domingo, 19 de novembro de 2017

memórias literárias - 558 - EU LUTO! MAS NÃO PELO SENHOR...

EU LUTO!
MAS NÃO
PELO
SENHOR...

558
Tenho visto muitas lutas por aí, no meio dos evangélicos.
Há os que lutam por (São) Calvino, como se este fosse o Redentor. É Deus no Céu e Calvino na Terra. Se algo não estiver em suas Institutas, se algo sair do esquema de seu pensamento monergista-fatalista, então é um grande anátema. Ai de quem ousar contra o calvinismo, a reforma (que nem de muitos foi!), as confissões de fé antigas dos batistas particulares ou do catecismo reformado! Seus jardins só têm tulipas exalantes...
Há os que lutam por Armínio. Muitos nem sabem quem foi ele, mas afirmam categoricamente serem arminianos. Buscam a salvação em Jesus na absoluta liberdade de quem pode aceitar, rejeitar, aceitar de novo, rejeitar novamente, etc. Tecem ousadas asseverações contra os calvinistas e constróem sua híbrida teologia onde Deus não é totalmente soberano. E zombam dos que crêem na "heresia calvinista".
Há os que são ultrafundamentalistas. Um destes chegou a brigar com outro, porque disse que não sabia para onde havia ido sua filhinha natimorta. Um crente dissera-lhe que o sangue de Jesus a salvava, mas ele protestou, dizendo que se ela não fosse uma predestinada, estaria perdida... São defensores de textos gregos específicos e de traduções específicas, incapazes de ver qualquer virtude em alguma outra que não seja exatamente de acordo com os seus teólogos americanos escolhidos. Se presbiterianos fundamentalistas, são os remanescentes. Se batistas, são os ultraindependentes. E por aí vai.
Cada um pode e deve esposar e defender a sua opinião e posição. Eu, por exemplo, sou um batista clássico. Defendo a maneira de ser e de acreditar do tipo batista até a década de 80, quando a minha denominação mudou os seus paradigmas interpretativos e o seu pessoal diretivo. Sou defensor do culto cristocêntrico e de uma hinódia tradicional. E milito nestes e em outros ideais. Mas...
Mas o que?
Mas temo que o Senhor tenha ficado esquecido em muitas destas lutas por opiniões de Paulo, Apolo, Pedro ou de cristãos. Estamos tão ocupados com a festa de aniversário que nos esquecemos do aniversariante. Estamos tão envolvidos com o sistema que nos esquecemos do propósito para o qual ele foi construído. Estamos tão viceralmente embuídos de um ideal de fachada que deixamos o principal de lado: a nossa luta é pelo Senhor, pelos seus valores, pelo Seu Reino, pela Sua vontade. Simplificando: deixamos de viver verdadeiramente a fé que propagamos. A prédica não é praticada. Vida cristã verdadeira é luta. E luta contra quem?
Luta contra a carne, o pecado, as tentações que tenazmente nos assediam todos os dias. Luta contra as armadilhas que nos colocam num abismo quase sem volta. Luta contra o assédio da mídia, da vã filosofia, dos adultérios sexuais, das falsas religiões. Luta contra o idealismo da auto-ajuda que facilmente nos faz deixar as fileiras do Reino e lutar pelas fileiras da carne e das suas concupiscências. Luta contra o secularismo e o evangelho social.
Luta contra o Diabo, Satanás, o acusador. Luta contra as hostes espirituais da maldade, contra o arqui-inimigo do evangelho. Luta contra o príncipe deste mundo, que domina a mente e coração dos homens. Luta contra as influências do maligno esparramadas na mente de nossos irmãos, de nossos familiares e de nós mesmos. Luta contra as suas tentações tão presentes, que querem ousar tirar Deus do trono de nossas vidas e colocar o nosso ego ou o próprio Satanás.
Luta contra o ceticismo. Este demônio sorrateiro, que deseja transformar o evangelho e a nossa fé num mero emaranhado de códigos e de valores que nada valem. Assim, conquanto sejamos lutadores de princípios acima descritos, deixamos de viver para o Senhor com fé, com discernimento, com afabilidade, com sensibilidade. Não oramos mais, não cremos mais, não temos fé naquilo que ousadamente asseveramos.
Então nos tornamos o contrário de nossas defesas. Dizemo-nos cristãos, mas mentimos. Dizemo-nos calvinistas, mas devemos dinheiro e satisfação ao próximo. Dizemo-nos arminianos, mas nos declaramos vítimas das línguas ferinas. Dizemo-nos fundamentalistas, mas negamos a eficácia dos princípios basilares do cristianismo. Nos consideramos clássicos, mas buscamos brechas que nos deixem respirar sem qualquer canga no pescoço. E o último pensamento que se nos apresenta é este: "E o Senhor? O que tenho feito de Jesus em minha vida?"
É aqui que a luta tem que ser alterada. Não sou eu quem devo fazer de Jesus alguma coisa. Eu devo entregar-me em Suas mãos e dizer: "Senhor, a luta é Tua, a batalha é Tua, Sou Teu servo, guia a minha vida e perdoa as minhas faltas. ". Preciso consertar o que o mal testemunho levou: se o meu próximo tiver um dedo para me apontar, eu, ao invés de jogar-lhe dez pedras, deverei buscar o que há de errado em mim e consertar-me, porque, se quero ser ícone de alguma coisa, que o seja de humilde servo do Deus vivo.
Porque a outra bandeira, a da opinião, só terá credibilidade se eu, como sustentador de opinião específica, tiver testemunho de Cristo para chancelá-la, carimbá-la e validá-la. E só o Senhor em nossa vida e testemunho pode fazer isso. Senão eu serei um grande modelo, mas a não ser seguido!
Quando eu tiver o Senhor como General e a Sua luta como a minha luta, a minha bandeira será levada com maior facilidade (ou trocada por uma que melhor represente a vontade do Senhor).
Quero lutar, mas a luta do Senhor. Quero lutar para ser um cristão na prédica e na prática. Que Deus me ajude!

Wagner Antonio de Araújo

Um comentário:

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