quarta-feira, 11 de setembro de 2013

memórias literárias - 108 - O ESCANER E A VIDA ETERNA


108 - O ESCANER
E A VIDA ETERNA



Ganhei um livro maravilhoso, de 1937. Seu conteúdo é estupendo. Sua mensagem, atualíssima. Mas o objeto está em frangalhos. Suas folhas amareladas. Sua encadernação descosturada. Suas páginas estão manchadas e algumas rasgadas. Os cupins consumiram parte da capa e das bordas. O texto está em português arcaico, de difícil compreensão à primeira vista. Mas a mensagem é belíssima.

Então, com cuidado, coloco-o deitado sobre o vidro do escaner do computador. Procuro fazer isso sem danificá-lo mais (e, infelizmente, é impossível, dada a sua extrema deterioração). Com zelo e muito esforço escaneio o seu texto. Aparece no monitor. Uma foto. Um retrato. Um desastre. O texto quase some diante das cores escurecidas das manchas do tempo. Mas tenho um software que trata. Vou melhorando a foto. Retiro as bordas. Retiro as cores que não me interessam. O texto quase desaparece. Realço o preto. O texto retorna. Recorto de forma quadrada. E, após uma dedicação de horas, tenho cada retrato escaneado e legível. Claro, não em completa clareza, mas o suficiente para dizer: é o meu livro no computador, legível e perpetuado! Em seguida procuro transformá-lo em texto. Uso os leitores disponíveis. O resultado é incompleto. Para cada página que o computador tentou ler, uma série de erros de gramática. Entro no texto e conserto linha por linha, atualizando seu conteúdo.

E, após todo esse esforço, consegui transformar o meu velho, desgastado e esquecido livro em um texto preservado, como se tivesse saído da gráfica agora! O objeto, o papel velho, continuará a deteriorar-se, virará pó. Mas o livro, o seu conteúdo, estará preservado perpetuamente, porque o conteúdo não era o papel mas a mensagem escrita, e esta eu transferi.

Assim somos nós diante da velhice do corpo. Não somos apenas corpo em funcionamento; somos alguém, um ser, uma personalidade, uma entidade viva dentro do boneco de pó feito fôlego de vida. O tempo nos desgasta como desgatou o meu livro. Os anos nos desconjuntam, nos travam as pernas, enfraquecem a vista, o coração, faz com que os dentes caiam, os cabelos branquejem ou mesmo desapareçam. A face enruga, a voz afina e enfraquece, os pés esfriam e os músculos perdem a rigidez. É a velhice que chega para todos, indistintamente.

Mas Deus, em Sua infinita graça, nos promete transferir. Sim, transferir o nosso ser que vive dentro desse corpo em entropia. "Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus." (2Co 5:1). Deus irá nos escanear! Sim, tirará de dentro do papel velho todo o conteúdo escrito, a nossa vida, a nossa fé, a nossa experiência, a nossa memória, o nosso ser vivo, e o transferirá para outro, novinho em folha, perfeito, permanente e glorificado! Claro, em duas etapas (após a morte e depois a posterior ressurreição). Mas a promessa é: Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; (Rm 6:5)

Não precisamos temer. O corpo se desgasta mas o nosso ser é eterno. Então, que seja eternamente salvo, resgatado, recolhido pelo poder do nosso Deus, do mesmo jeito que Seu Filho bendito fez, ao morrer no Calvário: E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou. (Lc 23:46).

Meu livro está preservado. E a minha vida também, pois o meu Deus me escaneará para o Seu Reino, para sempre!

Aleluia!

Wagner Antonio de Araújo

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