108 - O ESCANER
E A VIDA ETERNA
Ganhei um livro maravilhoso, de 1937. Seu
conteúdo é estupendo. Sua mensagem, atualíssima. Mas o objeto está em
frangalhos. Suas folhas amareladas. Sua encadernação descosturada. Suas páginas
estão manchadas e algumas rasgadas. Os cupins consumiram parte da capa e das
bordas. O texto está em português arcaico, de difícil compreensão à primeira
vista. Mas a mensagem é belíssima.
Então, com cuidado, coloco-o deitado
sobre o vidro do escaner do computador. Procuro fazer isso sem danificá-lo mais
(e, infelizmente, é impossível, dada a sua extrema deterioração). Com zelo e
muito esforço escaneio o seu texto. Aparece no monitor. Uma foto. Um retrato. Um
desastre. O texto quase some diante das cores escurecidas das manchas do tempo.
Mas tenho um software que trata. Vou melhorando a foto. Retiro as bordas. Retiro
as cores que não me interessam. O texto quase desaparece. Realço o preto. O
texto retorna. Recorto de forma quadrada. E, após uma dedicação de horas, tenho
cada retrato escaneado e legível. Claro, não em completa clareza, mas o
suficiente para dizer: é o meu livro no computador, legível e perpetuado! Em
seguida procuro transformá-lo em texto. Uso os leitores disponíveis. O resultado
é incompleto. Para cada página que o computador tentou ler, uma série de erros
de gramática. Entro no texto e conserto linha por linha, atualizando seu
conteúdo.
E, após todo esse esforço, consegui transformar o meu velho,
desgastado e esquecido livro em um texto preservado, como se tivesse saído da
gráfica agora! O objeto, o papel velho, continuará a deteriorar-se, virará pó.
Mas o livro, o seu conteúdo, estará preservado perpetuamente, porque o conteúdo
não era o papel mas a mensagem escrita, e esta eu transferi.
Assim somos
nós diante da velhice do corpo. Não somos apenas corpo em funcionamento; somos
alguém, um ser, uma personalidade, uma entidade viva dentro do boneco de pó
feito fôlego de vida. O tempo nos desgasta como desgatou o meu livro. Os anos
nos desconjuntam, nos travam as pernas, enfraquecem a vista, o coração, faz com
que os dentes caiam, os cabelos branquejem ou mesmo desapareçam. A face enruga,
a voz afina e enfraquece, os pés esfriam e os músculos perdem a rigidez. É a
velhice que chega para todos, indistintamente.
Mas Deus, em Sua infinita
graça, nos promete transferir. Sim, transferir o nosso ser que vive dentro desse
corpo em entropia. "Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste
tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos,
eterna, nos céus." (2Co 5:1). Deus irá nos escanear! Sim, tirará de dentro do
papel velho todo o conteúdo escrito, a nossa vida, a nossa fé, a nossa
experiência, a nossa memória, o nosso ser vivo, e o transferirá para outro,
novinho em folha, perfeito, permanente e glorificado! Claro, em duas etapas
(após a morte e depois a posterior ressurreição). Mas a promessa é: Porque, se
fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos
na da sua ressurreição; (Rm 6:5)
Não precisamos temer. O corpo se
desgasta mas o nosso ser é eterno. Então, que seja eternamente salvo, resgatado,
recolhido pelo poder do nosso Deus, do mesmo jeito que Seu Filho bendito fez, ao
morrer no Calvário: E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou. (Lc 23:46).
Meu
livro está preservado. E a minha vida também, pois o meu Deus me escaneará para
o Seu Reino, para sempre!
Aleluia!
Wagner Antonio de Araújo
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