que transmitiu em tempo real; rendeu aos fabricantes de amuletos (escapulários, imagens, materiais de mídia, lembranças), rendeu aos que cantaram (cachês)  e aos que produziram (consumo de produtos). Foi um negócio imenso.
 
3) Porque a adoração foi idólatra, no conceito bíblico. Para Deus não há divisão de glória. Quando um Papa pede para que o governador honre à Santa Clara com uma cesta de ovos ofertada a uma imagem de escultura através de uma freira, está induzindo o povo à idolatria e criando crendices de libertação de temporais e de chuvas (Santa Clara é a santa que acalma as tempestades, na fé católica).
 
4) Porque o movimento não foi sob a bandeira de Cristo, mas sob a bandeira da Igreja Romana, que diz-se edificada sobre o Apóstolo Pedro. Em sendo Pedro um pecador, não pode uma fé edificada sobre ele ter qualquer relevância. A igreja de Cristo é edificada sobre Cristo e não sobre Pedro.
 
5) Porque o perdão plenário oferecido pelo Papa Francisco aos jovens é falso. Esse perdão não existe. O juiz de todos os homens não é ele; o mediador e o sacerdote de Cristo não é ele. O único mediador entre Deus e os homens é Jesus Cristo e somente Ele pode conceder o perdão por meio da fé. Qualquer sacerdote ou Papa que prometa um perdão plenário está mentindo. Como comungar com a mentira? Além disso Roma colocou centenas de padres para confessar os jovens participantes da jornada. Onde está isso no plano de Deus para o perdão humano? Não está.
 
6) Porque Roma, através do Papa Francisco, está fazendo o que sempre fez: buscando o seu rebanho perdido.Eles querem a todo custo reunir sob o poder do Vaticano os cristãos de todas as ramificações evangélicas. Para tanto transformaram as suas missas em entretenimentos e vestiram seus sacerdotes de pastores americanos ou ministros de louvores. Assim, já está difícil definir diferenças das celebrações evangélicas ou católicas, o povo se confunde. Só não se confunde quem analisa a fé manifestada e não o espetáculo produzido.
 
7) Porque o Papa Francisco continua crendo em Maria como Rainha do Céu e nos santos como mediadores auxiliares de Cristo. E essa doutrina é falsa, quando se opta por crer apenas nas Escrituras Sagradas. Ainda que os evangélicos estejam seduzidos pelo espetáculo, terão que prestar contas com as suas consciências do que estão fazendo ou considerando, uma vez que serão cúmplices dos louvores à mãe de Jesus, coisa que as Escrituras Sagradas jamais solicitaram e estão concordando com a intercessão de santos no auxílio de Cristo. Terão que aceitar as duas outras fontes da fé católica: a tradição e o Sagrado Magistério, o ensino papal e da Santa Igreja. E então? Estamos tendo finalmente a anti-reforma? Viva Roma!
 
8) Porque o cristianismo que prega a salvação pelas obras não é cristianismo bíblico. A doutrina da fé propagada não é aquela que crê na salvação como ato de Deus em favor do homem, mas como pagamento de Deus pela bondade humana. E qual é o homem que é bom o bastante para alcançar a sua salvação? Nenhum. Resulta disso um cristianismo de gente inconversa. Pessoas não regeneradas, pessoas que não têm limite entre o sagrado e o profano (tanto rezam com o Papa como dançam com cantoras seminuas e vivem a duplicidade de alegrias, a religiosa e a pagã). Esse cristianismo não é o de Cristo. O dele regenerava os seguidores, transformando-os em novas criaturas.
 
9) Porque humildade que não renuncia aos títulos papais não é humildade de fato. Ele continua a ser: Vigário de Cristo, Príncipe dos Apóstolos, Pontífice (sacedote pagão), Soberano do Estado do Vaticano, Cabeça da Igreja, Santo Padre. Eu pergunto: que humildade é essa que não renuncia a tudo isso? Onde está o franciscano das sandálias no título que não lhe compete, mas a Cristo? Não. A humildade faz parte do show. Faz parte do personagem. Faz parte da estratégia. E cristãos bíblicos não ouvem a voz do estranho; só ouvem a voz do Bom Pastor. E esse não é Francisco, mas Jesus.
 
Bem, a questão não é pessoal, mas ideológica, teológica, religiosa, bíblica.
 
Francisco pode ser carismático, pode ser agregador, pode ser dócil. Mas Francisco é Papa e como papa ele não é o que pretende ser.
 
Respeito os ecumênicos. Mas sou batista clássico. E ainda sou dos que se converteram para sempre. Com respeito a quem não pensa assim. Mas com convicção naquilo que crê.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

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