quarta-feira, 11 de setembro de 2013

memórias literárias - 112 - A LOUCA HISTÓRIA DE UMA IGREJA

112 – A LOUCA ESTÓRIA
DE UMA IGREJA


Era uma vez uma bela igreja. Seu povo era feliz e possuíam uma estrutura bem harmoniosa. Tinham bons cultos, uma escola bíblica bem freqüentada, um pastor amoroso e música de qualidade. Mas um dia o pastor deixou-a e ela montou uma comissão de sucessão pastoral. Preparam um perfil, encontraram candidatos e escolheram um bem capacitado. Tratava-se de um pastor de boa formação, com bacharelado, mestrado e doutorado em teologia. Marcaram a posse, convidaram toda a coletividade cristã e celebraram o início de seu ministério à frente da igreja.

No primeiro mês ele ocupou-se em pregar dominicalmente sobre a importância da democracia na vida da instituição cristã. Falou sobre a relevância do poder do povo, pelo povo e para o povo e que uma igreja deomcrática dava voz e vez a todos, independentemente de estar ou não fundamentados na Bíblia ou nas doutrinas denominacionais, pois o que caracterizava o povo de Deus era a mais pura e irrestrita liberdade para tomar as suas próprias decisões. À porta da igreja um irmão bem experimentado perguntou ao obreiro:

Pastor, onde fica a Palavra de Deus nesse sistema absoluto que o irmão está propondo? Ela não é a nossa regra de fé e prática?

Irmão – disse o sábio pastor - , a Bíblia é a maior fonte de heresias na história da igreja. Qualquer um pode defender qualquer coisa através de uma leitura equivocada das Escrituras Sagradas. Além disso não temos dúvidas de que certos textos estão comprometidos com a cultura da época. Portanto, maior e mais importante do que a Bíblia e a voz da igreja nas decisões que tomar.

Marcaram-se, então, reuniões para “repensar a vida da igreja”. O pastor chamou toda a liderança para discutir o futuro da instituição e incentivou as pessoas a proporem as suas questões de forma clara e defendê-las com inteligência nas assembléias que se seguiriam. No começo todos estavam acanhados. Mas quando os primeiros fizeram propostas os demais perderam a timidez e colocaram livremente as suas opiniões. Ei-las:

- Eu acho que os cultos deveriam ter espaços para informações sobre profissões. Se a igreja não servir para orientações vocacionais não servirá de nada.

- Eu gostaria que pudéssemos explorar livros espíritas na escola dominical.

- Eu gostaria de trazer os meus animais de estimação para assistir ao culto; afinal, eles são criaturas de Deus.

- Eu proponho que a Ceia do Senhor seja realizada com garapa e mandioca, uma vez que são elementos muito relevantes na cultura brasileira. E que a música a ser cantada seja a MPB, pois tem algumas com letras maravilhosas, como “Como é Grande o Meu Amor por Você”.

Aquele irmão que interpelara o pastor no início de suas pregações, sobre o lugar da Bíblia nisso tudo, estava presente. E então pediu a palavra.

- Irmãos, o que é isso? Vocês estão malucos? Nós temos uma bíblia que julgamos Palavra de Deus! Suas propostas não têm respaldo nas Escrituras!

O pastor, com ares de deboche, interrompeu-o:

- Pois é, irmão, por causa de pessoas como você é que perdemos tanta gente para o mundo. Transformamos a igreja num gueto de santos e impedimos os pecadores de encontrar um lugar de acolhimento e de linguagem inteligível. Faça suas propostas também, mas cuide de defendê-las e encontrar apoio, senão, procure outra igreja tacanha como suas idéias.
 
O povo riu, festejou a firmeza do ministro e continuou a propor.
 
Chegou o dia da assembléia. Eram tantos os assuntos que dividiram a reunião em 3 sessões.

Ao final, aprovaram as seguintes questões:

- Que a Bíblia desse lugar ao Pequeno Príncipe, que era um livro muito mais profundo que as Escrituras.
- Que em lugar do culto tivessem um show de talentos e que dessem por prêmio os instrumentos musicais da banda da igreja.
- Que convidassem médiuns para fazer sessões de terapia espiritual para as famílias;
- Que celebrassem casamentos homossexuais, que investissem no aborto voluntário das adolescentes e na cirurgia de mudança de sexo;
- Que montassem uma ala para acolher seus animais na hora dos cultos e que se celebrasse o culto fúnebre deles, enterrando-os no terreno da igreja com cruz e placas com versículos;
- Que ordenassem 15 ministros, usando todos os títulos disponíveis: pastor, apóstolo, pagé, guru, elder, padre etc;
- Que abolissem o dízimo e fizessem a rifa dos carros da igreja e montassem barracas de beijos para angariar fundos;
- Que demitissem o pastor e encerrassem a igreja por falta de relevância na sociedade contemporânea.
 
Com dificuldade conseguiram um advogado que desse sentido àquelas propostas todas. Harmonizado o texto, registraram em cartório.
 
O resultado foi estonteante. O pastor foi demitido, os bancos foram doados para salões de beleza e a igreja declarou falência, doando sua propriedade para a sociedade brasileira de ateus cristãos.

Por fim, aquele irmão tão retrógrado escreveu numa cartolina pequena um versículo, colocando-o ao lado da placa de “vende-se”, expressando o seu lamento:

À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles. (Is 8:20)

Wagner Antonio de Araújo
 
obs: qualquer semelhança com fatos reais NÃO É merca coincidência...
  

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