terça-feira, 17 de setembro de 2013

memórias literárias - 120 - TRISTE SURPRESA...

120 -
TRISTE
SURPRESA...
 
 
Carlos era o típico crente "meia boca" (regular): ia à igreja, cantava, às vezes orava em público, entregava algum dízimo. Levava uma vida despreocupada, cônscio de que não era isso que o Senhor queria dele.
 
Sua quarta-feira à noite era ocupada pela faculdade. Mas nas férias ele não priorizava ir à igreja. "Tenho direito ao descanso", falava. Sua mãe dizia: "Filho, você precisa colocar o Reino de Deus em primeiro lugar!" Não adiantavam os conselhos da mãe. A Bíblia ele usava bastante, mas na igreja. Sabia achar as referências e acompanhava o sermão. Mas que não se esperasse dele um tempo de leitura bíblica em particular. Ele não tinha tempo. Trabalhava, estudava, namorava, estava muito cansado.
 
Um dia surgiu-lhe uma pequena dor no lado direito da garganta. Ele pensava que era algum nervo, algum tendão, algum mal jeito. A dor persistia e ele incomodou-se com aquilo. Tomava analgésicos e minimizava o desconforto. Mas assim que o efeito passava a dor voltava. Não deu pra fugir: teve que ir ao médico. Este, examinando-o externa e internamente, ficou temeroso. Escreveu algumas coisas no papel, pesquisou no computador e criou um clima de expectativa. "É sério, doutor?" "Carlos, lamento dizer mas terá que fazer uma biópsia. Eu não estou gostando do que vi".
 
Carlos desesperou-se. Tão jovem, nem 30 anos de vida e já com câncer? E a biópsia? Deve ser horrível e dolorosa! Falou com os pais, que ficaram muito preocupados. Marcou o exame e foi fazê-lo. Estava desesperado. Deram-lhe anestesia local e, assim que voltou a si, foi dispensado, devendo aguardar o resultado para a semana próxima.
 
"Meu Deus", orou Carlos, "tenha misericórdia de mim!". Ele orou com vigor e com desespero.
 
Na semana seguinte passou no laboratório, pegou o exame e levou ao médico. Este, ao abrir, fez cara de desolação. Carlos arrepiou-se. "É grave, doutor?" "Sim, Carlos. Você está com câncer. Vamos torcer para não ter metástase. Tire uma semana de férias e venha na próxima semana para iniciar exames e quimioterapia.".
 
O mundo caíra para Carlos. O que fazer agora? Para ele isso só acontecia para as outras pessoas, não na sua própria vida. De repente tudo muda e agora ele está em prantos. Tantos planos, tantos sonhos, tanta energia, tudo em vão!
 
Carlos pensou: "Hoje é terça-feira e tem reunião das senhoras. Eu irei. Vou pedir para que orem por mim". E foi mesmo. Sua mãe estava lá e estranhou o filho. Ele nunca fora num dia de semana. Mas participou e pediu em lágrimas as orações. No dia seguinte ele pensou: "hoje tem culto de oração; não posso perder. Vou buscar ao Senhor!" Ao chegar à igreja o pastor alegrou-se, mas logo tornou-se apreensivo, pois o caso de Carlos parecia muiito grave. Oraram por ele. No fim do culto Carlos foi para casa, trancou-se no quarto e decidiu ler a sua bíblia. Leu com vontade, com força, com vigor. Leu João inteirinho. Saboreou cada versículo. Havia momentos em que esquecia a enfermidade; de repente, como se a dor lhe sussurrasse, ele se lembrava do câncer e o suor gelado lhe invadia. Ele se ajoelhava e clamava, pedindo por misericórdia.
 
Na quinta-feira, depois do trabalho, soube que um grupo de evangelismo estaria reunido num lar. Ele foi também. E após o encontro decidiu novamente ler a sua bíblia. Desta vez leu 4 epístolas de Paulo. Como eram maravilhosas! "Pena que já é tarde demais...", pensava ele.
 
E assim passou-se a semana. Quando ele se lembrava dos exames e da quimioterapia sentia o mundo cair, sentia a morte bem de perto e pensava: "Por que não busquei a Deus como deveria? Senhor, tenha piedade de mim!"
 
Na segunda-feira às oito da manhã Carlos já estava na recepção do hospital. Pegou a senha e aguardou a sua vez. Ao ser chamado foi apresentar-se ao médico. Este, ao vê-lo, abraçou-o e perguntou como estava. Carlos disse que estava desesperado. O médico então lhe falou: "Carlos, nem sei como dizer isso a você. Mas tivemos um sério problema no HD do computador do laboratório. Eles inverteram os resultados e confundiram os nomes. O seu resultado não era aquele. O seu está aqui nas minhas mãos. Você não tem câncer; só está com uma irritação fácil de tratar. Gostaria que nos desculpasse..."
 
Carlos começou a chorar copiosamente. O próprio médico emocionou-se com ele. De tanto chorar ele ajoelhou-se e orou: "Senhor, muito obrigado! Aprendi a lição! Obrigado pela chance de recomeçar do jeito certo! Ajuda a pessoa que está com o câncer registrado na ficha que estava comigo, para que também confie em Ti. Em nome de Jesus, amém!"
 
Carlos estava feliz! Ligou pros pais, pra namorada e para os amigos. Todos ficaram felizes por ele! Marcaram uma comemoração na pizzaria próxima da igreja. Foram lá e celebraram. Quando chegou em casa, cansado, feliz, olhou para a Bíblia e pensou: "ah, bíblia, agora você pode esperar; tenho muuito tempo para você; a oração também poderá esperar; já não estou em apuros como antes". E foi ao banho. Enquanto tomava banho, o Espírito Santo trouxe-lhe à lembrança de forma dura e bombástica a mão gigante que escrevia na parede, nos dias do profeta Daniel:"tequel: Pesado foste na balança, e foste achado em falta." (Dn 5:27). Em seguida lembrou-se da frase do Senhor ao homem curado no tanque de Betesda: "Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior." (Jo 5:14). E para terminar o Espírito Santo o fez recordar da ameaçadora realidade: "Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo." (Hb 10:31). Carlos percebeu que o que pensara era idéia de Satanás, visando esfriar-lhe novamente a fé pelo aparente fim das dificuldades. O inimigo queria separar-lhe da comunhão, levando-o a buscar a Deus por puro interesse, buscando apenas bênçãos, uma troca de favores. Se aflito ou com problemas, Deus é o socorro eficaz; mas finda a tempestade, Deus volta para a prateleira de remédios e ao lugar medíocre e esquecido da ingrata alma humana...
 
Após o banho ficou no seu quarto, de joelhos, buscando a presença de Deus e fez com Ele um propósito: "Senhor, sou um pecador. MAIS PERTO QUERO ESTAR DE TI, INDA QUE SEJA A DOR QUE ME UNA A TI". Dê-me a graça de Te servir com tanto vigor agora quanto te servi quando pensei que estava para morrer. Que eu não precise de apuros para cumprir o meu compromisso de colocar-Te em primeiro lugar de minha vida. Que eu não seja ingrato para com a Tua graça demonstrada em meu favor, primeiro em me salvar, e agora em me curar e tirar o desespero. Que eu Te seja grato. Em nome de Jesus. Amém".
 
Carlos venceu. Não sem dificultades, pois as tentações foram muitas. Muitas vezes as diversões, os prazeres, as banalidades e frivolidades lhe seduziam momentaneamente. Mas ouvia sempre os alertas do Espírito Santo em forma de lembranças da Palavra, ou de admoestações dos irmãos em Cristo e dos pais amorosos e corria novamentel para uma vida de consagração ao Senhor.
 
Que o exemplo desse jovem sirva e estímulo a todos os leitores que também andam às raias dos conflitos entre colocar Deus e o Seu Reino em primeiro lugar ou os desejos pessoais do coração.
 
O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. (Pv 28:13)
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel, Carapicuíba, SP
 

obs: ficção para fortalecimento da fé, porém, baseada em fatos reais.

Um comentário:

  1. Mto obrigado pastor por esta historia que o senhor,inspirado pelo Espirito Santo,aqui postou...Estou meio perdido..Talvez pela distancia da Casa do Pai por estar no servico militar e nao ter muito tempo para ir a igreja..Mas lendo essa historia eu acabei me identificando muito e percebendo a necessidade de voltar...Agradeço a Deus pela sua vida e pelo seu ministerio..Entrei no seu blog meio que por acaso..Nem lhe conhecia..Deus sabe oque faz..Ele e Fiel!!Que Cristo lhe abencoe cada dia mais e mais..Abraço!

    ResponderExcluir

memórias literárias - 1477 - CHORA, Ó RAQUEL...

  CHORA, Ó RAQUEL...   1477   Quando o Senhor Jesus Cristo fez-Se homem, nascendo do ventre de Maria, Herodes o Grande desejou matá-Lo...